Rio - Em cartaz no Rio e em São Paulo com a peça "O Recém-Nascido", Pedro Cardoso, 61 anos, usou seu Instagram para desabafar sobre o mercado de trabalho para os artistas no Brasil e reclamar dos preços abusivos que os teatros cobram da porcetagem de bilheterias para as peças de teatro.
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"O trabalho vale cada dia menos. Eu faço teatro - sempre fiz! - porque teatro é o único emprego que consigo oferecer a mim mesmo. Mas não sei até quando. Os teatros, os prédios, quase todos, estão sendo administrados para o lucro de seus donos", iniciou.
O ator está longe da TV no Brasil desde 2014 quando participou do quadro: "Uãnuêi", do "Fantástico", e atualmente se divide entre o país e Portugal. Ele disse ainda que quando começou na profissão, a porcentagem da receita que cabia a sala de teatro era entre 25% e 10%.
"Hoje, pode chegar a 40, 50%. As empresas que vendem ingressos eletromagneticamente cobram. Custo que não havia. Começaram cobrando de quem comprava; logo passaram a cobrar também do teatro vendedor; e o teatro repassou a cobrança para os artistas/produtores que ocupam a sala. Algum teatros criaram empresas de venda eletromagnética próprias, mas continuam cobrando até 10% dos artistas/produtores", continuou.
Pedro Cardoso ainda explicou que o aluguel da sala de um teatro tem um preço mínimo e que, geralmente, é quase igual a porcentagem máxima de uma bilheteria lotada. "Me arrisco a apresentar O Recém-Nascido às segundas e terças porque os donos do teatro foram solidários no risco e não me cobram mínimo. Nem todos são. Ontem, foram vendidos todos os 400 lugares da sala. Um resultado plenamente satisfatório para o teatro e para mim".
A peça está em cartaz às segundas e terças-feiras no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, na Zona Sul.
"Percebo a classe dos artistas/atores ameaçada pelo desemprego e pelos baixos salários. O áudio-visual paga hoje muito pior do que nos tempos da soberania da TV aberta e as salas de teatro cobram cada dia mais caro, sabidas as exceções. Nossos patrões em áudio-visual são os distantes donos da atual tecnologia, dita internet. Eles são patrões que nos disfarçam de parceiros deles, mas somos tão empregados quanto antes éramos, apenas, agora, muito pior ou nada remunerados. Ninguém fala dessa organização para pior do mercado de trabalho dos artistas. Devíamos. Estamos empobrecendo; ainda que alguns estejam ganhando bem nos clubes de stand up", concluiu.
Sobre o Recém-Nascido
A peça é a primeira que Pedro escreveu atento as questões da vida doméstica que se me revelaram mais evidentemente na vida europeia do que na brasileira.
"Por conta da muito menor oferta de funcionários domésticos, os europeus, sobrecarregados, criam os filhos para ficarem independentes o quanto antes. Também no Brasil, a tarefa de educar exaure os responsáveis; mas, por serem mais os auxílios - mesmo na pobreza - permite-se que a pessoa fique criança mais tempo do que se permite na Europa", explicou.
A peça fala sobre a perda prematura da infância e as consequências que ela tem na participação política do adulto que muito cedo se despediu da criança que foi. "Eu tento sempre a comédia. Nesses tempos de tanta obsessão por fundamentalismos identitários, o meu seria pertencer a minoria mais minoritária de todas: a dos comediantes. Passaria a minha vida defendendo o valor intelectual da comédia e denunciando a desvalorização que dela fazem acadêmicos e intelectuais e mesmo artistas dramáticos", explicou.
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