Luiz Antonio SimasPaulo Barros / Divulgação

Rio - O jogo do bicho sob o olhar da cultura popular. É por esta perspectiva que o historiador e pesquisador carioca Luiz Antonio Simas, de 56 anos, escreveu o livro "Maldito invento dum baronete: Uma breve história do jogo do bicho", que será lançado neste sábado (22), no AlfaBar, em parceria com a Folha Seca, no Centro.

Na obra, editada pela Mórula, Simas investiga as origens do jogo e seu cruzamento com diversas formas de expressão, como o samba, futebol e até mesmo sonhos. O objetivo, segundo o escritor, é mostrar que o jogo do bicho está, de certa forma, enraizado na cultura da cidade, tanto para o bem quanto para o mal.


"Está relacionado com a popularização do futebol, com a música popular, com as culturas de rua, com o crime, com o mercado informal de trabalho... Você pode gostar ou não, mas é impossível contar uma certa história do Rio de Janeiro republicano sem ter o jogo como referência", introduz o autor.

História

O jogo do bicho foi criado em 1892 pelo Barão de Drummond, fundador do Jardim Zoológico, em Vila Isabel, na Zona Norte. Com o objetivo de atrair visitantes e sair de uma crise financeira, o dono promoveu um sorteio a partir da compra de um ingresso, que vinha com a estampa de um animal. No fim do dia, abria-se uma caixa com diversas imagens dos bichos, e quem tivesse comprado a foto do animal sorteado levava o prêmio.

"É um jogo muito marcado pela imagem. Com isso, eu e a Mórula resolvemos fazer um livro muito marcado também pela imagem", explica. E assim nasceu a narrativa desta trajetória, contada a partir dos animais.

"São 25 capítulos porque são 25 grupos do jogo do bicho. Cada capítulo se refere a um animal. Não é gratuito. Sempre relaciono o bicho com alguma história. Por exemplo, o capítulo 1 é o avestruz, e falo sobre a criação do jogo, que tem uma relação direta com esse animal, o primeiro a ser sorteado na história", esclarece Simas.

Como nasceu o livro

A ideia de explorar o tema não foi por acaso. Além de o historiador ter crescido ouvindo histórias sobre o jogo, o mergulho que ele deu no estudo sobre as culturas de rua do Brasil para os mais de 20 livros publicados, como o "Dicionário da história social do samba" (Civilização Brasileira, 2015), escrito em parceria com Nei Lopes, abriu as portas para esta produção.

"Eu tenho bastante texto sobre botequim, samba, futebol, religiosidades populares do Rio de Janeiro, e, lendo e pesquisando sobre tudo isso, vi que o tempo todo o jogo do bicho se apresentava como um elemento fundamental", lembra. "Como eu me considero um interessado nas culturas de rua do Brasil, de uma forma geral, e do Rio, de uma forma mais particular, eu achei que era a hora de desenvolver um trabalho específico".
Simas comenta que planeja escrever o livro desde antes da pandemia de covid-19. "Na época, eu dei depoimentos para duas séries, 'Lei da Selva' (Canal Brasil, 2022) e 'Vale o Escrito' (Globoplay, 2023), em cima do que eu já havia estudado. E como eu sempre convivi muito de perto com essa cultura do jogo do bicho, acho que estou fazendo essa pesquisa desde criança”, brinca.

O escritor relata algumas curiosidades que descobriu ao longo da pesquisa para o livro. "Eu vi coisas, por exemplo, ligadas a um entusiasta que adorava o jogo do bicho, o Carlos Drummond de Andrade. Ele escreveu uma crônica defendendo a legalização do jogo na década de 1970", recorda o pesquisador, ressaltando que o jogo foi legalizado somente por três anos, até 1895, sendo, até hoje, uma contravenção.
Expectativas

No entanto, Simas aponta alguns desafios neste processo: "Um risco é romantizar o jogo do bicho, esquecendo que, a partir de um certo momento, está vinculado a um universo de atividades criminosas, que é muito complexo. Por outro lado, há um problema de só criminalizá-lo".

Sobre a recepção do público ao livro, o autor não descarta uma divisão de opiniões. "Eu não serei acusado nem por quem só quer ver o crime, nem por quem só quer ver o lado romântico. Tem capítulos especificamente ligados a atividades criminosas, mas há também histórias para quem gosta de interpretar sonhos", exemplifica. "Acho que o livro, de certa maneira, dá conta da complexidade do jogo, que atravessa a vida da cidade de forma muito intensa".

"Maldito invento dum baronete: Uma breve história do jogo do bicho" será lançado em um bar no coração do centro da cidade, acompanhado de uma roda de samba. Porém, o autor tem planos de divulgá-lo em outros locais, como nas raízes da obra. "Quero ver se faço depois um circuito de botequins e no próprio Jardim Zoológico de Vila Isabel, onde hoje é o Parque do Trovador", finaliza.
Serviço:
Lançamento do livro "Maldito invento dum baronete: Uma breve história do jogo do bicho"
Data: 22 de junho de 2024
Local: Alfabar – Rua do Mercado, 34 – Centro
Horário: A partir das 14h
Roda de samba comandado por Tiago Prata