Marcelo Adnet e Leticia Lima protagonizam a comédia Nas ondas da féPeter Wrede

Rio - O ator Marcelo Adnet, de 41 anos, é produtor e protagonista do longa "Nas Ondas da Fé", que estreou no último dia 12 nos cinemas brasileiros. No filme, o humorista vive Hickson, homem que luta de todas as formas possíveis para pagar os boletos e acaba conseguindo um emprego em uma rádio evangélica. Com talento, carisma e um empurrãozinho de Jéssika (Letícia Lima), Hickson se torna um pastor de sucesso e conquista fiéis e muito dinheiro. "É a jornada de um cara como milhões de brasileiros, um cara que poderia ser muitos de nós", afirma o artista sobre seu personagem.
Adnet revela que uma das dificuldades de produzir o longa foi torná-lo atual. Apesar de ter sido lançado em 203, a ideia de falar sobre religiosidade nas telonas surgiu em 2015 e as filmagens começaram em 2018. No entanto, "Nas Ondas da Fé" demorou a ser lançado por conta da pandemia. "Filmamos em 2018 e quando a gente ia lançar o filme aconteceu a pandemia. Então, desde a ideia até o lançamento, eu pensei: 'Bom, vai ficar um filme datado. Esse bonde vai passar, o Brasil vai andar para outro lugar e essa história pode perder um pouco o sentido', mas não aconteceu isso. Acho que a história que a gente conta ganhou ainda mais sentido", analisa o ator. 
Religião é um assunto delicado e o humorista revela que ficou sim preocupado com a forma como o público receberia o longa. "É um filme bastante respeitoso, a gente tomou bastante cuidado com isso. Mas eu temo mais por quem não vê o filme e acha que a gente está tirando uma onda com a cara de alguém ou com a fé. Não é isso. O filme, em nenhum momento, questiona a fé. Ele questiona a corrupção dos homens. Não é útil para ninguém perceber os evangélicos de forma preconceituosa", afirma.
Para o ator, o longa é uma comédia, mas também tem a sua dose de drama. "É um filme que tem uma história, tem um drama por trás das situações cômicas". Ele ressalta também importância do comédia no Brasil: "Acho que a comédia sempre teve um lugar muito caro no coração dos brasileiros."
Adnet revela que construiu Hickson, seu personagem, através da observação de alguns pastores. "Eu via na performance, no desempenho deles, algo de charlatanismo e algo de talento também. São pessoas que se comunicam muito bem, que conseguem empreender uma multidão apenas com um microfone e com a fé".
O humorista conta que se encantou pela forma como esses religiosos trabalhavam e que percebeu que o carisma os fazia ter sucesso. Para Adnet, o interessante de Hickson é representar lados opostos. "Ele tem uma face de fé, e por outro lado ele tem uma face humana. Portanto, está sujeito a erros, corrupções, etc. É contraditório."
Marcelo Adnet revela que Jéssika, personagem de Letícia Lima, também é um tipo comum nas comunidades e periferias brasileiras. "Isso acontece muito nas periferias do Brasil, você tem a mulher que corre atrás, que acredita, que não tem vergonha de se expor, de tentar. Foi o primeiro personagem que a gente viu de pé, acontecendo, a Jéssika. E desde a primeira leitura a gente falou 'caramba, está feito, não tem como não ser a Letícia'".
Questionado sobre a importância de trazer a religião para o cinema brasileiro, Adnet afirma que este ainda é um tabu e ressalta a importância de quebrá-lo. "Acho que é um tema real. Muita gente considera tabu. Eu acho que tabus existem para a gente quebrá-los, com cuidado, inteligência e sensibilidade. Então, a mensagem é essa, da gente olhar através do muro. É um convite para a gente olhar por essa fresta na porta que esse filme proporciona. Ao mesmo tempo que a gente se diverte, a gente também se questiona".
Reportagem da estagiária Rebecca Henze sob supervisão de Tábata Uchoa