OPINA15ABR VALE ESTA - ARTE KIKO
OPINA15ABR VALE ESTAARTE KIKO
Por Luís PimentelJornalista e escritor

Rio - Último general presidente que a ditadura militar (hoje tão elogiada nas altas esferas do poder) nos fez engolir, João Baptista Figueiredo, também era um especialista em caneladas. Depois de ter declarado que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo, confessou que "daria um tiro no coco" se tivesse que sobreviver com um salário mínimo, e que ia prender e arrebentar quem não aceitasse a (então inevitável) abertura política.

Figueiredo, que justificava nossa máxima "quem tem ..* tem medo", era um oficial de cavalaria em cargo de intendência. Que nem o atual capitão, campeão em rejeição (rimas involuntárias), que além de exaltar os maiores torturadores de nossa História, brada pelas canelas ocas que aqui jamais tivemos golpe militar ou ditadura (o que nem os maiores ditadores foram capazes de negar).

Enquanto isso, em nosso estado (de sítio), onde o governador recomenda mirar na cabecinha e apertar o gatilho, um trabalhador (músico profissional e segurança de uma creche-escola) é fuzilado por agentes públicos, do Exército, dentro do próprio carro, acompanhado de toda a família, a caminho de um inocente chá de bebê. Foram 80 tirambaços, todos agora alojados no coração do Brasil.

A pergunta que fica martelando (mas não chega aos ouvidos do governador nem do presidente) é:

"Por que interromperam os nossos sonhos?" Era feita, a quem passasse pelo local do crime, pela viúva da vítima. Segundo a Polícia Civil, foram feitos mais de 80 disparos. Parentes e amigos dizem que a família foi confundida com bandidos.

Um homem parado na esquina comentou:

- Atirar antes e perguntar depois. É lógica da guerra.

É só mirar na cabecinha, não é, governador? Mas precisam mirar tanto?

O delegado responsável pelo caso disse à reportagem deste jornal:

"Tudo indica que os militares realmente confundiram o veículo com um bonde de bandidos. Mas neste veículo estava uma família. Nele não foi encontrada nenhuma arma de fogo nem outra qualquer. Tudo que foi apurado era que realmente era uma família normal, de bem, que acabou sendo vítima dos militares".

Também estavam no carro a mulher, o filho do artista, de 7 anos, uma afilhada do casal, de 13, e o sogro dele, que também foi baleado.

Em nota, o Exército garantiu que os dois abriram fogo contra a guarnição, "que revidou a injusta agressão". A rima, acredito eu, homem de boa vontade, também é involuntária.

***

Usei esse pé-de-crônica, dias desses, para convidar os amigos ao lançamento do primeiro romance, "Danação", pela Editora 7Letras. As chuvas que castigaram a cidade nos obrigaram a adiar para a quarta-feira, dia 17, no mesmo local e horário: Bar Bip Bip (Rua Almirante Gonçalves, 50, Copacabana), entre 20 e 23 horas. Desse dia não passa!

Luís Pimentel é jornalista e escritor.

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