Ônibus foi incendiado na última terça-feiraReginaldo Pimenta/Agência O Dia
"Não podemos achar que bandido faz parte da paisagem do Rio de Janeiro.”
Essa frase do comentarista de segurança Marcelo Carregosa me fez pensar a tarde toda. Apresento um programa hard news há mais de uma década. Como repórter, então, nem vou somar, já vi de tudo.
Mas a manhã da última terça parece que me massacrou. Já subi favela antes da "pacificação", durante e depois. Fiz coberturas de tiroteios, barbáries cariocas.
O que tem de diferente de terça? O SBT Rio mostrou ao vivo e com imagens.
Em meio ao caos, o repórter Jackson Silva entrou a poucos metros da Avenida Brasil e um homem trêmulo com policiais vinha em sua direção; um motorista sequestrado sendo resgatado do meio da favela.
Num outro ponto, pelas lentes de Marcelo Dóres que ficou de plantão na Linha Amarela, um bonde armado saiu da moita da Vila do João na espreita e fechou a via, jogando garrafas em motociclistas e motoristas.
A lente dele ia para todos os lados. Em motos e a pé, eles foram flagrados sequestrando os dois trabalhadores que conseguiram sair quando o caveirão da polícia chegou.
Era tanta informação que eu, acostumada a ouvir vozes pelo ponto, não consegui ouvir mais nada ao pegar o meu celular: "Isabele, pode confirmar, o sargento do Bope não resistiu".
Não quis dar o nome, meu medo era a família ainda não ter sido avisada. Ao mesmo tempo, pensava em todos os parentes dos PMs do Bope… "E se for o meu?": eu imagino que pensavam isso.
Enquanto isso, Bruna Carvalho conversava com o motorista do ônibus incendiado por bandidos. Jackson voltava do local onde ele havia confirmado com moradores: ali o PM perdeu a vida e o outro foi alvejado na covardia de quem, em áudio, manda na lata: “Carrega logo esse pente, p….”
Um portão de lata perfurado igual peneira. Tudo isso ali. As três vias expressas fechadas.
Vagabundo matou um "caveira", um agente de elite, a 100 metros da Brasil.
Como pedir explicação do porquê a polícia estava ali? Estava porque não estar é ganho de território e desespero e exploração de morador.
Polícia não pode tratar morador nunca como vagabundo, erro que só favorece as facções que exploram território e seu povo.
Por que esconderijo de vagabundo? Licença jornalística porque tinha criminoso “importado” de Minas. É importante explicar para o STF, sim, a presença da polícia ali.
Avanço de território, treinamento de guerrilha em prática e bolha blindada carioca que não só abriga membros de facções como expõe o morador a toda atrocidade.
Não pode fazer parte de uma paisagem, não pode ser a comunidade.
Não é guerra. É terrorismo.
Não é guerra. É terrorismo.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.