Metas de Thamires são focadas não apenas nos jovens e na mulher, mas em defesa da população em geral Foto Divulgação

Campos – A única mulher a ocupar uma das 25 cadeiras na Câmara Municipal de Campos dos Gpytacazes, ao norte do Estado do Rio de Janeiro, na próxima legislatura, é também a mais jovem vereadora do Brasil, eleita no último dia seis. Thamires Rangel teve 5.483 votos, pelo Partido da Mulher Brasileira (PMB), sendo a segunda com maior votação do município.
Apesar de estreante na vida pública e ainda pouca experiência legislativa, a jovem deixa claro que a expressiva vitória nas urnas não é o limite para ela nesse desafio: o próximo passo pretendido é a presidência do Legislativo, já a partir de primeiro de janeiro de 2025, no início do mandato.
Filha do deputado estadual Thiago Rangel (PMB), que já foi vereador, Thamires o tem como líder político natural; porém, deixa evidente a independência ideológica. As causas sociais sensibilizam a futura vereadora (que completou 18 anos no dia 1º de agosto deste ano). É uma das bandeiras, juntamente com defesa dos direitos das mulheres, a capacitação de jovens para o primeiro emprego. No entanto, ela se propõe legislar em causa da população como um todo.
O grau de instrução é Ensino Médio incompleto (seá concluído este ano); mas, a advocacia define o próximo objetivo na graduação. O nome completo é Thamires da Silva Lima; contudo, para ingressar na vida pública optou pelo sobrenome do pai (Rangel), estratégia que pode ter contribuído para a estréia diferenciada.
ENTREVISTA
O DIA - Quem é Thamires? Religião, família, estudos, diversão; como é sua vida?
THAMIRES - Me considero uma mulher de responsabilidade. Aprecio meu tempo com a família - principalmente com minha irmã e irmão; gosto de sair junto aos meus amigos no tempo livre, conversar com as pessoas onde quer que eu esteja e cuidar da minha saúde fazendo atividades físicas. Considero essencial o aprendizado contínuo, seja na prática, seja na teoria; tanto que sou focada nos estudos e conquisto bons resultados. Quanto à religião, busco me ancorar no que é bem intencionado; acredito em Deus, Jesus, mas não me restringindo a um credo específico; pois sei que o bem existe e o mau também, basta termos fé e apoio emocional suficiente para não nos abalarmos.
O que a levou ter interesse pela política e, ainda adolescente, disputar uma eleição? O fato de seu pai ter trajetória na vida pública contribuiu?
“Sempre tive um interesse por projetos sociais, ficava muito feliz quando via iniciativa das pessoas em conquistar melhorias, sendo elas figuras públicas ou não. Porém, assim como a maioria da população, só escutava sobre o lado negativo da realidade política; mas quando o meu pai, Thiago Rangel, assumiu a posição de vereador, ele me desafiou de forma inconsciente a perceber que política é discussão para que se chegue a um bem maior, e apesar de por vezes não realizar, é a melhor forma de pôr em prática algo que desperta minha curiosidade: a assistência social”.
A estréia não é marcada simplesmente por vitória; mas, por votação considerada esplêndida numericamente. Seria uma sinalização de incentivo aos jovens para terem a mesma iniciativa que você?
“Realmente, é sensacional e muito gratificante saber do resultado que tive e da confiança de quem votou em mim. E sim, com certeza foi a abertura de uma brecha na nossa política tradicionalista para que a esperança não seja esquecida. Ainda que muitos não consigam oportunidade para entrar nesse meio ou até mesmo apresentem desinteresse, acho que durante esse meu mandato posso influenciar e retirar parte dessa visão negativa com medidas efetivas; pois a política é discussão, apesar de desgastante os ganhos são combustíveis para evolução”.
A lei que instituiu cotas de gênero nas candidaturas do Poder Legislativo no Brasil chega a quase 30 anos; no entanto, a representatividade feminina nas câmaras municipais ainda é insatisfatória. A que você atribui essa constatação?
“O meio político segue com sua tradicionalidade e sustenta todo um sistema cujo resultado, na grande maioria das vezes, favorece aos homens. Desde pequenas ações, não discutindo sobre o assunto com elas, até as mais escrachadas, utilizando-as para preencher legenda, não considerando o real potencial de eleição, são formas de iludir os cidadãos. Não estão acostumados com um cenário mais igualitário; portanto, não veem a necessidade dele”.
