Por cadu.bruno
Rio - Ele ama o Rio e trabalha com um gênero musical essencialmente carioca, mas nasceu e vive até hoje no aguerrido e movimentado ABC paulista. Lançando o DVD ‘Nos Arcos da Lapa’, o pagodeiro Péricles lembra que, no começo de sua ex-banda, o Exaltasamba, o batuque era resistência em Santo André, onde mora, se criou e chegou a trabalhar como montador de carros.
O cantor tem altas lembranças gastronômicas da Lapa%3A ‘Já fui muito no Nova Capela’Divulgação

“Nos anos 80, ninguém lá tinha coragem de falar que gostava de samba. No ABC tinha muita banda de punk rock, tipo os Garotos Podres”, lembra o músico. Apesar de não ser do movimento punk, Péricles tinha amigos nele. “Tinha também o rockabilly, que era uma vertente muito forte por lá. Mas a gente, que era do samba, não se via espelhado nos amigos, não havia nem rádio que executasse isso. Fomos indo devagar e as coisas foram acontecendo.”

Gravado na Fundição Progresso, ‘Nos Arcos da Lapa’ ganha ares de homenagem ao samba dos anos 90, com o resgate de clássicos como ‘No Compasso do Criador’ e ‘Recado à Minha Amada’, do Katinguelê. Até hoje, Péricles mantém contato com músicos de grupos de pagode que começaram a carreira junto com o Exaltasamba, há duas décadas. “Meu irmão Breno toca no Katinguelê. E eu tive um programa de TV com o pessoal do Art Popular. Não deu para continuar, mas ficou a amizade”, recorda.

Músicas compostas com parceiros variados, como Arlindo Cruz (como ‘De Bem Com Deus’ e ‘Volta De Vez Pra Mim’) estão também no DVD, assim como visitas aos repertórios de Jovelina Pérola Negra (‘Sorriso Aberto’), Zeca Pagodinho (‘Quem é Ela’) e Samba Som Sete (‘Gueri-Gueri’).
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O extra ‘Pagode nos Arcos’ traz Péricles no terraço da Fundição, fazendo um som ao vivo com Zeca Pagodinho, Dudu Nobre, Leandro Sapucahy e, de novo, Arlindo, unindo nomes que comumente ficariam divididos entre os rótulos de “sambista” e “pagodeiro”.
“As pessoas tinham uma ideia de que samba era uma coisa e pagode, outra. Que o sambista fazia tudo musicalmente certinho e o pagodeiro, não. Mas isso está acabando”, diz Péricles que, no show, recebeu convidados ligados a um samba mais “jovem” e comercial: Xande de Pilares, do Revelação, em ‘Eta Amor’; San, do Sambô, em ‘Segura o Samba’; Mumuzinho em ‘Baratinado’ e a novata Ana Clara num dueto em ‘Nossos Planos’.
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“Ela é uma surpresa. Me convidou para participar do primeiro disco dela e agora retribuí o convite”, conta. “Nosso dueto tem muito a ver com o mundo do soul e do R&B. Sempre estou pesquisando coisas novas para trazer para o universo do samba.”
Com um primeiro DVD gravado em São Paulo (‘Sensações’, de 2012) e o novo registrado no Rio, Péricles visualiza a possibilidade de fazer os próximos DVDs em outros estados. “Depende da relação custo-benefício. É uma ideia legal. Mas meu segundo DVD tinha que ser mesmo na Lapa, que eu adoro”, alegra-se o rotundo cantor, cujas melhores lembranças do bairro carioca são gastronômicas. “O grande cartão-postal da Lapa tinha que ser o restaurante Nova Capela. Passei muitas noites lá, depois de shows do Exaltasamba”, revela.
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