Por thiago.antunes

Rio - ‘Assim como o vinho, quanto mais velho melhor”. A frase escolhida pela atriz Carol Marra explica sua melhor fase, aos 30. Há alguns anos, ela fizera uma operação para mudança de sexo. Deixou o corpo masculino no passado e viu sua vida despertar.

“Estou no auge, muito segura. Nada de crise”, assegura Carol, que trabalhou de forma andrógina por muito anos como editor de moda, maquiador, produtor e modelo. Até que, após sua transformação, se encontrou como atriz, fez séries, filmes e espera a oportunidade de um “diretor com olhar sensível” para atuar em uma novela.

Carol Marra%3A 'Tem que ser muito macho e seguro da sexualidade para estar comigo'Faya / Divulgação

No segundo semestre, as telonas vão ficar pequenas para Carol, quando ela estreia dois longas: o suspense policial ‘Berenice Procura’, em que vive sua primeira vilã, e no drama ‘A Glória e a Graça’, onde interpreta a filha adotiva do personagem transexual de Carolina Ferraz. Para viver a dançarina stripper do filme de suspense, Carol viu seu corpo mudar. “Tive que abandonar o corpo de modelete e tive que ganhar mais formas, em três semanas”, explica. O resultado, ela avalia como positivo. “Gosto de ter definição. Nunca achei bonito o visual panicat. Por ser uma transexual, quero ter formas femininas. Os traços masculinos quero abolir do meu corpo.”

No longa em que contracena com Carolina Ferraz, Carol Marra destaca a importância da discussão sobre os transexuais. “É um tema que está em alta. A sociedade não entende o que é transexual, travesti, drag queen. Transexual é a pessoa que não se sente confortável no corpo em que nasceu. O travesti penetra o parceiro, o transex repudia o pênis. Quando falam em transex logo remetem à coisa da esquina, da prostituição, muitos até fazem isso, mas por falta de oportunidades. Tive a chance de trilhar outro caminho, mas não foi fácil.”

O bom humor de Carol impressiona. Quem tem o prazer de bater um papo com ela nem imagina o quanto ela sofreu na infância e na adolescência. “Ser mulher não é só ter uma vagina. Reduzir a gente a um pedaço de carne é deprimente. Sou mulher desde que nasci. Sofri muito bullying, não trouxe nenhum amigo daquela época. Não podia usar o banheiro da escola que os meninos me batiam, as meninas não me aceitavam e eu não me identificava com os gays, não queria ser aquilo.”

Ela fez nariz, colocou seios e fez questão de diminuir a testa. “Não queria testa grande, aquele visual de Maria Bethânia”. Carol também tirou gordura do abdômen e remodelou o rosto. “Sai caro ser mulher, por isso que os homens têm que valorizar a gente. Então, por favor, homens, não nos deem bolo”, diz, aos risos. 

Carol Marra é atriz/modelo%2C e foi a primeira transexual a protagonizar a campanha internacional da vodka AbsolutFaya / Divulgação

A cirurgia, “um processo burocrático”, como ela avalia, não costuma ser pauta na vida da atriz, que protagonizou a nova campanha mundial da Vodca Absolut. “O que não é pra gente ter, a gente tira. Agora, a TPM que eu sinto mais. Uma vez, arriei os quatro pneus de um cara que roubou minha vaga no estacionamento”, diverte-se.

Seu status está ‘solteira’ atualmente, mas Carol quer se casar como manda o figurino: “De preferência virgem”, declara, às gargalhadas. “Homem tem um monte querendo sair comigo. Dizem que sou linda, princesa, mas isso até a página 2. Quando digo que sou transexual a coisa muda, não querem andar de mãos dadas, não querem me beijar. Tem que ser muito macho e seguro da sexualidade para estar comigo.”

Primeira atuação 

Entre suas lembranças engraçadas, Carol conta que uma vez, antes de ela operar, um cara deu um ataque ao tocar em suas partes íntimas. “Ele deu um murro no painel do carro me chamando de traveco, achei que fosse me bater. Foi aí que fiz minha primeira atuação como atriz da vida real. Chorando, virei para ele e falei: ‘Que homem insensível é você que confunde um absorvente com um saco? Eu estou menstruada!’. O cara ficou todo sem graça, me pediu desculpas, mandou flores no dia seguinte. Fugi dele para o resto da vida”, divertiu-se.

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