Cartazes foram deixadas na porta do Centro Universitário de Valença, local onde ocorreu o feminicídio - Foto enviada por manifestante
Cartazes foram deixadas na porta do Centro Universitário de Valença, local onde ocorreu o feminicídioFoto enviada por manifestante
Por Sergio Gustavo
O protesto motivado pelo desejo de que justiça seja feita no caso do feminicídio de Mayara Fernandes foi marcado por homenagens à vítima e caminhada que percorreu as ruas de Valença, cidade onde o crime foi cometido ontem (27) pelo PM Janitom Celso Rosa Amorim. Conforme informou O Dia, o protesto começou às 16h na Rua dos Mineiros, no centro da cidade. Várias mulheres se revezaram no microfone contando relatos e experiências vividas em razão do machismo estruturante da sociedade. "O feminismo nunca matou ninguém, o machismo mata todos os dias", disse uma delas. Em seguida, as pessoas saíram em passeata pela cidade gritando por justiça e transformações. "A nossa luta é todo dia, mulher não é mercadoria", cantavam as manifestantes, em coro. O ato terminou na porta da UNIFAA, instituição de ensino onde aconteceu o crime. Após homenagens, cartazes foram deixados na frente do centro universitário. Ao longo de mais de duas horas e meia, cerca de 300 pessoas participaram do protesto. Entre as organizadoras da manifestação esteve o Coletiva Clementinas.
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
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Editada em 2015, a Lei do Feminicídio alterou o artigo 121 do Código Penal, incluindo o crime de ódio ao feminino como circunstância qualificadora e tornando-o crime hediondo. A antropóloga Marcela Lagarde alerta que o feminicídio "constitui o ponto culminante de um espiral de violência originada na relação desigual entre homens e mulheres na sociedade patriarcal". Em trabalho acadêmico, Mariana Antônia Santiago ressalta que embora o termo feminicídio seja historicamente recente "dá nome a uma prática muito antiga", e que "o patriarcado, no qual o machismo se inscreve, desenvolveu formas as mais variadas de violência contra a mulher, incluindo a violência simbólica, descrita por Pierre Bourdieu".
Dados relativos ao primeiro semestre deste ano mostram crescimento de 1,9% nos casos de feminicídio no Brasil em comparação com o mesmo período de 2019. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado em outubro, 648 mulheres foram assassinadas em crimes de ódio por gênero entre janeiro e junho de 2020. Ao longo do ano passado inteiro, 1.326 mulheres morreram vítimas de feminicídio no país, número 7,1% maior que o registrado em 2018. O Anuário completo de 2019 revela que 89,9% dos crimes foram cometidos pelo companheiro ou ex-companheiro. O dados mostram, ainda, que 66,6% das mulheres vítimas desse tipo específico de crime de ódio eram negras, e a maioria (56,2%) tinha entre 20 e 39 anos.