Gregório Duvivier: 'Parte do povo brasileiro é atrasada e retrógrada'
Ator fala sobre bastidores do musical 'Como Vencer na Vida Sem Fazer Força' e sucesso do 'Porta dos Fundos'
Por tamyres.matos
Rio - Gregório Duvivier, aos 27 anos, é bem-sucedido na carreira. Já escreveu textos para o teatro e para TV, é um dos sócios do canal "Porta dos Fundos", atuou em mais de dez filmes e agora protagoniza no Rio de Janeiro seu primeiro musical, ao lado de um dos mais talentosos atores de comédia do País, Luiz Fernando Guimarães. Mas o ator e escritor não lembra em nada o seu personagem do espetáculo “Como Vencer na Vida Sem fazer Força”.
Enquanto Finch busca o sucesso fácil através de dicas duvidosas de um livro de autoajuda, Gregório considera-se um workaholic. “Trabalho para mim é lazer. Não gosto desta noção de que lazer é estar em casa, de bobeira, vendo filme. Trabalhando é onde sou mais feliz”, afirmou o ator, em entrevista ao iG, nos bastidores do musical.
Ator e humorista Gregório DuvivierSelmy Yassuda / iG
Puxar o saco, usar informações pessoais para se aproximar das pessoas e ser muito cara de pau são algumas atitudes corporativas que o musical e o livro “Como Vencer na Vida Sem Fazer Força” ironizam. “Não conheço ninguém que tenha se dado bem na vida por ter lido um livro desse tipo. Por exemplo, 'O Segredo' (da australiana Rhonda Byrne). Se fosse um segredo e uma fórmula mágica, não teria vendido um milhão de cópias. É um pouco pilantra você querer resumir o sucesso e vender isso em livros. Nunca li nada desse tipo”.
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Porta dos Fundos
E o canal da Internet “Porta dos Fundos” é a prova desse pensamento: não existe fórmula para o sucesso. Com quase 100 vídeos, o grupo acumula mais de 300 milhões de visualizações e virou febre. Tanto que o produto já foi assediado por quase todas as emissoras de TV e vai virar filme em 2014. “Nunca imaginamos o sucesso que o Porta faria. E nem que nós próprios faríamos. A fama e o reconhecimento nas ruas, de celebridade, nunca foi algo que busquei. Mas quando é fruto de um trabalho que me orgulho tanto, não tem problema. Fico feliz em saber que estamos alcançando o horário nobre e as grandes massas”, diz.
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Para Gregório, o sucesso do grupo se deve ao fato de eles respeitarem o internauta. “A gente não desprezou o espectador. As pessoas vão fazer algo para a internet, geralmente, achando que o público gosta de coisas toscas, de pouca qualidade. E não é assim. O 'Porta dos Fundos' confiou na inteligência e acreditou que o espectador gostava de um humor diferente”, define Gregório, que tem as esquetes “Batalha” e “Parabéns” como suas favoritas. “Sempre associo os vídeos que mais gosto com os dias de gravação. As gravações mais divertidas rendem os melhores esquetes”.
Sem polêmicas
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Gregório acredita que o "Porta dos Fundos" tenha se tornado tão popular porque o grupo não se alinha com polêmica. “Nada que a gente faz é buscando isso. A gente fala das coisas que acredita. Não vamos fazer um vídeo criticando a lei das empregadas domésticas, por exemplo, porque achamos uma lei bacana, que assegura os direitos delas”, diz ele, acrescentando: “Ao contrário de certa leva do humor que se diz politicamente incorreto, acreditamos que para se fazer humor tem de ser politicamente correto”.
Mesmo buscando ser correto, o grupo foi parar nos noticiários por conta de uma reclamação contra o vídeo "Rola". O motivo seria o suposto conteúdo ofensivo do material, que tem livre acesso para todas as faixas etárias. “Esta foi a primeira vez que passamos por alguma situação do tipo e foi por causa de um palavrão. O cara que reclamou devia ser um maluco porque ele não ficou ofendido com a esquete e sim porque falávamos palavrão nela. É uma besteira tão grande. Hoje, até os personagens de novela falam palavrão.”
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Atraso
Para ele, quando os vídeos se tornam polêmicos não é culpa dos autores. “A questão é que parte do povo brasileiro é atrasada e retrógrada. Por exemplo, algumas pessoas ficaram ofendidas porque tem um beijo gay no esquete 'A Regra é Clara'. Isso é a prova de que o povo brasileiro é retrógrado. Não somos nós que somos polêmicos! O que é polêmico num gesto de amor entre dois seres humanos? É triste que as pessoas achem isso... A gente nunca busca a polêmica.”
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Parcerias e grana
Apesar do sucesso da produtora, o carioca revela que o quinteto ainda não lucra muito. "Estamos começando a ganhar uma graninha. Hoje até fazemos parceria com marcas, mas estamos nos bancando com aqueles anúncios que aparecem antes dos vídeos no YouTube. E é isso o que queremos: que o Porta se pague. Mais do que ganhar dinheiro, porque essa não foi nossa intenção quando começamos. É um projeto de amigos, realizando o que gostam e que dá muita felicidade.”
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'Não sou engraçado'
No canal da Internet, além dos amigos, Gregório divide a cena com sua namorada, a atriz, roteirista e cantora Clarice Falcão. O casal acumula diversos projetos juntos, entre peças, programas de TV e textos. “A gente funciona melhor trabalhando juntos, pois nós dois nos colocamos muito no trabalho. Então, quando não estamos fazendo algum projeto comum, acabamos não ficando tão juntos. Ou seja, a gente ama trabalhar junto porque é quando estamos mais juntos”, brinca ele.
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Seja no teatro, na internet ou no cinema, Gregório tem sido considerado um dos melhores humoristas da sua geração. No entanto, o ator renega o título. “Não gosto do rótulo humorista porque ela impede o ator de vagar por outras áreas. Não tenho perfil daquele cara que sempre está fazendo piada. Não sou engraçado. Sou um cara introspectivo, tímido. Até por isso o humor que mais gosto é o que flerta com o trágico.”
Para o futuro, Gregório quer continuar a fazer o que está fazendo agora. “Pode parecer pouco ambicioso, mas não é. Quero fazer teatro e o Porta dos Fundos. Quem sabe até dirigir uma peça?”, diz ele, que descarta fazer novela. “O problema de novela é que demora um ano para fazer. Deve ser uma experiência incrível para o ator, deve aprender muito... Mas me impediria de fazer o que gosto de fazer, na hora que eu quiser”.
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Como Vencer na Vida Sem Fazer Força Temporada até 16 de junho Teatro Oi Casa Grande: r. Afrânio de Melo Franco, 290, Rio; tel. (21) 2511-0800 Quinta e sexta-feira, às 21h, sábado, às 17h e às 21h30, domingo, às 19h De R$ 30 a R$ 190