Rincon Sapiência
Rincon SapiênciaJef Delgado/Divulgação
Por Filipe Pavão*
Rio - Sentir-se representado na arte, seja por uma música, uma peça de teatro ou um filme, é importante principalmente para as minorias sociais. Rincon Sapiência sabe disso e busca representar a quebrada que nasceu no single "Cotidiano", seu mais recente lançamento que une o rap e o funk consciente. “Quero ser representativo para as pessoas que têm a mesma origem que eu, que dentro desse cotidiano trabalham, pegam condução e vivem uma situação delicada por conta da pandemia”, afirma o rapper.
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“Quando você faz um videoclipe e mostra a sua quebrada, isso é representativo. As pessoas enxergam o visual do clipe e veem que as pessoas dele são parecidas com as do seu bairro, que as ruas são parecidas, que não se trata de um ambiente totalmente forjado. O legal é sempre representar esse lugar que eu vim, o Cohab 1, mostrar a geografia do bairro”, conta Rincon sobre o clipe dirigido por Moysah.
Assim como em "Ponto de Lança”, seu maior sucesso, "Cotidiano" também conecta o rap ao funk. Desta vez, não é ao 150 BPM, mas sim ao funk consciente, que é mais arrastado, menos dançante e ganha cada vez mais as ruas de São Paulo. Para o rapper, misturar estilos está no seu DNA musical, assim como no da música brasileira.
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“O rap é a minha área de expressão, é o meu jeito de compor, mas, na prática, esse rap pode acontecer de várias formas, inclusive, se aliando ao funk. Se você pensar, o Brasil sempre foi bom em novas linguagens. Você pega um som que não é o samba, nem o jazz, é a bossa nova, uma ideia brasileira que surge inspirada em coisas que já existem, igual o samba rock. A gente sempre teve condições de criar, como o brega funk, o funk consciente, o funk 150 BPM, que é típico do Rio de Janeiro”, diz o cantor.
Quebrando barreiras
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O rap, assim como o funk, é um estilo musical que vem originalmente da periferia. Por isso, ao longo do tempo, sofreu uma série de preconceitos para alcançar espaço e destaque que tem hoje. Rincon destaca que o estilo conquistou seu lugar na cultura brasileira e nas paradas de sucesso, tratando desde questões afetivas, festa e divertimento, até assuntos sociais mais sérios.
“É o gênero musical mais escutado do mundo e o Brasil, por sua vez, tem uma propriedade muito boa para se fazer raps, inclusive, fora do eixo Rio-SP. O Djonga é de Minas, Hungria é do DF, Matuê é de Fortaleza, no Nordeste tem surgido muitos... Isso faz o rap estar bem posicionado no mercado. Mas dentro do gênero também existem recortes. Quando se trata do artista preto ou preta, da sua origem e da sua proposta de rap, ainda não é tão democrático e existe um limite de alcance. Eu ainda vejo a gente galgando espaço, mas o que o rap já conquistou no Brasil é muito relevante”, destaca Rincon.
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Esperança e otimismo
Em “Cotidiano”, Rincon mostra as pessoas, os becos e vielas da quebrada sob uma ótica otimista. Ele revela que a proposta da música é ter um caráter de ajuda e dar energia para o ouvinte conseguir lidar com as situações do dia a dia. Questionado se ele é assim no seu próprio cotidiano, ele revela que é esperançoso e que acredita no potencial das pessoas para superar as adversidades.
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“Existem lideranças para tratar de determinadas questões... E, infelizmente, falando do Brasil, nós temos muitas lideranças despreparadas e incompetentes fazendo com que as coisas sejam mais difíceis. Mas eu acredito nas pessoas. E existem muitas que são bem-intencionadas e que possuem boas ideias em várias áreas, seja no entretenimento ou na política”, reflete o rapper.
Próximos planos
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A falta de controle da pandemia no Brasil ainda não permite que o artista retorne aos palcos para encontrar os fãs. Porém, ele promete que o público pode esperar mais lançamentos musicais em 2021. "É um ano bastante delicado por várias questões, mas eu tenho conseguido manter o meu trabalho criativo, de composição e de gravação, que continua fervilhando na minha cabeça. Pelo material que tenho produzido, posso afirmar que as pessoas podem esperar bastante coisa da minha parte”, revela.
* Estagiário sob supervisão de Tábata Uchoa