Rio - Numa época de estrelas hollywoodianas glamourosas e inatingíveis, uma menina-mulher de cabelos soltos, maquiagem leve e roupas despojadas, de repente conquistou o mundo. O ano era 1958 e o símbolo sexual em questão era a francesa Brigitte Bardot, revelada no filme ‘E Deus Criou a Mulher’, de seu então marido, Roger Vadim. A história do mito volta a ser visitada em ‘Brigitte Bardot’ (Ed. Record, 322 págs., R$ 35), biografia da jornalista Marie-Dominique Lelièvre, recém-lançada no Brasil.
Com depoimentos de pessoas com quem BB conviveu e pesquisa em publicações da época, o livro não poupa detalhes negativos da história da atriz, como o filho que ela negligenciou ou sua relação dúbia com a imprensa: ela reclamava que era ‘vampirizada’, mas contava detalhes de sua intimidade quando era interessante para ela. Apesar disso, a autora é fã da loura e tenta contemporizar os aspectos negativos de sua personalidade e comportamento.
“Ela era uma heroína da minha infância. Quando eu tinha 8 ou 9 anos, achava que ela era a mulher mais bonita do mundo. Ela foi a primeira star no sentido moderno do termo: sua vida privada conta tanto quanto seus papéis no cinema. A pin up loura estilizada por seu marido (Vadim) rapidamente virou algo maior. Ela não somente agradava aos homens porque era sexy, mas também às mulheres, que desejavam viver que nem ela, como um dom-juan”, analisa Marie-Dominique.
“Bardot se comportava como um homem: escolhia seus amantes e os largava. Na época, era chocante. As leitoras se regalavam com a leitura do folhetim da sua vida amorosa”, conta a autora.
Mas nem sempre foi assim: durante muito tempo, a ‘bombshell’ se achou feia. “Ao longo da vida, Brigitte Bardot foi maltratada. Seus pais desejavam um filho homem: ‘Você é feia, burra e má’, disse a mãe dela, resumindo, diante dessa criança desgraçada pelo uso de um aparelho dentário e óculos de lentes grossas. BB é amblíope: ela não enxerga de um olho”, revela.
Mas o sofrimento da musa não parou com o status de símbolo sexual mundial. “Depois, foi a mídia que assumiu esse papel (de maltratar a artista). Perseguida por fotógrafos, Bardot viveu um inferno. Em uma tentativa de suicídio muito grave, os fotógrafos chegaram à clínica... antes da ambulância. Além do público, capaz de cuspir nela ou jogar pedras, conforme relatado pelas testemunhas que entrevistei. Hoje, a imprensa não poupa também”, critica.
Com 80 anos completados no último 28 de setembro, Bardot vive reclusa e é ativista dos direitos dos animais. Casou-se quatro vezes, a última delas, em 1992, com Bernard D’Ormale, um conselheiro político de Jean-Marie Le Pen, ex-presidente do principal partido de extrema-direita da França — o que, mais uma vez, rendeu diversas críticas à eterna musa.