Bloco Imprensa Que Gamo desfila pelas ruas de Laranjeiras há quase 30 anos Reprodução / Redes Sociais

Rio - O tradicional bloco Imprensa Que Eu Gamo fará seu último desfile na Zona Sul, em 2025. No ano em que completa 30 Carnavais, o coletivo, fundado por jornalistas, promete uma grande celebração, repleta de homenagens aos componentes e frequentadores.
Fundadora e diretora do bloco, a jornalista Rita Fernandes, de 62 anos, explica que a decisão foi tomada a partir de vários fatores, que vão desde a burocracia e os altos custos, até a mudança de perfil do público e do mercado de trabalho no jornalismo. Para ela, todas essas questões deixam a folia muito mais cansativa do que divertida para os organizadores.
"São várias exigências, e ficou muito burocrático o processo de colocar um bloco na rua. Hoje, a gente se vê diante de uma série de burocracias, legalizações, custos muito elevados e uma dificuldade enorme de ter apoio financeiro e patrocínios. Tudo isso trouxe um desgaste para a diretoria e foi nos cansando, nos tirando o ânimo. Acabou perdendo a graça de fazer a folia. Entendemos que tem que ter normas de segurança, mas a gente está cansado", diz Rita, em entrevista ao DIA.
Rita Fernandes, 62, jornalista e fundadora do bloco Imprensa Que Eu Gamo - Reprodução / Facebook
Rita Fernandes, 62, jornalista e fundadora do bloco Imprensa Que Eu GamoReprodução / Facebook
"Ainda tem uma mudança de comportamento do próprio público mais jovem, que hoje busca um Carnaval com um outro formato, mais ligado às fanfarras, com roteiros e formas de brincar mais livres. Esse formato mais convencional está ficando ultrapassado. Além disso, os nossos amigos jornalistas foram se distanciando do bloco. Hoje, a nossa profissão está muito esvaziada. Sabemos que o mercado mudou, temos poucas redações e muita gente trabalha de home office. Isso acabou se refletindo no bloco, que era um local onde os colegas se encontravam para confraternizar", completa.
O último desfile do Imprensa Que Eu Gamo, no dia 15 de fevereiro, na Rua Gago Coutinho, em Laranjeiras, vai marcar, também, a comemoração dos 30 anos de fundação. Para celebrar a data e se despedir em grande estilo, Rita conta que os membros do grupo estão preparando uma série de homenagens a todos os amigos que ajudaram a construir a história do bloco.
"A gente já convidou todos os jornalistas que foram, em algum momento, mestre-sala e porta-bandeira do bloco. Eles vão se revezar com a bandeira ao longo do desfile. Também vamos cantar vários sambas que fizeram sucesso nas nossas festas e teremos uma concentração com dois DJs, o Ciro e o JP, que é primeiro DJ com Síndrome de Down. E ainda estamos bolando várias homenagens e outras coisas que teremos ao longo do desfile", revela.
História 
O Imprensa, como é carinhosamente chamado, foi fundado em 1995 por um grupo de 20 jornalistas que se reunia no Mercadinho São José, em Laranjeiras, após os plantões. Anos depois, o bloco cresceu e passou a desfilar pelo Largo do Machado, posteriormente ampliando o trajeto até o tradicional Café Lamas, na Rua Marquês de Abrantes, no Flamengo.
Sempre buscando levar alegria aos foliões, o cortejo marcou época no Carnaval de rua carioca com sambas irreverentes, recheados de humor e crítica política.
Para Rita Fernandes, a sensação é de dever cumprido. "A gente entende que, 30 anos depois da fundação, o bloco fechou um ciclo de existência. É uma mistura de sentimentos. Claro que bate a nostalgia, uma saudade dos amigos, que dá uma pontinha de tristeza. Ao mesmo tempo, temos a sensação de dever cumprido com a cidade, além da certeza de que tudo na vida tem começo, meio e fim. Que as coisas se encerram, mas se renovam. Acho que entregamos um bloco lindo e um bonito presente para a cidade", comentou.
Apesar do desgaste e das dificuldades, Rita não descarta a possibilidade do bloco retornar, mas com um formato diferente. Para a jornalista, que também é presidente da Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua do Rio (Sebastiana), o Carnaval é dinâmico e é preciso estar aberto às mudanças que o evento proporciona.
"É muito mais um até breve. A gente ainda vai entender se tem um outro formato possível que a gente queira. Essa possibilidade não está fechada. O que a gente não quer mais é esse tipo de desfile convencional. Agora, a marca Imprensa Que Eu Gamo, como uma expressão de Carnaval da cidade, se mantém. Um pouco como foi o final dos Escravos da Mauá, que deixaram de ser um desfile mas continuam sendo um grupo que eventualmente se reúne em uma roda de samba. Tudo ainda vai ser pensado. Não tem nada definido e nem sabemos se vai acontecer, estamos deixando uma janela aberta para isso", detalha.
Em agosto de 2022, o tradicional bloco Escravos da Mauá anunciou o fim dos desfiles. Fundado em 1992, o grupo era famoso por colorir as ruas da Zona Portuária e do Centro do Rio, exaltando a rica história da região.
*Reportagem do estagiário João Pedro Bellizzi, sob supervisão de Raphael Perucci