Rio - Conhecida por papéis na TV em novelas como "Amor de Mãe" (2019), "Pantanal" (2022) e "Elas por elas" (2023), Isabel Teixeira, de 50 anos, está em cartaz com o monólogo "Jandira — em busca do bonde perdido", no Teatro das Artes, na Gávea, Zona Sul do Rio. Com direção de Marcos Caruso, a peça é uma adaptação do último texto da atriz e dramaturga Jandira Martini, que morreu em janeiro deste ano, após uma batalha contra o câncer. O espetáculo aborda o tratamento da artista contra a doença, fazendo um relato autobiográfico bem-humorado e poético sobre a tomada de consciência da finitude.
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"Essa peça faz parte de um livro da Jandira Martini chamado 'Casaco de Astrakhan Verde ou Em Busca do Bonde Perdido'. Jandira, que nunca escreveu nada de muito pessoal, resolveu escrever esse livro e alguns amigos começaram a falar que poderia dar uma peça. Ela começou a trabalhar numa adaptação da peça, mas o projeto foi interrompido", conta Isabel, que foi convidada por Caruso, amigo de longa data de Jandira, com quem assinou inúmeros espetáculos e roteiros de audiovisual, para estrelar a produção.
A artista destaca que sempre apreciou o trabalho do ator. "Ano passado e parte deste ano eu trabalhei com o Caruso, que foi uma pessoa que eu sempre admirei no teatro. Eu meio que fui um pouco nessa linha de trabalho desenvolvida por ele durante a vida. Eu segui um pouco esse multiartista que ele é. E fui conhecer o Caruso na televisão, na novela, em 'Elas por Elas', no ano passado", explica a atriz. Na trama, ele era Sérgio, pai de Helena, interpretada por ela.
Isabel também comenta a experiência de levar aos palcos o último texto da dramaturga. "Acredito que o texto é a vida do autor, ele fica vivo. Quando a gente traz o texto de Shakespeare para cena, a gente tem que fazer ele ficar vivo, não adianta, temos que fazer o texto se movimentar no aqui e agora. Pode até ter sido o último texto de Jandira, mas ao mesmo tempo é vida, é movimento, ela está aqui fazendo a gente pensar".
Apesar de não ter conhecido Jandira pessoalmente, a atriz tem aprendido muito com ela e Caruso. "Os dois tem uma coisa que eu comecei a perceber e é meu grande aprendizado. Eles são duas pessoas que amam a vida e o ofício, que celebram. Desde que a gente começou a trabalhar nesse projeto, o meu melhor vem sendo cultivado, que é a minha alegria de viver e de tá aqui e agora. É ter 50 anos e pensar: 'eu resisti até aqui, eu vivo do meu ofício e honro ele diariamente'. Sempre me pagava reclamando e agora estou celebrando. Isso tem a ver com o texto da Jandira que inspira a gente".
Próximos passos
Em breve, Isabel poderá ser vista novamente nas novelas, em "Volta por cima", da TV Globo. Ela confessa que está animada para engatar sua quarta trama. "Não consigo imaginar a minha vida agora sem esse advento da novela, né? A novela é surfar em uma onda grande. Estou meio viciada nessa máquina grandiosa, cheia de engrenagens e estou adorando ser uma das engrenagens. Gosto de tudo da novela, gente, de quando começa, da preparação, adoro a caracterização, descobrir a personagem visualmente. Estou convivendo com gente que faz novela às vezes há 30 anos e estou afim de adquirir essa experiência".
Ela, inclusive, dá um spoiler do que podemos esperar de sua personagem. "Ela é viúva de um bicheiro. No mundo do jogo do bicho o poder está sempre na mão dos homens, mas ela vai encontrar uma maneira de exercer seu poder, sabedoria e inteligência dentro da contravenção. É uma mulher que gosta muito dela mesma, com uma autoestima alta. Ela é diferente de mim fisicamente e na atitude. Eu estou adorando fazer, mesmo! Estou muito apaixonada, está virando amor profundo por novelas".
Carreira
Em tão pouco tempo na TV, a atriz já coleciona papéis icônicos, como Maria Bruaca, em "Pantanal". "A novela é quando o público vê e responde. Estou muito atenta no telespectador, faço questão. Pode ser que eu erre a mão, mas eu to ouvindo, porque fazemos juntos. Então, que venham muitos outros personagens que sejam icônicos por causa das respostas do público", almeja.
