O estado e o município deixarão suas dificuldades para trás e voltarão a crescer se as prioridades forem bem definidas e todos souberem para onde estamos indo
Por Nuno Vasconcellos
Que o Rio de Janeiro precisa de uma ação firme e coordenada para se livrar do entulho acumulado após anos de má fé ou de incompetência de seus governantes é algo de que ninguém duvida. Que as principais lideranças políticas, sociais e empresariais precisam se unir para encontrar, o mais depressa possível, a solução para os problemas que ameaçam a sobrevivência do estado e do município é cada vez mais nítido. Também é evidente que as forças locais, por mais imprescindíveis que sejam, mas não são suficientes para tirar o Rio da crise profunda em que se encontra.
É preciso, em primeiro lugar, atrair para a causa fluminense a simpatia do governo federal e dos investidores privados. E dar a eles a segurança de que os recursos alocados no Rio serão bem utilizados e farão a diferença mais adiante. O primeiro passo para isso é definir as prioridades e escolher o caminho. O Rio precisa com urgência traçar um Plano Estratégico e mostrar como pretende alcançar suas metas.
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Esse caminho já foi testado com sucesso em outras cidades problemáticas do mundo. É preciso que aconteça no Rio, o que aconteceu em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos: a disposição de dar vida a uma obra que parecia impossível. Ali, as empresas contratadas para elaborar o Plano Estratégico tinham como meta transformar uma faixa inóspita de deserto numa cidade moderna e pujante. Conseguiram. No Rio, a questão é bem mais complexa: a cidade está ocupada e as prioridades devem levar em conta a necessidade de se reduzir as desigualdades sociais, dar vida digna a toda a população e oferecer serviços de qualidade a todos os cidadãos.
Apenas um Plano Estratégico com metas claras e passos bem definidos como houve, por exemplo, em Seul, na Coréia do Sul, conseguirá promover uma intervenção ampla e, ao invés de piorar, melhorar a vida dos moradores. É preciso, da mesma forma, levar em conta que as pessoas que hoje estão marginalizadas precisarão de empregos dignos e em grande quantidade. O que fazer? Um bom ponto de partida é se apoiar em tudo que o Rio construiu de bom ao longo de sua história e, a partir daí, traçar o caminho que o levará a superar suas dificuldades. Isso será bom para a cidade, para o estado e para o país. Isso mesmo! Se seguir esse caminho, o Rio deixará de ser visto como um problema e passar a ser uma solução para o país. Lembrando a frase célebre do ex-presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, ao invés de nos perguntarmos o que o Brasil pode fazer pelo Rio, será possível mostrar que um Rio saneado e saudável pode fazer para ajudar o Brasil.
CABEÇA E CORPO — Outro passo importante será definir ações capazes de dinamizar a Economia do Rio e transformá-lo em referência para o Brasil. Um bom caminho para isso é resgatar uma das mais antigas vocações da antiga capital da República e fazer dela o ponto de partida para a recuperação da Economia local. Uma série de órgãos públicos, por mais que tenham a cabeça em Brasília, conservam seu corpo no Rio — numa situação que, pela falta de clareza e pela sobreposição de estruturas, acaba por encarecer o custo da máquina federal. Por que não trazê-los de volta?
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Apenas um exemplo: oficialmente, a sede do BNDES fica em Brasília. Na prática, porém, o banco funciona no edifício da Avenida República do Chile 100, no Centro do Rio. A questão é: por que não reconhecer a vocação do Rio para o serviço público e transferir parte da administração federal para a antiga capital?
Não! Ninguém está propondo retornar com a sede do governo para o Palácio do Catete nem desalojar o governador Cláudio Castro e devolver o Palácio Guanabara à Presidência da República. Da mesma forma, não pode passar pela cabeça de ninguém a ideia de trazer os deputados e senadores de volta para o Rio. O que está sendo sugerido é que alguns órgãos selecionados tenham suas sedes e seus centros de decisão oficialmente transferidos para o Rio. Quer um exemplo?
SEGUNDA SEDE — Veja o caso do Banco Central. Na quarta-feira passada, por 339 votos a favor e 114 contrários, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que dá autonomia à autoridade monetária do país. Sendo autônomo, por que ele precisa ficar no Planalto Central? Por que não transferir para o Rio a sede do BC independente? Por que não trazer, no rastro desse movimento, as sedes do Bando do Brasil, da Caixa e de outras instituições para o Rio de Janeiro e estimular, assim, a vocação da cidade para os serviços financeiros?
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Oficializar a condição do Rio de Janeiro como a segunda sede do governo federal exigiria que uma série de alterações fossem feitas, por exemplo, na área de Segurança. Sim: um Rio livre dos problemas mais graves, sobretudo no que diz respeito à criminalidade, seria a grande demonstração de que o Brasil tem solução.
Os benefícios seriam enormes. Isso dinamizaria o turismo de negócios, ativaria o mercado imobiliário e reforçaria ainda mais o setor de serviços na cidade. E permitiria que aquilo que a cidade tem de melhor fosse compartilhado com os outros estados do Brasil. Em resumo, não basta apenas reclamar que a situação atual está ruim. É preciso, também, mostrar que a solução existe e o caminho que teremos que percorrer para alcançá-la.
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