Carnavalesco Jorge Silveira promete entregar essência salgueirense no desfile marcado para segunda-feira de CarnavalRenan Areias
O carnavalesco Jorge Silveira veio de um bicampeonato em São Paulo pela Mocidade Alegre para tentar conquistar o décimo título da Academia do Samba. Como uma das estratégias, o artista adianta que as alegorias serão completamente diferentes umas das outras, em volume, forma e textura.
"Cada carro é completamente distinto do outro de maneira intencional para que o desfile seja um espetáculo dinâmico e não deixe o público entediado visualmente. Cada capítulo transporta o espectador para um lugar visual diferente. Isso é uma aposta que a gente está fazendo esse ano", revela Jorge.
A cabeça da escola, que se inicia na comissão de frente, passa pelo casal de mestre-sala e porta-bandeira e vai até o carro abre-alas, representa a própria Vermelho e Branco. Nesse momento, a agremiação vai apresentar seu repertório de amuletos.
"O início é um diálogo direto com a ancestralidade. É o Salgueiro apresentando suas armas, sua potência e dizendo aonde vai arriar as suas oferendas, quem são os seus guardiões, e os convoca para abençoar a jornada na Sapucaí", conta o artista, que caprichou no vermelho, cor tradicional da agremiação.
As alegorias vêm ricas em detalhes trabalhados à mão, como paetês dourados e rendas. A Academia contratou, ainda, uma equipe do Festival de Parintins para turbinar a tecnologia dos carros alegóricos e ficar responsável por todas as esculturas e pinturas do espetáculo. O tripé número 2, intitulado "Sou herança dos malês", será puxado por um cavalo cenográfico que promete impressionar pelas expressões e pelo movimento de tração humana.
O carnavalesco explica que o Carnaval deste ano será um grande ritual de blindagem na Sapucaí. "Vamos começar buscando referências históricas. O ponto de partida será o povo Mali na África muçulmana, que guardava suas orações em bolsas de mandinga, pendurava no pescoço e desenvolvia uma cultura de proteção a partir daí", conta.
Em seguida, o Salgueiro mostrará como essa herança atravessou o Oceano Atlântico, chegou ao Brasil e se disseminou, tornando-se parte do cotidiano dos brasileiros. "Visualmente, a gente vai apresentar em cada capítulo o desdobramento dessa ideia e como essa tradição foi absorvida pela própria brasilidade, se misturando às nossas raízes locais e sendo reinterpretada", afirma Jorge Silveira.
No barracão, é possível ter ideia do que a Academia do Samba levará para a Avenida: padês (alimentos oferecidos a Exu) em carro alegórico, esculturas de orixás e de Zé Pelintra, entidade da Umbanda saudada no samba-enredo de 2025.
"É sobretudo um enredo que se propõe a quebrar paradigmas de preconceito. A cultura carioca é miscigenada e o samba é fruto disso", ressalta Jorge Silveira.
O artista promete apresentar tudo que se espera de uma narrativa que trate de corpo fechado. "A gente vai falar do Candomblé, da Umbanda, mas também de como os povos originários tinham seus amuletos, seus ritos", complementa.
Até mesmo o cangaço nordestino tem vez no desfile. "Um capítulo inteiro mostra como os cangaceiros se utilizavam dos rituais de proteção para se blindar contra o mal e se proteger no meio da mata", acrescenta Silveira. Um dos personagens retratados será Moreno, considerado o último cangaceiro do bando de Lampião, tido como 'feiticeiro' por realizar magias que protegiam o líder do grupo.
Este ano, a Vermelho e Branco destaca o respeito e o orgulho por essas manifestações. "Vamos mostrá-las de maneira nobre, de maneira sagrada. A gente está falando de algo que é muito caro ao sambista, que tem essa máxima de se proteger, que entende o samba como ritual", completa o carnavalesco.
O GRES Acadêmicos do Salgueiro contará com seis carros alegóricos, três tripés, 3.300 componentes e 26 alas. A escola será a terceira a desfilar na segunda-feira de Carnaval, dia 3 de março.
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