Paulo Guedes, ministro da Economia - Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Paulo Guedes, ministro da EconomiaFabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Por Chico Alves
Quando foi anunciada a vitória de Jair Bolsonaro na eleição presidencial, mesmo antes da posse, Paulo Guedes estabeleceu a prioridade 1 do governo: Reforma da Previdência. Desde então, por onde quer que vá, o ministro da Economia repete esse refrão. Nas primeiras entrevistas antes de assumir a pasta, anunciou aos eleitores o que imaginava ser a melhor tática para fazer deputados e senadores aprovarem a reforma, um tema tão impopular. "Prensa neles!", bradou, em janeiro (alguém se lembra?). Muitos pensaram que o tom de confronto seria mera brincadeira. Mas não era. Sem paciência para negociar, o ministro partiu para a briga com o Congresso e, ironicamente, o maior entrave nesse momento para a aprovação do relatório do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) é o próprio Guedes.

O clima entre o ministro e os deputados ficou irrespirável depois da informação de que, em reunião na noite de quarta-feira com políticos de oposição, ele teria dito que o Congresso é uma "máquina de corrupção". O estrago foi enorme. Tentou se explicar depois, ao deputado Alexandre Frota (PSL-SP): "Exemplifiquei dizendo que eu não vou fazer o que querem, que eu responda à acusação de que somos uma fábrica de crises acusando o Congresso de fábrica de corrupção”, escreveu. A explicação parece não ter adiantado. "Antes me esforçava para construir algum diálogo com ele, hoje não tenho nenhum respeito", reagiu o presidente da comissão, Marcelo Ramos (PL-AM), em entrevista ao jornal O Globo. Ramos acusou Guedes de estar irritado pela retirada da capitalização do texto por querer "enriquecer" com isso.

O ministro chegou a fazer um movimento inicial para conquistar os parlamentares, submeteu-se a duas longas sessões de questionamentos na Câmara e, fora um ou outro momento de destempero, saiu-se razoavelmente. Bastou os deputados da comissão especial fazerem as primeiras mudanças no texto original do governo para Guedes entornar o caldo. Esbravejou que estavam abortando a Nova Previdência, acusou os parlamentares de submissão ao lobby dos servidores. A declaração sobre a "máquina de corrupção" parece ter sido a gota d'água.

O deputado José Guimarães (PT-CE) explicou que o governador do seu estado, Camilo Santana (PT), estava na tal reunião com o titular da Economia justamente para tratar da Reforma da Previdência. "Não é possível o ministro tratar o Parlamento desse jeito, é mais uma maluquice desse governo, que só atrapalha e corrói a atividade econômica brasileira", disse Guimarães à coluna BASE. "Como se vai votar uma reforma desse jeito? Esse projeto deveria ser devolvido". O deputado cearense é vice-líder da minoria da Câmara e integrante da comissão especial da reforma.

A visão de outro integrante da comissão, o deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), é diferente. Para ele, mesmo com as caneladas do ministro se mantém o otimismo quanto à aprovação do relatório. "O clima nunca foi melhor, o ideal seria que Paulo Guedes não falasse mais nada", comentou à coluna. "O ministro da Economia tem que ter um papel de animador. Quando, ao contrário disso, ele ataca a reforma, dá um tiro no coração das expectativas de quem quer investir no Brasil". Pedro Paulo acredita que a retirada de alguns pontos polêmicos e a liberação de emendas para alguns deputados terá peso decisivo. Ele prevê que a comissão aprove o relatório na semana que vem. (Veja aqui a previsão do deputado Rodrigo Maia). Mas observa: "Apesar do Paulo Guedes".