O economista Istvan Kasznar é professor titular da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (FGV EBAPE), com experiências nas áreas empresarial, diretiva, bancária, agrícola, de ensino, pesquisa e consultoria corporativa e institucional, para empresas privadas e públicas, no Brasil e no exterior. Além disso, tem o esporte como um dos temas de sua atenção, tendo publicado alguns livros sobre o tema, como, por exemplo, "O esporte como indústria - Solução para criação de riqueza e emprego", "Análise técnica de estatísticas do esporte", "A indústria do esporte no Brasil". "Precisamos de boas práticas, linhas de defesa com governança corporativa esportiva e investimentos em esportes que abracem a grande maioria do povo brasileiro", disse em entrevista à coluna.
O senhor é um dos poucos economistas que incluiu o esporte como tema de reflexão. O que o motivou a pensar, debater e escrever livros sobre o assunto?
A prática esportiva é mais que milenar. O bom hábito da prática esportiva é vital para assegurar a saúde, a força, o equilíbrio mental e a sociabilidade das pessoas. Os estudos de Economia Desportiva ausentavam-se no Brasil, não se estudava o PIB – Produto Interno Bruto nem a capacidade de geração de empregos mediante o esporte, entre outros assuntos. Então, decidi introduzir o assunto no Brasil a partir de 1987. São seis livros e mais de 280 artigos redigidos sobre o assunto. O desporto é um gigante de atividades, mobiliza a nação e a rigor todos os 210 milhões de brasileiros e de brasileiras precisam pelo seu próprio bem praticar atividades esportivas. A expectativa de vida aumenta, a felicidade de viver dispara.
Tivemos uma Olimpíada no Brasil, o que poderia ser entendido como a inclusão do país no radar do planeta. Mas isto não é uma certeza. O que aprendemos?
A Olimpíada no Brasil foi um retumbante sucesso. Foi super bem organizada, não foi atacada por terroristas e alargou o nosso entendimento de que tanto desporto de alto rendimento, que dá o melhor exemplo à juventude, quanto o esporte popular, para as massas, são vitais. Quanto a entrar no radar planetário, lembremos que concorremos com outros países para atrair turistas, gerar movimento financeiro em teatros, restaurantes, hotéis e lazeres variados. Então, os escândalos de sobrefaturamento e de desvio de verbas não geraram boa imagem ao Brasil. O Rio de Janeiro perdeu uma oportunidade de ouro para mostrar boas práticas. Uma panelinha e um punhado de políticos e de empresários se locupletou às custas do contribuinte e do povo brasileiro, foi um lado ruim. Claro está, houve uma maioria honesta e silenciosa que trabalhou com honestidade. Aprendemos que o esporte não pode ser gerido amadoristicamente e é preciso incentivar todos os brasileiros a abandonarem o sedentarismo. Aprendemos que investir em esporte é política pública e privada permanente.
Por que o Brasil é descontínuo quando decide investimentos e políticas específicas para o esporte? O que está errado?
Num regime democrático, os partidos e as lideranças, se espera, alternam. O que é prioridade para um, pode ser desimportante para outro partido. Ademais, não há compromissos contratuais no Brasil para que uma obra de infraestrutura ou investimento feito num governo seja continuado pelo seguinte. Isto é bem negativo e muito caro pelos impactos, efeitos, sobre o Brasil. Ainda por cima temos um déficit público anual bilionário e uma dívida bruta sobre o PIB de 78,97%. Então, corta-se onde é mais fácil: as crianças não tem voto, e educação e esporte são cortados do orçamento. A participação média dos investimentos em esporte pelo governo federal, entre 2013 e 2022, foi de 0,0016%, ou seja, uma nulidade.
Vale a pena para um país desigual como o Brasil investir no esporte?
Certamente que sim. Todavia, há pré-condições para gerar sucesso no assunto. Se o Ministério do Esporte é moeda de troca e de conveniência política, corrói tudo. O bom desporto é inclusivo, faz o menino da várzea virar craque milionário nos clubes europeus e permite que se sonhe com ascensão social. Tira as crianças da rua e cria uma ocupação que pode gerar profissionais do esporte, para as academias. Gera, segundo o novo CAGED, aproximadamente 820.000 empregos diretos e 2.428.000 indiretos. É uma opção educacional que promove disciplina, organização, amizades, saúde pessoal e comunitária. Esporte é bom demais!
O que a economia, orçamento, investimentos, recursos e políticas públicas têm a ver com preparar gerações para o futuro de modalidades esportivas tão diferentes?
É preciso ter uma Estratégia Desportiva Agregadora, Ampla, combinada com um Plano Estratégico Desportivo de longo prazo, que abarque todas as confederações, clubes, associações e modalidades, nas 26 unidades estaduais e no Distrito Federal. Cabe ao governo federal zelar pela correta proposição de programas e projetos; ao poder legislativo revisar, ampliar e promover uma regulamentação sadia e exequível; e ao poder executivo aplicar as verbas com equidade e isenção por todo o Brasil. Agora, se um Ministério é extinto e depois reaparece para virar ficha de negociações políticas, a política pública atinente vai e foi ao espaço. Precisamos de boas práticas, linhas de defesa com governança corporativa esportiva e investimentos em esportes que abracem a grande maioria do povo brasileiro. Com isto, daremos mais um passo para consolidar a nossa democracia.
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