Rio - O carnavalesco Mauro Quintaes, de 58 anos, um dos cinco integrantes da comissão de carnaval da Unidos da Tijuca, suspeita que uma "fadiga" do ferro usada na estrutura do carro alegórico tenha provocado a queda de integrantes da escola durante o desfile na noite de segunda-feira.
Duas pessoas ainda permanecem internadas. Uma delas deverá ter alta médica ainda nesta manhã e a outra permanece em observação. Elas estão internadas nos hospitais municipais Souza Aguiar, no centro do Rio e no Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca.
O acidente deixou 12 feridos no total. Porém, foram feitos 20 atendimentos médicos por causa do acidente, já que algumas pessoas precisaram receber assistência devido à ansiedade e ao nervosismo provocados pelo acidente.
"Em 32 anos de carnaval nunca vi nada parecido. Fizemos ensaios desde dezembro em cima do carro e nunca houve nem indício de problema. Os bombeiros fizeram a vistoria e também aprovaram, sem suspeitar de nada. Foi uma fatalidade", afirmou.
O carro "Nova Orleans" era o segundo da escola e representava a cidade norte-americana famosa pelo jazz e até pelo seu carnaval típico. Na parte central havia oito quartos, que representava os bordéis da cidade. Cada um tinha uma varanda, onde um casal faria coreografias interpretando prostitutas com seus clientes. Foi essa estrutura dos quartos e varandas, que segundo Quintaes ficava a cerca de 10 metros de altura, que desabou para dentro do próprio carro, levando ao chão quase todos os 16 casais que representavam - algumas pessoas conseguiram saltar e se agarrar a outra parte do carro.
Essa outra parte do carro era fachadas laterais independentes da parte central, que por isso permaneceram intactas. O carro desfilou com essa estrutura, onde outro grupo de pessoas interpretava foliões no carnaval de Nova Orleans. O lugar em que haveria quartos, prostitutas e clientes foi ocupado por bombeiros, que atravessaram a Sapucaí monitorando a situação da alegoria.
Como todo carro alegórico montado na Cidade do Samba (área situada na Gamboa, no centro do Rio, que reúne os 12 barracões das escolas de samba do Grupo Especial), o "Nova Orleans" saiu do barracão com 5,5 metros de altura. Só assim a alegoria consegue seguir até a concentração do sambódromo, passando por viadutos e outros obstáculos. Ao chegar ao sambódromo, os carros terminam de ser montados.
Essa estrutura que caiu foi transportada no nível do piso do carro. Ao chegar à concentração, segundo Quintaes, foi acionado um sistema hidráulico que elevou a estrutura à altura prevista, de dez metros. "O sistema hidráulico só faz a elevação. Depois a estrutura é travada na altura definitiva, e já estava assim quando ocorreu o problema", conta o carnavalesco. Ele descarta problema no sistema hidráulico, portanto.
"Acabei de assistir as imagens e vi que o lado direito tomba para o lado. É uma alegoria que foi testada no barracão, os componentes sobem na alegoria, fazem a dança, então foi uma fatalidade, uma fadiga de algum material", afirmou Quintaes.]
O promotor de vendas Leonardo Alves, de 36 anos, era um dos "clientes" que desfilariam na parte que desabou. "Foi muito rápido, de repente caiu tudo. Eu consegui saltar e me pendurar na outra parte, então não fui pro chão e não me feri. Mas minha parceira, Sandra, caiu e até agora não sei seu estado de saúde. Não a vi mais", contava, tenso, às 4h30 desta terça-feira.
"Treinamos a coreografia em cima do carro toda semana, desde dezembro, e não houve problema nenhum. Não sei explicar", afirmou Alves, que desfilaria pela sexta vez na Unidos da Tijuca, a maior parte delas sobre carros alegóricos. "Nunca imaginei uma situação dessa", resumiu.
Em nota, a Liesa se manifestou sobre o acidente com o carro da Unidos da Tijuca. Segundo a Liga, em 33 anos de existência do Sambódromo houve poucas ocorrências dessa natureza envolvendo carros alegóricos. A entidade afirmou que aguarda a conclusão da perícia para esclarecer as causas.
A Unidos da Tijuca também se manifestou oficialmente através de sua assessoria de imprensa. Segundo a agremiação, as causas do acidente serão devidamente apuradas e será fornecida toda a colaboração necessária às investigações.
Leia na íntegra as notas oficiais:
Liesa
A Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) vem a público manifestar sua preocupação com os episódios ocorridos nos desfiles desse domingo e segunda-feira. Em 33 anos de existência do Sambódromo, inaugurado em 1984, houve poucas ocorrências dessa natureza envolvendo carros alegóricos. A entidade aguarda a conclusão da perícia para esclarecer as causas, dando todo suporte institucional e operacional.
A Liesa lamenta profundamente os ocorridos e informa que se reunirá com todas as agremiações para realizar os ajustes que se fizerem necessários, buscando sempre o aprimoramento do espetáculo.
Unidos da Tijuca
A Unidos da Tijuca, nesse momento, preocupa-se em dar toda a assistência aos envolvidos no acidente. As causas serão devidamente apuradas e será fornecida toda a colaboração necessária às investigações.
Com informações de Estadão Conteúdo