A artista afirma que o teatro e a televisão são duas artes extremamente diferentes e acredita não ter um preferido. "É outro fôlego, outra temperatura, a novela vai para frente, já no teatro é a arte da repetição. Claro que não tenho um preferido, meu sonho agora é fazer mais vezes o que estou realizando neste momento, ou seja, conciliar a novela e teatro. Um alimenta o outro, estou vivenciando isso semanalmente. Estou muito viva, como uma jovem artista descobrindo o que quer fazer. Me sinto jovem fazendo novela".
Síndrome de Li-Fraumeni
Em 2019, Isabel foi diagnosticada com a síndrome de Li-Fraumeni e como forma de prevenção e cura, optou por passar por uma cirurgia de retirada das mamas. "É uma mutação genética. Comecei a ter qualidade de vida depois do diagnóstico, eu me cuido muito hoje em dia. Me cuido de um jeito saudável, como e durmo bem. Mesmo se estou trabalhando muito, abro espaço para ginástica ou yoga", afirma.
Ela garante que a condição de saúde não lhe afeta tanto. "A síndrome não é uma coisa pesada para mim, ela não me põe para baixo e, sim, para cima. Fazer exames preventivos também deveria ser dado a toda população. Vida saudável é cura para o ser humano. O diagnóstico veio para fazer com que eu dê valor a minha saúde, ao meu autocuidado e a informação, porque acho que informar é importante. Todo mundo tem alguém próximo que tem câncer, que tá passando por isso, então a gente tem que se informar cada vez mais enquanto sociedade", acredita.
Sobre a retirada das mamas, a atriz relata: "Foi uma prevenção, eu me preparei psicologicamente para isso e é o caminho de cura. Eu sou muito privilegiada por ter descoberto essa mudança e eu dou valor a isso porque eu posso me prevenir. Não tive trauma, estou lidando bem com a minha cicatrização e com o meu novo corpo. Eu aceito porque é para melhor".
Amadurecimento
Aos 50 anos, Isabel acredita que a idade é só uma questão boba e afirma se sentir melhor hoje em dia, principalmente por conta das mudanças na sociedade. "Costumo dizer também que nunca gostei tanto do meu corpo como agora. Estou muito encaixada na minha existência. Estou mais tranquila. Me sinto melhor hoje do que 10 anos atrás, talvez por conta de estar me cuidando mais e também por estarmos revendo os padrões que foram colocados para gente. Sou vítima de uma série de padrões da década de 90 os quais nunca me encaixei e hoje em dia eu sinto que o mundo está muito mais aberto, apesar de sempre haver essa pressão. Estamos questionando muito mais enquanto sociedade. Esse é o mundo onde eu topo estar, onde eu vou me conectar. Não quero mais ficar batendo na porta de quem não me quer e não me aceita como pessoa", fala.
A atriz diz que sua vida está apenas começando. "Teatro eu faço há muito tempo, eu comecei a fazer televisão relativamente nova, com 47 anos (risos), para mim é uma coisa totalmente nova a se descobrir. A editora (Fora de Esquadro), que eu tanto queria, começa a se movimentar agora com 50 anos, estou começando a ver esse sonho adolescente tomar forma. Então, para mim a vida está começando. Gosto dos ciclos da vida. 50 anos não é nada para mim além de um número estabelecido por uma sociedade antiga que coloca que 50 é o começo do fim. Para mim, agora é o começo da vida, não estou mais com a ansiedade, dores, inseguranças e baixa autoestima que eu tive na minha juventude".
Por fim, a artista disse que não tem problemas em envelhecer e filosofa. "Acho saudável e gosto de envelhecer. No envelhecer quero sentir as dores, amores, alegrias e as coisas ruins e boas, porque sempre fui assim. Estou na minha coerência, faço o que escolhi e não abro concessão drásticas fazendo o que eu não quero, acho isso uma grande alegria. Isso que eu chamo de estar encaixada no meu corpo...Gostaria que a palavra 'velha' fosse uma palavra iluminada e não uma palavra com peso. Uma coisa velha pode ser uma coisa boa. Acho que precisamos voltar às palavras dos anciãos, dos mais velhos, que tem sabedoria pela experiência".
Serviço:
'Jandira — em busca do bonde perdido' Em cartaz até 1° de setembro de 2024 Sexta e sábado, às 20h; e domingo, às 18h Local: Teatro das Artes Endereço: Rua Marquês de São Vicente, 52, Gávea Ingressos: a partir de R$ 50