O dinheiro repassado é usado em projetos locais dos deputados, que poderão tirar proveito eleitoral de obras e melhorias para a população. O presidente tentou desmentir as acusações de que cedeu à chamada "Velha Política". "Tudo o que é liberado está no Orçamento. Gostaria de liberar tudo", disse Bolsonaro. O argumento, igualzinho ao usado pelos antecessores, contém uma meia verdade: realmente a previsão de emendas está no Orçamento. Mas só houve liberação para os parlamentares que prometeram votos a favor da reforma. "Quem vota contra não tem emendas liberadas. Qual a explicação para isso?", questiona o deputado Paulo Ramos (PDT-RJ). O valor desse repasse pode chegar a R$ 5,6 bilhões. "Nunca houve liberação de tantas emendas em um espaço tão curto de tempo", diz o deputado. "Isso prova que a reforma é ruim. Se fosse boa, o governo não precisaria dar compensação".
Bolsonaro alegou também que faz tudo às claras. "Não tenho mala, não tenho conversa escondidinho em lugar nenhum", disse ele, na tarde de ontem. Algumas horas depois, enquanto a sessão da Câmara se desenrolava, Rodrigo Maia (DEM-RJ) despachava em sua residência oficial, no Lago Sul, recebendo um séquito de líderes dos partidos do Centrão, que levavam reivindicações de emendas de suas bancadas. "Ouvidor-geral" dos pedidos, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, se esforçou ao máximo para atender a todos. Horas depois, com alguns bilhões garantidos para os apoiadores, Maia seguiu para a Câmara e deu início à votação da reforma.
O próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, admitiu ao site Jota que a liberação de emendas em sua pasta foi um esforço para aprovar a reforma. A oposição acusa o governo de cometer crime de responsabilidade e promete ir à Justiça contra o expediente. Em meio ao "toma lá dá cá" de sempre, deputados apoiadores e governo certamente vão comemorar a aprovação do texto-base da reforma, para, depois passar á votação dos destaques. O projeto vai, em seguida, para o Senado. Quem não tem nada a comemorar são aqueles que acreditaram na tal "Nova Política". Essa já se aposentou.