Cesário Melantonio NetoDivulgação

Desde que o anterior chanceler declarou que se a atuação do país "faz de nós um pária internacional, então que sejamos essa pária", iniciou-se um período nefasto em nossas relações internacionais. A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet, citou o Brasil na lista dos países que a preocupam por violações dos Direitos Humanos. A organização não-governamental Human Rights Watch emitiu um comunicado dizendo que o Executivo federal põe em risco a democracia brasileira com ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF) e às eleições em 2022.
Um grupo de juristas tem a intenção de encaminhar ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, denúncias que farão parte do relatório da CPI da Covid. No campo da preservação ambiental a comunidade internacional já enxerga o Planalto como "piromaníaco" com as queimadas na Amazônia e no Pantanal. Em 2019, Bachelet já mencionava o "encolhimento do espaço cívico e democrático" no Brasil e citou com preocupação a situação dos índios e o projeto governamental de nova lei antiterrorismo. Ao responder essas críticas, o Planalto ofendeu o pai de Bachelet que foi torturado e morto por Pinochet.
Se continuarmos párias no meio ambiente e proteção dos direitos humanos, encaminhamos certamente o Brasil para uma situação de desprezo pela comunidade internacional. O processo de revisão de danos que este desgoverno tem causado ao país na cena internacional tem de começar imediatamente, como já é o caso com a sociedade civil, o Judiciário e a imprensa.
Estes esforços têm de ressaltar os perigos que correm as liberdades individuais no Brasil, caso contrário será o começo do fim do nosso processo democrático. Nessa direção fazem sentido os apelos para que o Brasil não se retire da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), vigente desde 2004. Essa convenção indígena trata os povos originários com autodeterminação e proteção de seus territórios, mas o Planalto quer denunciar a convenção e retirar o nome do Brasil como signatário do documento.
A nova proposta de legislação antiterrorista inclui dispositivos propositadamente imprecisos e amplos, que permitiriam riscos de abusos contra ativistas sociais e defensores dos direitos humanos. Essa escalada autoritária continua impulsionada pelo Executivo federal, afetando gravemente a imagem internacional do Brasil.
O poeta grego Eurípedes já dizia que "Deus primeiro enlouquece aquele a quem quer destruir", mas nem por isso podemos perder mais tempo com os desvarios governamentais, porque a fatura será paga por todos nós brasileiros. A frente ampla que se forma na sociedade brasileira lentamente tem de acelerar a sua organicidade para ocupar espaços perdidos interna e externamente. No momento, o desgoverno está com os dois pés fincados no atraso e o país andou para trás.
O discurso presidencial na ONU em 21 de setembro marca o começo do fim desse processo político autoritário, despótico e mentiroso. Ministros de Estado em Nova Iorque usando gestos obscenos ou fazendo 'arminha' contra cidadãos brasileiros provam que a barbárie e o oportunismo imperam nesses acólitos e sabujos do poder Executivo federal. O texto desse discurso foi dirigido ao cercado do Alvorada em vez da opinião pública internacional. Uma retórica defensiva e ofensiva olhando para o quintal, e plena de mentiras, nos transformou mais uma vez em chacota mundial.
A política externa brasileira nunca chegou a um nível tão baixo e em vez de acenar para a comunidade internacional, com gestos positivos, fez o contrário mentindo. Mentindo com inúmeros dados falsos em pleno palco mundial, demonstrando que a filhocracia manda mais do que a chancelaria. Essas palavras até produziram provas, na ONU, dos desmandos do Planalto com ataques ao passaporte da vacina, defesa do tratamento precoce, agressões à imprensa e desconexões da realidade. Mais se assemelhou à redação desse texto a palavras de um chefe de torcida organizada que acredita na imunidade do rebanho.
Ao criticar países ricos por questões ambientais, mais uma vez se inclui na categoria de genocida ecológico. Esta perda de mais uma oportunidade de melhorar a imagem do Brasil no exterior, a um ano das eleições de 2022, foi consequência da decisão de usar a ONU para o público interno. Os investidores internacionais também serão afetados negativamente pelo texto e não serão ludibriados quando é sabido que os órgãos de fiscalização ambiental, como Ibama e ICM Bio, estão enfraquecidos e se tenta aprovar no Congresso, leis para dificultar a demarcação de terras indígenas.
Ao atacar prefeitos e governadores, na ONU, Messias preferiu falar para seus grupos de seguidores do que falar para a comunidade internacional e apresentou dados inverídicos e distantes da realidade brasileira. Os exageros ao discursar sobre prevenção ambiental, sobre previsão de crescimento econômico, sobre áreas indígenas e sobre racismo foram lamentáveis pois pautaram-se em dados que todos os outros internacionais sabem ser falsos e nos afastam ainda mais da comunidade internacional.

Cesário Melantonio Neto