A atriz Cacau ProtásioDIVULGAÇÃO

Rio - Aos 46, Cacau Protásio está prestes a estrear sua primeira protagonista nos cinemas com o lançamento de “A Sogra Perfeita” na próxima quinta-feira (25). Com orgulho, no Dia da Consciência Negra, a atriz reflete, em entrevista ao DIA, sobre ser uma mulher preta, gorda e acima dos 40 em nossa sociedade, além de comentar a chegada do novo filme às telonas.
No longa dirigido por Cris D’Amato, Cacau interpreta uma personagem feita especialmente para ela, a Neide, uma cabeleireira de sucesso e mãe de dois filhos. Aos 45, Neide deseja que o filho mais novo encontre um amor e saia de casa para que ela possa curtir a vida, ir a festas, namorar, dançar e beber. Por isso, cria diferentes planos para juntá-lo com uma nova funcionária do salão.
“É muito bom você ser protagonista em um filme. É especial, ainda mais eu sendo uma mulher preta e gorda. A gente sempre soube que seria difícil, mas esse momento chegou… A Paris Filmes me chamou para fazer a Neide e eu amei tudo: os personagens, Rodrigo Sant’Anna, Evelyn Castro, conhecer pessoas que nunca tinha trabalhado. Todos os que chegaram foram presentes na minha vida”, diz Cacau.
"A Neide é uma mulher empoderada, realizada, feliz, amada e desejada, até o ex-marido quer a Neide. Ele tem as 'peguetes' dele, mas ainda ama essa mulher. Eles têm um relacionamento mal resolvido. O salão de beleza dela fica atrás da oficina do ex-marido e ele ainda tenta voltar para aquela família", completa a atriz.
Felicidade aos 40
Assim como a personagem, Cacau também se sente realizada aos 46 anos. “Eu falo assim: ‘se eu morrer amanhã, eu fui muito feliz até hoje. Sou devota de Nosso Senhor Jesus Cristo, então, Deus me deu tudo que eu merecia. Me realizei em tudo, só não fui mãe. Se ele me der a graça de ser mãe, seja por adoção, ou uma cestinha aqui na porta, ou engravidar, não importa, eu vou ser feliz. Se ele não me der a graça, sigo feliz”, reflete.

"Minha vida começou realmente aos 40. Casei, me realizei profissionalmente, minha vida melhorou, se eu disser que fiquei rica, estou mentindo, mas viajei, conheci a Europa e os Estados Unidos, comprei minha casa própria, meu carro. Consegui coisas que eu pensava que nunca fosse ter. Tudo bem que isso não é tudo. Ter saúde e trabalho é o que mais importa. A gente passou pela pandemia e viu que dinheiro não é nada. Não estou poetizando a pobreza… Mas sou muito realizada e grata", completa Cacau.
Ela ainda reforça que é muito bem resolvida com o próprio corpo e não liga para achismos. "Se a gente está bem resolvido, a gente não precisa ligar para o que o outro está achando. Hoje, luto com o corpo em relação à saúde. Como estou muito acima do peso, sinto dor no joelho e não tenho tanto preparo físico, então, faço academia todo dia para ter o preparo físico que a nossa profissão pede. Mas eu me amo gorda, tenho um marido que me deseja todo dia. Falo igual Tati Quebra Barraco: ‘quem está comendo, não está reclamando’", brinca.
Representatividade
Cacau conta que começou a refletir sobre racismo após atuar na TV e sofrer preconceito na pele. Quando era criança, o tema não abordado por sua família, mas, hoje, ela comemora a visibilidade que tem para fazer denuncias.
“Dou graças a Deus por ser preta, gorda, poder ter voz e falar sobre, além de denunciar o que acontece comigo e representar outras pessoas. Todos os dias, temos milhares de casos aparecendo, não fica mais escondido, essas pessoas cruéis estão sendo vistas e expostas. Faz com que elas pensem dez vezes sobre isso. Ou elas se tornam piores, ou param de agir”, diz ela, que critica quem justifica preconceitos com religião.
"Sou católica, rezo o terço da misericórdia todos os dias. Você pensa que Deus está preocupado com o que? Com o nosso coração, a nossa caridade e o amor ao próximo, não com as coisas que nós, de carne e osso, estamos ligando. Graças a Deus, a nova geração tem coragem para falar sobre gay, negro, amor ao próximo e está crescendo livre", reflete a atriz.
“Vai Que Cola”
Além da estreia no cinema, Cacau está no ar com a nona temporada de “Vai Que Cola”, no Multishow. A atriz diz que o sucesso e a longevidade do programa vem da identificação que causa nas pessoas.
“Todo mundo tem alguém parecido com algum personagem do 'Vai Que Cola', toda família tem uma tia escandalosa, tem um gay, tem um mãe, uma periguete, um maluco… Eles brigam, mas se amam. E na vida real é assim também. Somos uma família. Quando sai burburinho de que o elenco está brigando, é mentira. A gente se ama”, revela Cacau.
Primeira temporada produzida após a morte de Paulo Gustavo, vítima da Covid-19 em maio, a atriz relembra a memória do amigo. “É igual família. A vida não segue quando a gente perde alguém? O espetáculo não pode parar. Mas ele faz falta, a gente lembra dele toda hora, seja pela foto dele no cenário ou pela pensão do Waldo.. Não tem como esquecê-lo, ele era intenso, não era ligado em 220v, era ligado no 880v. Tinha uma energia surreal, era generoso e amigo”, finaliza.