No caso de Campos, por exemplo, de 25 cadeiras, nenhuma vereadora na atual composição do Legislativo e apenas você na próxima. Até que ponto isso pode inibir a sua atuação?
“Não deixarei ninguém me inibir, ao menos terei garra para lutar contra isso. Mas, honestamente, espero respeito por parte dos meus colegas de trabalho. Penso que muitos têm entendimento da necessidade de uma jovem mulher na Câmara”.
Durante sua campanha, observou-se que você, embora com apenas 18 anos, tem uma visão adulta sobre vida pública. Pelo que vem acompanhando, como avalia o nível nacional; do Planalto ao Legislativo municipal?
“Ainda que os níveis hierarquicamente superiores apresentem significativos avanços, ainda há carência na efetivação deles, e quando se analisa o cenário municipal, principalmente se localizado no interior, isso é mais evidente. De maneira geral, ainda possuímos muito trabalho pela frente, necessitamos de fiscalização - o que mais carecemos no Brasil como um todo”.
Você já declarou, entre as prioridades, lutar pelo primeiro emprego para os jovens. De que forma a proposta será formatada?
“Visando atender às demandas dessa parcela social, pretendo criar meios favoráveis para a capacitação e inserção no mercado de trabalho além de promover outras formas de renda na região. Proponho a ampliação de estágios e programas de primeiro emprego; a proposta busca estabelecer parcerias com empresas locais, oferecendo incentivos fiscais para que essas empresas criem vagas destinadas exclusivamente a jovens que estão ingressando no mercado de trabalho. O programa incluirá mentorias e suporte profissional, além de cursos de capacitação para preparar esses jovens para os desafios do mercado. Vejo a importância de Cursos gratuitos de tecnologia, programação e habilidades digitais para a juventude com ênfase em áreas como programação, desenvolvimento de software, design gráfico, marketing digital e empreendedorismo digital. Esses cursos serão oferecidos gratuitamente em centros comunitários e escolas municipais, equipando os jovens com as habilidades tecnológicas necessárias para competir no mercado de trabalho moderno. Viso à diversificação e ampliação dos serviços com Incentivo à produção cultural e artística entre os jovens, com apoio da prefeitura. Incitarei a criatividade dos jovens de Campos, criando Espaços Criativos dedicados a atividades culturais e artísticas, como música, teatro, dança e artes visuais. Esses espaços serão públicos e equipados com recursos necessários para que os jovens possam desenvolver suas habilidades artísticas e expor suas criações, com a organização de eventos culturais regulares”.
Obviamente, você tem seu pai como líder político. Qual será o espaço dele, enquanto orientador natural, no seu mandato?
“Meu pai, Thiago Rangel, possui uma gama de experiência nesse âmbito; logo, pretendo utilizá-la em prol de uma atuação mais assertiva. É preciso ter um cuidado especial quando o assusto referente são indivíduos acostumados a ditarem o futuro político; porém, se deparam com outros realmente engajados a executar o papel e expressar opiniões próprias. Há tempos, eleitos mudam seu discurso por banalizarem essa realidade dissimulada, meu objetivo aqui é garantir a não ocorrência do mesmo no meu caso”.
Como se sente sendo a vereadora mais jovem do Brasil e a quem dedica sua eleição?
“A sensação é indescritível: alegria, esperança, gratidão, são os sentimentos mais evidentes; além deles, segue com intensidade a esperança de uma política transparente e transformadora. Assim, minha dedicatória não caberia a nenhum outro posto se não à população, quem depende de um executivo, legislativo e judiciário organizado; quem crê na mudança e aqueles ainda desacreditados”.
Qual a lição de vida que você tira, do que pode observar no dia a dia da campanha?
“Quando nos acostumamos com pouco, é difícil pensar que pode ser diferente. Qualquer mínimo avanço vira um ‘grande feito’ a fim de te distrair de que é o básico para a dignidade humana. Por mais perverso que seja, pobres são instruídos a contentar-se com a pobreza; jovens são manipulados a desistirem de sua ‘carreira dos sonhos’; crianças encantam-se com atividades lúdicas, ao passo que não conseguem nem ter um ensino de qualidade. Idosos, dos mais difíceis de persuadir, viveram tempos melhores, usufruíram de direitos que hoje se assemelham a luxos, mas ainda assim estão sujeitos ao mesmo pensamento alienado”.
Alguma possibilidade de as posições serem invertidas?
