Cesário Melantonio Neto: O neoliberalismo selvagem do desgoverno
Objetivo explícito é apenas prover instrumentos para a tentativa de reeleição. O ministro da Economia, que descumpriu o compromisso de respeitar o teto de gastos, tenta agora iludir a população com novos diversionismos
A nova estratégia do desgoverno agora é o apelo à compra de voto popular como meio para manter o poder em 2022. Foi criado assim o neoliberalismo selvagem que engana o povo, fingindo alimentá-lo ao tentar comprar milhões de votos para garantir a reeleição no próximo ano. A mentira se transforma em arma política ao atribuir um surto de aids à imunização na semana em que se votou o relatório da CPI do Senado que indicia o chefe do Executivo Federal em nove crimes. Os desmandos fiscais do desgoverno e de sua equipe reforçam o pessimismo das projeções econômicas para o próximo ano.
A economia brasileira terá contração de meio por cento em 2022, segundo a nova projeção do Banco Itaú. O Banco JP Morgan reduziu de 0,4 por cento para zero o resultado previsto para o crescimento econômico no mesmo período, revisão igual àquela anunciada pela consultoria HB Associados.
As expectativas captadas pela pesquisa econômica vêm piorando há meses. A gestão irresponsável das finanças públicas, por interesses eleitorais, alimentará a inflação e prejudicará o crescimento econômico futuro. A prévia da inflação de outubro confirmou o desajuste crescente no valor de bens e de serviços. Foi a mais alta para outubro desde 1995. Em doze meses, a variação chegou a 10,34%.
Pressionados pelas péssimas condições de emprego e pela erosão de sua renda, agravada pelo crescente custo de vida, as famílias serão incapazes de manter o consumo necessário para sustentar uma produção robusta de bens industriais e de serviços. Não há sinal de abrandamento desse desarranjo. Ao contrário, a incerteza dos investidores e a instabilidade cambial tenderão a realimentar a alta dos preços.
A divulgação do IPCA-15 reforçou as apostas numa forte alta dos juros ao longo dos próximos meses, com prejuízo significativo para o crescimento do Produto Interno Bruto. O aumento do Bolsa Família, com R$ 400, para 14 milhões de famílias será insuficiente para mudar esse quadro. A inflação reduzirá o poder de compra desse dinheiro e as perspectivas serão muito ruins para a maior parte dessa população.
O objetivo explícito é apenas prover instrumentos para a tentativa de reeleição. O ministro da Economia, que descumpriu o compromisso de respeitar o teto de gastos, tenta agora iludir a população com novos diversionismos. Outra desfaçatez completa com o dinheiro público é a PEC dos Precatórios. Com ela, pretende-se institucionalizar o calote nas contas públicos.
Trata-se de apropriação abusiva por parte do Estado de recursos dos cidadãos e empresas. Deve-se recordar que o pagamento de precatórios não está na esfera do poder público, pois é uma obrigação reconhecida pela Justiça. Um governo que se preocupa em fortalecer a segurança jurídica e que não ignora que a existência de um ambiente de negócios com regras previsíveis é condição para o desenvolvimento social e econômico do Brasil não deve propor alteração no pagamento de precatórios.
É impossível estimular a Economia com mudanças nas condições de pagamento de precatórios. Perante um desgoverno que ignora suas responsabilidades, é necessário recordar que todo precatório segue sendo o resultado de decisão judicial transitada em julgado e sem possibilidade de recurso. Nessa história absurda, a ideia é criar na Constituição uma exceção para que o executivo federal não cumpra decisão judicial, aproveitando o dinheiro “poupado” para campanha eleitoral e emendas de relator. Não há nenhum sentido em queimar o dinheiro público do credor privado com campanha eleitoral ou emenda de relator.
O orçamento federal precisa do teto de gastos e nossos cidadãos mais vulneráveis e mais atingidos pela pandemia precisam de um teto para morar, de comida no prato e de uma renda básica para viver de forma digna. O Brasil está à beira de um abismo fiscal e manobras diversionistas só vão agravar o quadro de descalabro financeiro, transformando nosso orçamento em peça de ficção.
A inflação e o risco fiscal já nos levam à maior alta de juros desde 2002, com subida de 6,25 por cento para 7,75 por cento e em dezembro próximo, devemos ter novo aumento. O neoliberalismo selvagem e irresponsável de Brasília representa um salto para trás e acelera a deterioração na confiança dos investidores.
Em um cenário de aumento da dívida pública, como o que ocorre no Brasil, juros mais altos prejudicam a capacidade de Brasília de honrar compromissos. Além disso, um patamar de juros mais elevado em meio ao desemprego crescente e inflação descontrolada faz com que haja menos investimentos privados, reduzindo o crescimento econômico e gerando estagflação. Esse estelionato eleitoral pode produzir uma recessão em 2022.
Fica-se com a impressão que esse desgoverno não tem compromisso com o futuro do país e só se interessa egoisticamente em proteger seus membros da filhocracia com fins eleitorais.
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