Nuno 6 dez - ARTE KIKO
Nuno 6 dezARTE KIKO
Por Nuno Vasconcellos
Em um dos primeiros pronunciamentos feitos depois da vitória de domingo passado, o prefeito eleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, prometeu compensar o prejuízo da rede municipal de Educação durante a pandemia do coronavírus com um programa de emergência que fará em dois anos o que normalmente se faz em um. O compromisso foi reafirmado na quarta-feira passada à repórter Buna Fantti, de O DIA, na primeira entrevista exclusiva concedida por Paes na condição de prefeito eleito. A questão, agora, não é saber se ele dará ou não dará conta de cumprir uma meta tão ambiciosa. Paes não tem escolha: ou ele acerta ou acerta.
O carioca sabe a gravidade da crise sanitária causada pela covid-19 e sente suas consequências. Sabe que as finanças do município estão em frangalhos e que a administração foi submersa pelo tsunami de incompetência que a varreu nesses quatro anos. E foi justamente para resolver esses problemas que Paes foi escolhido. Para dar conta de tudo, ele terá que fazer mais do que conseguir dois anos em um na Educação, na Saúde, na zeladoria e na administração do funcionalismo. Terá que fazer 40 anos em quatro. Do contrário, verá desaparecer em pouco tempo o prestígio que recuperou ao ser o mais votado em todas as zonas eleitorais da cidade.

DEBAIXO DO TAPETE — O desafio de Paes é semelhante àquele que o ex-presidente Juscelino Kubitschek assumiu em 1956, quando prometeu fazer 50 anos em cinco para desenvolver o Brasil. Só que, no caso do prefeito, a dificuldade é ainda maior. JK abriu estradas, construiu hidrelétricas, implantou a indústria automobilística e transferiu a capital para Brasília sem se preocupar com dinheiro. Paes encontrará o cofre dilapidado por gastos mal feitos e o orçamento comprometido com prioridades mal definidas. Terá que tirar dinheiro da cartola para fazer o que precisa sem desrespeitar os limites da legislação.
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Para piorar a situação, o prefeito eleito sequer poderá se queixar de falta de dinheiro: isso seria repetir o discurso de Marcelo Crivella. Ao se lançar candidato, ele já sabia da situação deplorável da prefeitura e foi justamente por considera-lo capaz de resolver o problema que o eleitor o escolheu para administrar a cidade.
Conseguir recursos para fazer o que precisa não será fácil, mas terá que ser feito. A missão de raspar o fundo do cofre e estabelecer as novas prioridades para o uso do dinheiro do povo será do deputado Pedro Paulo, do DEM — que trocará o exercício do mandato na Câmara Federal pela tarefa espinhosa de encontrar recursos onde eles não existem. Será dele a tarefa de conseguir a verba para colocar a Saúde e a Educação para funcionar em novo ritmo já no primeiro dia na nova gestão. Também será preciso manter em dia os salários dos funcionários, varrer as ruas, desentupir as galerias pluviais e tomar providências de emergência para remover o lixo que, certamente, foi varrido para debaixo do tapete municipal nesses últimos quatro anos. 
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CRISE E INCOMPETÊNCIA — As providências iniciais de Paes buscarão corrigir as distorções mais graves criadas por Crivella. O problema, no entanto, é que evitar o desabamento do edifício não basta para devolver ao carioca a autoestima que ele perdeu com a escolha mal feita de quatro anos atrás. Para fazer os 40 anos em quatro, ele terá que avançar e, para isso, terá que olhar com atenção especial para as áreas capazes de gerar os empregos necessários para o carioca deixar de sofrer os efeitos da recessão causada pela crise sanitária e pela incompetência.
Paes e Pedro Paulo terão, como já foi dito aqui, que trabalhar em parceria com o governo federal e o estadual para ampliar sua capacidade de investimento. Terão que se articular politicamente para ampliar o grau de endividamento do município com empréstimos que só poderão começar a ser amortizados depois que a arrecadação municipal voltar a crescer. Terão que atrair investidores para projetos de parceria e, também, criar condições mais favoráveis para que as empresas prefiram investir no Rio de Janeiro e não em outro lugar do país. Precisarão, finalmente, transformar aquilo que tornou a cidade conhecida no Brasil e no mundo numa fonte de renda para a população.
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Nesse cenário, a área do Turismo, que ficará sob a responsabilidade de Cristiano Beraldo, do PSDB, terá importância fundamental. Caberá a ele conduzir o relacionamento com a rede de hotéis e com os restaurantes e definir em parceria com o governo estadual as políticas que tragam de volta para o Rio o turista que, nos últimos anos, escolheu destinos que lhe proporcionassem mais segurança e um atendimento mais respeitoso.
Mais uma vez, o cenário é complicado. E pela mesma razão que não pode se queixar de falta de dinheiro, Paes também não poderá reclamar da falta de tempo para preparar as medidas que adotará ao assumir a prefeitura: ele já sabia que seria assim. Esta coluna foi a primeira a afirmar, ainda no dia 24 de maio desde ano, que a pandemia do coronavírus forçaria o adiamento “das mais importantes eleições municipais da história do Rio de Janeiro e do Brasil”. A data ainda não estava definida mas, àquela altura, já estava claro que haveria necessidade de empurrar a data um pouco mais para a frente.
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Ao contrário de seu antecessor, que teve dois meses e meio para montar seu governo, Paes terá apenas um mês para escolher sua equipe e definir suas prioridades. E terá que dar conta de tudo. Afinal foi para isso que foi escolhido. A boa notícia em meio a tanto desafio é que, se conseguir resolver o problema do Rio se mostrará um político à altura de qualquer desafio — e isso, no futuro, poderá levar Paes a gabinetes ainda mais destacados. Não por ter sido eleito com folga, mas por ter feito o que dele se esperava.

(Siga os comentários de Nuno Vasconcellos no twitter e no instagram: @nuno_vccls)