Por caio.belandi

Rio - Quadra lotada, torcidas uniformizadas em festa com balões e camisas estilizadas, diversos sambas entoados pela comunidade. Assim é o cenário de uma disputa de sambas enredos nas principais agremiações de carnaval do Rio de Janeiro. Mas não será assim na Paraíso do Tuiuti este ano.

A escola de São Cristóvão inovou no Grupo Especial e encomendou letra e música para o enredo "Meu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão?", que abordará os 130 anos da Lei Áurea. A forma de escolha do samba é conhecida no Grupo A, onde a Renascer de Jacarepaguá encomenda seus samba-enredos há quatro anos.

Nino do Milênio será o intérprete de "Meu Deus! Meu Deus! Está extinta a escravidão?", enredo da Paraíso do TuiutiEduardo Hollanda/Divulgação

A Azul e Ouro chamou membros da ala dos compositores da escola para escreverem o samba, apresentado na quadra no dia 7 de julho. Os autores Moacyr Luz, Cláudio Russo, Dona Zezé, Aníbal e Jurandir são conhecidos da comunidade e tiveram seus sambas cantados no Sambódromo em anos anteriores.

O ganho técnico foi levado em consideração quando o presidente da escola, Renato Thor, reuniu os setores da agremiação para estudar a decisão. O diretor de carnaval, Leandro Azevedo, explica que uma disputa pode resultar, por vários critérios, em sambas não tão bons na avenida. "O samba encomendado atende a escola, os compositores acertaram a mão", admite.

Entusiasta da decisão, Azevedo também lembra da crise financeira que o país atravessa. Sem ter que abrir a quadra todo fim de semana durante dois ou três meses, a Paraíso do Tuiuti economiza uma verba considerável, unindo o útil ao agradável. "Já podemos trabalhar o samba junto com a comunidade. Ganhamos tempo e não temos muitos custos", argumenta.

Disputas devem ser revistas, diz compositor

Azevedo acha que a encomenda dos sambas pode virar tendência caso a iniciativa dê certo. "Se os jurados derem nota máxima da disputa, significa que foi uma medida acertada", afirma.

Um dos compositores escolhidos foi Cláudio Russo, que acredita ser maior a responsabilidade na mãos dos autores quando não há disputa. "Quando há disputa, a obrigação é da escola escolher o melhor. Quando nos delegam, sem disputa, nós temos que fazer o melhor", explica.

Russo se diz favorável ao modelo tradicional, mas reconhece que, em casos como o da Tuiuti, a encomenda é a melhor medida a ser feita. "Decisão pontual e peculiar a esse enredo e ao momento da escola. A Tuiuti precisava de um grande samba, por ser um enredo sobre abolição, sobre o negro. Foi uma boa escolha", acredita.

O compositor afirma que o sistema de disputas nas agremiações deve ser revisto. "Não sou contra as disputas, mas acho que devem ser repensadas. O modelo está se tornando ultrapassado. São caras e longa. Às vezes, as quadras ficam esvaziadas, já que com a violência, pouca gente quer sair à noite para assistir. É muito cansativo".

Confira o clipe oficial do samba enredo da Paraíso do Tuiuti para 2018

Reportagem do estagiário Caio Bellandi, sob supervisão de Marlos Mendes

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