Bloco Escravos da Mauá não fará mais desfilesDivulgação
"Não é que tenha terminado, a gente sentiu que era o momento oportuno para fechar esse ciclo, porque quando um se fecha, abre-se outro. É um momento de celebrar a trajetória de 30 anos e, quando a gente lembra de tudo, de alguma forma, temos a sensação de termos cumprido um papel e agora é o momento para dar espaço", explicou o presidente do bloco Escravos da Mauá, Ricardo Sarmento Costa, de 63 anos. Ele disse que o sentimento é de missão cumprida. "Eu trabalho naquela região portuária desde os anos 80. Era um lugar muito abandonado e a gente via a história ali latente, era incrível. De alguma forma, ao longo desses anos conseguimos trabalhar com a autoestima do lugar e, fazendo uma retrospectiva, de alguma forma contribuímos para o que a Praça Mauá é hoje", completou.
Segundo Ricardo, muitos grupos novos chegaram, muitos potenciais apareceram e o papel do bloco foi cumprido. "A vida está chamando a gente para outras demandas sociais também, enfim. Não é que acabou, vamos celebrar o que a gente fez. Vamos fechar esse ciclo e, a princípio, nos reunirmos em uma roda de samba. Não há tristeza, mas festa. Temos que aproveitar que estamos bem, fortes e com saúde. Novos tempos virão e esse é o momento de renovação", concluiu.
Para Rita Fernandes, 59, presidente da Sebastiana, o bloco Escravos da Mauá teve um papel de extrema importância na ocupação cultural do território da região. "Era um local abandonado pelo poder público na década de 1990 e no início dos anos 2000. Estou muito triste com o fim dos desfiles do bloco, mas entendo o fechamento do ciclo para eles", disse. O bloco de carnaval é um dos fundadores da Sebastiana, segundo Rita, e tem feito, ao longo dos seus 30 anos, um grande trabalho pela cultura da cidade do Rio e do Carnaval. "Vou sentir muita saudade, sempre foi um dos meus blocos prediletos, com seus sambas melódicos e seu desfile lindo com a participação das pernas-de-pau da Companhia Mysterios e Novidades", completou Rita. "O último desfile foi uma catarse, lindo demais. A gente já estava se despedindo e não sabia. Vou sentir muita falta do nosso bloco azul e amarelo. A cidade perde demais", lamenta.
O proprietário do restaurante Casa Porto, Raphael Vidal, 39, descobriu a Zona Portuária do Rio depois de frequentar o bloco. "O Escravos da Mauá foi o elo entre a região portuária, o Rio de Janeiro e o mundo quando este território, que sempre foi vivo, estava abandonado pelo poder público", declarou. Morador de Irajá, Zona Norte do Rio, o empresário afirmou que conheceu pela primeira vez a "Pequena África" em um ensaio do bloco de Carnaval. "Com isso, descobri toda a amplitude da cultura afrobrasileira para a formação do Brasil. Nada do que está acontecendo hoje seria possível sem eles. O que sinto não tem palavra que descreva", completou.
O bloco irá se reunir no dia 17 de setembro às 17h, no Circo Crescer e Viver, na Praça Onze, para comemorar os 30 anos de sucesso, e prevê um mini desfile no local.
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