Nando Reis lança o álbum "Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro", em vinilCarol Siqueira / Divulgação

Rio - Imagina poder interagir com seu ídolo e assistir aos shows dele sem sair de casa! Os fãs de Nando Reis já podem sentir o gostinho dessa experiência através do 'NandoVerso', sua plataforma personalizada no metaverso, onde o usuário cria seu avatar e confere tudo relacionado ao artista de maneira virtual. Pelo valor de 5 dólares (cerca de 25 reais), o público ainda pode ver o documentário, que faz parte da comemoração do lançamento do álbum "Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro", gravado em 2000, em Seattle, nos Estados Unidos. O trabalho musical, inclusive, agora é disponibilizado em vinil. 
Nando Reis admite que toda essa experiência é uma grande novidade para ele. "É muito maluco. Não existe o contato presencial, ele se dá por meio desse avatar. É interessante. O 'NandoVerso' amplia as possibilidades. É uma cultura, linguagem, bem nova pra mim. Mas daqui a um ano posso ter mais coisas a dizer. Acho incrível uma pessoa ver um show que vou fazer por aqui, por exemplo", avalia o artista, de 59 anos, que explica o real motivo de estar se inserindo em todo esse meio digital. "A gente usa isso como ferramenta pra divulgação do meu trabalho. O propósito é a aproximação e a comunicação. Há o desejo de que aquilo que a gente faça toque as pessoas. Vou morrer e minha música vai ficar. Se as pessoas que estiverem vivas a ouvirão não sei. Tomara que sim. E como ouvirão? Muito menos posso saber". 
Apesar de estar no 'metaverso', o cantor confessa que gosta mesmo é de fazer LP. "A música não é material, mas tem suportes. Metaverso, pra mim, é uma novidade, já estou sacando o que é. Mas gosto de fazer LP, sou fazedor de disco, eu amo. Ele ainda é um objeto de fascínio, o som é magnífico e é uma experiência multissensorial. Estou muito feliz que esse disco agora existe, lindão, uma bolacha com tudo aquilo que é a nobreza das artes. A junção da música com as artes plásticas, não tem nada melhor que isso", opina. 
Por outro lado, Nando ressalta que não é nostálgico. "Quero desfazer a ideia que sou saudosista e nostálgico por gostar de LP, tanto que estou aqui investindo muito nessa forma (digital). Lido com a comunicação. A era digital amplificou e mudou o conceito de apenas físico. Mas minha relação com a música, da forma pessoal... Estou na minha casa e diante da minha coleção de discos, sou fascinado por reggae. É uma coisa magnífica, comprar e ouvir esses discos", afirma ele. "Tenho uma opinião um pouco crítica em relação a qualidade da música, como ela reproduzida e oferecida por diferentes mídias, é muito pessoal. Fico feliz que a minha música, de diferentes maneiras, esteja presente na vida das pessoas. Que seja no celular, no YouTube, onde é não me cabe. Que bom que existem formas diferentes de consumo, porque somos bilhões de pessoas diferentes", reflete. 
Documentário
O documentário “Cordas de Aço – Em Busca do Pote de Ouro” conta a história da gravação do disco, em 2000, com cenas e fotos da época, mostra bastidores da reedição do álbum e reúne depoimentos do cantor, dos jornalistas Pedro Alexandre Sanches e Lorena Calabria, do produtor Jack Endino, e dos integrantes da banda original: o baixista Fernando Nunes, o tecladista Alex Veley, o guitarrista Walter Vilaça e o baterista Barrett Martin.
Nando fala como foi assistir a produção dirigida por Raimo Benedetti. "Foi muito emocionante. Assisti várias vezes. Verei de novo. Adorei ver o que cada um dos meus amigos ali contou sobre sua experiência, a forma como lembra, se relaciona com o disco e tudo isso colocado dentro do conceito desse documentário, que é muito amarrado. Ele apresenta meu pensamento, o processo como eu crio de uma maneira muito bonita, coesa", vibra.
Ele ainda se emociona ao relembrar da amiga Cássia Eller, que faleceu em 2001, aos 39 anos. "Vou te dizer... tem um momento incrível nesse disco. A Cássia canta, tem a música 'All star', que fiz sobre nós dois, tem fotos dela. As vezes que vi chorei. Esse disco tem uma importância grande, me remete a um período de descobertas, coisas decisivas na minha vida. Lembrar e rever na perspectiva da ótica da pessoa que sou hoje... só falta a Cássia e o Tom Capone (que morreu aos 37 anos, em 2004). Esses dois amigos que perdi precocemente. Tem tudo: tem a saudade, a constatação da presença, é emocionante. Gosto, porque música sem emoção, a mim não me diz nada, não me interessa".
Mudanças após duas décadas
Nando também reflete sobre as mudanças pessoais e profissionais depois de 22 anos de carreira. "Sou um pouco avesso a esse conceito do amadurecimento como fosse uma coisa linear, um processo, quase um dever. No entanto, há transformações. Acho que me aprimorei. É curioso, me reconheço essencialmente ali. De certa maneira ainda me invejo: 'Nossa, como era criativo, será que ainda sou?' 'Que disco maravilhoso'. Aquilo foi uma descoberta, depois que está descoberto, você tem que descobrir outra coisa, ao longo de 22 anos. Acho que eu produzi muita coisa e muita coisa boa, distinta. Ao mesmo tempo a experiência tem um lado meio acumulativo, de aprendizado. Me sinto melhor, feliz de estar vivo, da maneira como estou aos 59 anos. Eu que atravessei períodos muito turbulentos, minha relação com meus excessos, hoje sou um cara mais sereno. Tenho aflição quando penso em voltar pra trás, me dá um medo terrível se tivesse que viver tudo de novo. Então, estou bem como sou, as transformações se deram as custas de muito acerto e erros". 
Parcerias musicais
O artista exaltou o cantor Jão, com quem dividiu os vocais na música 'Sim', ao falar sobre suas parcerias musicais. "Sou muito receptivo a convites ou a pessoas que se interessam pelo meu trabalho, tenho uma disposição para fazer esses duetos, feats com artistas diferentes e jovens. Primeiro tem uma afinidade e, muitas vezes, uma empatia vinda de uma intuição. O Jão, ouvi a música dele, aquele fenômeno... Me intrigam os fenômenos. Quando uma pessoa surge e desperta essa paixão é sempre um mistério, fascinante. Quando fiz o convite mal imaginava a beleza do resultado do nosso encontro e a maneira como ele cantou a música. Vi, ouvi e presenciei um cantor de altíssima qualidade mesmo sendo um rapaz jovem. A apropriação dele quando cantou minha música, a beleza onde ele a levou, me encantou. Acho que é um dos duetos mais bonitos que fiz. Ele me conquistou depois que eu o conheci. Antes era só uma sugestão. Meu trabalho é muito disso, uma sensibilidade que não se explica. Não é um trabalho braçal, ele vem de forma mágica, misteriosa".