Por leandro.eiro
Swell e sua cascata no Santa Marta%2C e um grafite de Vhils no Morro da ProvidênciaAlessandro Costa / Agência O Dia

Rio - O grafiteiro Wellington Demuner, de 24 anos, que mora no Morro Santa Marta, em Botafogo, e assina como Swell, tem um sonho: viver em uma favela colorida, decorada por grafite em todos os cantos. “Claro que só isso não basta, precisamos de saneamento básico, muitas casas estão em péssimas condições, quase caindo”, reclama. Swell já possui 15 trabalhos no Santa Marta e pretende fazer dezenas de outros: “O grafite não tem mistério, tem que sair de casa e fazer, nossas telas são os muros das ruas”, diz. Artistas como Swell, além de oficinas, workshops, mutirões e até uma exposição, demonstram a presença cada vez mais forte dessa arte nas comunidades cariocas.

Com entrada franca, a mostra ‘Grafitarte’, que está no Museu da Maré até 20 de junho, é o resultado de oficinas de grafite oferecidas aos jovens do Complexo da Maré pelo Instituto Vida Real. São obras produzidas por 90 alunos, entre 12 e 18 anos, com diversos problemas sociais. “O que digo para os alunos é que eles não estão nas oficinas para ter aula de graça, e, sim para fazer uma exposição. É uma boa oportunidade para entrarem no mercado de trabalho, assim acontece a transformação social”, atesta Cristina Figueiredo, organizadora da mostra.
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Outras comunidades também têm oficinas gratuitas: na Cidade de Deus e Complexo do Alemão, são ministradas pela Cufa; na Nova Era, Vila Cruzeiro e, novamente, Alemão, são administradas pelo AfroReggae, e, na Rocinha, coordenada pelo Instituto Wark. “Os jovens moradores não têm acesso à arte, o grafite é a arte disponível para eles, uma forma de se expressarem”, conta o instrutor do AfroReggae Cristiano Preas.
Já Anarkia Boladona — nome artístico de Panmela Castro — prefere dar workshops focando nas mulheres. “Eu e a rede Nami (grupo formado apenas por grafiteiras) ensinamos a grafitar e conversamos sobre os direitos das mulheres. Muitas delas não saem da favela, não obtêm informações”, revela Anarkia. O projeto visitou mais de 30 comunidades, atingindo um total de duas mil mulheres.
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Um exemplo importante dessa arte é a Vila Operária, em Duque de Caxias. O lugar possui cerca de 200 muros estilizados, pois já recebeu o mutirão MOF (Meeting of Favela) — o maior evento voluntário de arte urbana da América Latina — sete vezes. O MOF, que reuniu 400 artistas em 2012, acontece sempre no último domingo de novembro. “Pensamos em levar o evento para outras favelas, mas é uma tarefa complicada, necessita da aceitação dos moradores, comerciantes...”, explica o grafiteiro Combo, idealizador do mutirão.
Cristiano Preas (boné verde)%2C do AfroReggae%2C no AlemãoAlessandro Costa / Agência O Dia


Pioneiro do grafite em favelas, Fábio Ema é ex-membro do Comando Vermelho, e abriu oficinas em comunidades de São Gonçalo, Fallet e Fogueteiro, Manguinhos e Mangueira, onde dava aulas para os filhos de traficantes. “O grafite é adorado por bandidos e policiais”, diz Ema. A próxima oficina será no morro do Salgueiro, favela que recebeu uma exposição do artista em março deste ano. “Minha exposição é na favela, já fui convidado por galerias da Europa e dos EUA, mas sempre recuso. A intenção da minha arte não é essa”, destaca ele, que é responsável pela maioria dos cenários da banda O Rappa.

As comunidades cariocas atraem até artistas internacionais, como o português Alexandre Farto, o Vhils. Ele visitou o Brasil recentemente para registrar o rosto de moradores que saíram ou que vão sair do Morro da Providência, em virtude do processo de remoção para obras da revitalização da Zona Portuária. “Essas intervenções são uma forma de lhes dar alguma voz”, declara Vhils.
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Oficinas gratuitas
CUFA
Cidade de Deus. Seg e qua, das 14h às 16h. Avenida Jose de Arimatéia 90. Tel.: 2443-8576.
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Complexo do Alemão. Ter e qui, das 14h às 16h. Rua Benedito Cerqueira s/nº, Olaria. Tel.: 7816-3884.
AFROREGGAE
Jardim Nova Era. Sex, das 9h30 às 11h30 e das 13h às 16h. Rua Castor 86, Nova Iguaçu. Tel.: 3103-4063.
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Complexo do Alemão. Qua, das 10h às 12h e das 13h30 às 15h30. Rua Joaquim de Queiroz 62, Complexo do Alemão. Tel.: 3884-0767.
Vila Cruzeiro. Seg e qua, das 10h às 12h e das 14h às 16h. Praça São Lucas 1, Vila Cruzeiro. Tel.: 2209-0084.
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INSTITUTO WARK
Rocinha. Qua e sex, das 19h40 às 20h40. Travessa Escada 101, Rocinha. Tel.: 3324-3623.
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