Todos queremos voltar ao normal, mas ainda temos que aprender a lidar com os vírus e as bactérias que representarão ameaças cada vez mais reais daqui por diante
O risco ainda não passou! A cada dia, novas variantes do coronavírus podem surgir para nos alertar que, por mais que queiramos apressar a volta à normalidade pré-pandemia, ainda será necessário esperar algum tempo até que consigamos recuperar tudo o que nos foi tirado nos últimos meses. A ameaça que enfrentamos foi séria, ainda não desapareceu e, talvez, nunca desapareça por completo.
A pandemia nos tem cobrado um preço elevadíssimo — seja pelas vidas que tira, seja pelos empregos e negócios que destrói, seja pelos projetos que não podem ser implementados devido à necessidade de isolamento social e de controle sanitário. Ou, ainda, pela exposição dos erros cometidos por autoridades que trataram a pandemia com medidas que pareciam mais voltadas para os próprios interesses do que para o bem-estar da população.
Tudo isso é verdade. Mas, seja como for, chegou a hora de se olhar para a frente e de fazer tudo o que estiver a nosso alcance para apressar a busca da solução. E de tomar todos os cuidados que se fizerem necessários para nos preparar para o retorno à normalidade. Nessa hora, a orientação deve ser dada pela “entidade” mais citada e, ao mesmo tempo, mais maltratada nesse processo: Ciência.
Nos últimos meses, muita gente no Brasil se valeu da Ciência para defender aquela que se mostrava como a única saída capaz de nos proteger do vírus e nos livrar da pandemia. Trata-se, é claro, da vacina. Quem a defendeu e lutou por ela estava corretíssimo. A questão, no entanto, é que, por mais que ela seja importante para proteger os vacinados e prevenir a disseminação de vírus letais como o da covid-19, ela é incapaz, sozinha, de evitar uma tragédia.
Convém repetir para deixar claro o que acabou de ser dito: a vacinação é fundamental. Sem ela, a tragédia que a humanidade enfrenta — e que, no caso do Brasil, já custou cerca de 580 mil vidas — poderia ser infinitamente maior. Sozinha, porém, ela é insuficiente para impedir a disseminação das doenças causadas por esse ou por qualquer outro vírus. Da mesma forma, outros medicamentos são incapazes de, sem o apoio de medidas adicionais, proteger a humanidade de outros inimigos invisíveis como as bactérias, os fungos e os vermes.
SÉCULO DAS PANDEMIAS — Alguns especialistas asseguram, diante dos danos causados por um vírus que era desconhecido há menos de dois anos (e que já tirou cerca de 4,5 milhões de vidas no mundo inteiro), que a covid-19 é apenas a primeira grande catástrofe deste que poderá passar à história como “O Século das Pandemias”. Cunhada pelo médico sanitarista Rodrigo Oliveira, secretário de Saúde do município de Niterói, a expressão se refere não apenas aos riscos de que novas doenças transmissíveis surjam a qualquer momento como, também, à necessidade de que se tomem os cuidados necessários para reduzir (ou, de preferência, evitar) seu efeito devastador.
A pergunta é: o que é possível fazer agora para se evitar problemas que, justamente por ainda serem desconhecidos, nem conseguimos pressentir de onde virão? Ou, em outras palavras, como lidar com ameaças que ainda não sabemos quando chegarão e que forma terão? A resposta a essa pergunta está justamente na palavrinha maltradada, mencionada ainda há pouco: a Ciência!
Quando se fala de Ciência — ou de cientistas —, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a de uma pessoa vestida com um jaleco branco, que conduz suas pesquisas na solidão de um laboratório. Rodeada por equipamentos caros e sofisticados, ela tenta explicar suas descobertas com palavras nem sempre compreensíveis para as pessoas comuns. Isso, claro, é um estereótipo e não há nada de errado com ele.
O problema é que a Ciência não se limita a isso. Pelo contrário: ela envolve, também, um conjunto de procedimentos e de materiais bem mais simples e acessíveis que, utilizados da maneira correta, ajudarão a salvar milhões de vidas daqui por diante.
Um trabalho bem feito de limpeza, bem como a higienização regular de ambientes de grande fluxo ou de presença de pessoas — como as estações do transportes públicos, as repartições, os teatros e cinemas, as delegacias de polícia e os presídios, para mencionar apenas alguns exemplos óbvios, além de causar boa impressão pode salvar vidas. Por uma razão muito simples: esses procedimentos matam os microrganismos antes que eles penetrem e causem danos ao organismo humano.
Além disso, outras providências precisam ser tomadas para se evitar que, se a vacinação e a higienização falharem (o que é possível), um sistema deve ser acionado para identificar a origem do problema e não deixar que aqueles que estiverem eventualmente contaminados não entrem em contato com pessoas saudáveis. Esse cuidado, como a pandemia atual deixou claro, é fundamental para se impedir a disseminação da doença.
A VEZ DA CIÊNCIA — Sistemas capazes de atuar nessas duas frentes — a da higienização e a do monitoramento — estão disponíveis e são relativamente baratos, sobretudo diante dos benefícios que são capazes de gerar para a sociedade. Qualquer empresa pública ou privada, de grande ou de pequeno porte, com muitos ou poucos colaboradores, conta com um serviço de limpeza e dispõe de profissionais que podem, perfeitamente, ser capacitados a adotar procedimentos mais seguros.
Isso vale para qualquer ambiente — dos mais expostos à presença do público até aqueles que, pela natureza de sua atividade, não são abertos a qualquer pessoa; mas, mesmo assim, continuam sendo focos potenciais de disseminação de doenças. Entre esses ambientes estão os presídios.
De acordo com dados do próprio sistema prisional, 67% das mortes que ocorrem nas penitenciárias e nas cadeias de todo o país são causadas por doenças transmissíveis, contraídas dentro das próprias unidades penais. Elas expõem ao risco não apenas os detentos, mas, também, os guardas, os funcionários, os advogados e os prestadores de serviço. A mesma tecnologia utilizada para mantê-los mais limpos e protegidos, como já vem acontecendo, pode ser estendidas a outros equipamentos públicos.
Manter limpos e sempre higienizados os corrimãos das escadas nas estações do metrô, as barras de segurança dos coletivos, as maçanetas das portas das repartições, os canteiros de obras, os banheiros públicos ou qualquer lugar onde pessoas se aglomerem ou por onde tenham que transitar é eficaz. Se as pessoas que transitam por esses ambientes estiverem vacinadas, melhor. Se o monitoramento da saúde da população for constante, mais positivo ainda. Com isso, ou seja, com o uso da Ciência em toda sua extensão, talvez, não tenhamos que parar toda a Economia na próxima vez que algum vírus surgir para assustar o país inteiro.
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