“Essa pergunta parece mesmo revelar o quanto se tornou normal o vereador ser do contra por ser oposição. Ou ser subserviente ao prefeito por ser situação. Eu não sou capaz de me conformar com esse ‘normal’ que ultimamente parece dominar a luta política da nossa cidade e do nosso estado. Aos 18 anos de idade, sou representante do desejo de inverter as tradições ruins da luta política. A superação das adversidades impostas ao nosso povo não pode prescindir de uma nova forma de compreender a luta política, onde a questão central precisa ser o interesse das pessoas e não os interesses pessoais. É por essa razão que não pretendo ser a vereadora contra tudo, nem a favor de qualquer coisa. O que precisa ser invertido é a referência a partir da qual cada vereador se posiciona. E inverter essa lógica perversa é um dos desafios principais dos próximos quatro anos. Se os meus colegas vereadores desejarem ter compromisso com os interesses da nossa cidade, com as necessidades da nossa gente, se desejarem a afirmação de um Poder Legislativo Municipal forte, autônomo e independente, haverão de ser capazes de superar os preconceitos e efetivamente considerar o meu nome para exercer a presidência do legislativo municipal. Tenho absoluta consciência de que enfrentarei os preconceitos de cabeça erguida. O preconceito de ser mulher em um meio absolutamente dominado apenas pelos homens, o preconceito de ser jovem em um meio em que se resiste demais às novas ideias, no qual que se resiste às mudanças e transformações. Tenho, por outro lado convicção, de que a nossa maior aliança será com as ideias e desejos da maioria da nossa população. População que pretendo incentivar a participar permanentemente do funcionamento da Câmara de Vereadores de Campos dos Goytacazes”.
Apesar de estreante na vida pública e ainda sem experiência legislativa, você já almeja ser presidente do Legislativo?
“A ideia de concorrer à presidência da Câmara de Campos dos Goytacazes surge exatamente do desejo por mudanças no Poder Legislativo Municipal. Tive a oportunidade de acompanhar de perto a experiência de dois anos do mandato do meu pai como vereador na cidade. Depois, ao longo do ano passado (2023) e deste ano, foi novamente importante acompanhar o exercício do mandato do meu pai como deputado estadual. O(a) presidente da Câmara de Campos dos Goytacazes deverá ter habilidade para buscar recursos e oportunidades para a nossa cidade e nossa população junto ao governo estadual e à Assembleia Legislativa (Alerj). A maior prova de tudo isso é que grande parcela das conquistas da cidade nos últimos anos foi viabilizada justamente a partir do contato e relação do município com a Alerj e o Governo do Estado. Portanto, a experiência que observei ao longo dos últimos quatro anos me deixa segura para assumir esse grande desafio”.
De que forma pretende articular esse propósito, considerando que você é do bloco de oposição e 19 dos 25 eleitos são governistas?
“Defendo com veemência a independência da Câmara dos Vereadores. É função fundamental dos vereadores fiscalizarem o Poder Executivo do Município. Nossa tarefa não é apenas legislativa. Os vereadores de Campos dos Goytacazes precisam afirmar sua autonomia e independência para o bem da nossa população. Vereadores e uma Câmara Municipal subservientes ao prefeito seriam ruins para a cidade, para o seu povo e para a própria prefeitura. Assim, a afirmação do meu nome enquanto alternativa para presidir a Câmara, mais do que renovação e mudança, representa uma demonstração definitiva de que os vereadores da nossa cidade pretendem cumprir na íntegra a sua atribuição constitucional Significa a tranquilidade de que teremos uma Câmara de Vereadores independente, comprometida apenas com os interesses dos nossos cidadãos”.
Thamires se elegeu fazendo oposição ao governo. Como será esse posicionamento no dia a dia do mandato?
“Ultrapassamos o período eleitoral. O desafio de agora não deverá ser limitado pela ideia de ser a favor ou contra o prefeito. Estou pronta para apoiar todas as ideias e proposições que forem positivas para a cidade, que ajudarem a superar a atual realidade de uma cidade tão rica e de uma população com pouquíssimas oportunidades. Ou seja, vamos apoiar o que for bom; apoiaremos às boas idéias. Porém, que ninguém tenha dúvidas de que não me proponho a aceitar acordos de bastidores ou fazer vista grossa ao que estiver errado ou não corresponder às necessidades e aspirações da nossa gente. Esta jovem mulher estará pronta para o combate, na tribuna ou fora dela, sempre que for necessário”.