Jair Bolsonaro - José Cruz/Agência Brasil
Jair BolsonaroJosé Cruz/Agência Brasil
Por O Dia
Rio - "Tem algum nordestino ofendido comigo aí?" A pergunta foi feita pelo presidente Jair Bolsonaro a um grupo de apoiadores que o aguardavam em frente ao Palácio da Alvorada, na tarde ensolarada de domingo. Ouviu de alguns poucos oriundos do Nordeste a resposta que queria ("Não!") e pediu para os jornalistas, que ele acredita serem inimigos, registrarem o fato. Para o presidente, a manifestação da pequena claque basta para provar que a forma desrespeitosa como na sexta-feira se dirigiu aos nordestinos não deixou sequelas. A pesquisa Datafolha divulgada hoje mostra que governar dessa forma, dialogando somente com quem já o apoia, pode fazer bem para o ego, mas está longe de traduzir a realidade. 
Perguntados sobre o que Bolsonaro fez de melhor em seis meses de governo, 39% dos 2.068 entrevistados pelo instituto responderam "nada". Outros 19% disseram que não sabem. Ou seja: mais da metade dos brasileiros pesquisados pelo Datafolha não identificam no governo atual uma só marca positiva digna de menção nesse período. A avaliação fica menos ruim quando são considerados apenas aqueles entrevistados que votaram em Bolsonaro no segundo turno. Mesmo entre estes, 17% disseram não ter nada de bom a destacar na gestão atual.
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Os números do Datafolha mostram ao presidente que governar só para a sua própria base eleitoral e buscar unicamente a aprovação dessa parcela da população não é o bastante para fazer um governo bem avaliado. É clichê dos presidentes dizer, ao receber a faixa, que, passada a disputa dos votos, vão governar para todos. O próprio Bolsonaro disse isso após subir a rampa. Mas, na prática, fala e governa apenas para quem já é de sua base. Alguém do primeiro escalão do Alvorada deveria usar o levantamento atual para sugerir mudanças ao presidente.
Entre aqueles que identificam algo de bom feito no mandato de Bolsonaro, o maior destaque é a segurança, mas com um percentual muito baixo: 8%. Reforma da Previdência (7%), fim da corrupção (4%) e política externa (2%). Não há nada que salte aos olhos dos pesquisados, nenhum feito que simbolize alguma conquista significativa. Pelo lado negativo, o destaque é decreto das armas, repudiado por 21% dos entrevistados.
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Tradicionalmente, os 180 primeiros meses de qualquer mandato é o período em que o apoio das urnas ainda está vivo. Depois, acreditam os políticos, esse manancial de apoio tende a decair. É preciso levar em conta que a pesquisa Datafolha foi feita nos dias 4 e 5 de julho, bem antes, portanto, do episódio em que se referiu aos nordestinos como "paraíbas". A continuar nessa toada, imagina-se que o próximo levantamento vai agradar menos ainda ao presidente e seu séquito de apoiadores nas redes sociais.