Leona Cavalli Leandro Ocazione / Divulgação

Rio - Leona Cavalli, de 54 anos, atriz de longa carreira no teatro, cinema e televisão, está à frente de um novo projeto no Teatro Dulcina, no Centro do Rio. Trata-se de "Caminho 22", espetáculo dirigido por ela, que explora um tema atual: a transformação dos padrões masculinos na sociedade. A peça mergulha nas complexidades e distorções dos arquétipos masculinos, buscando discutir questões como machismo, homofobia e preconceito através da jornada de Uli (Manoel Madeira), um psiquiatra moralmente abusivo.

"A peça aborda a transformação do masculino, buscando, a partir da trajetória do protagonista, um caminho possível de mudança de padrões de comportamento geradores de uma cultura de violência. Acredito que é um tema necessário de reflexão geral, não só dos homens. A ideia da autora, Jaqueline Roversi, que também é uma das atrizes do espetáculo, nasceu justamente da pesquisa dos mitos femininos, que era o tema da outra peça, 'Pandora', que dirigi com a mesma equipe", conta.
A trama gira em torno de Uli, um psiquiatra cuja vida desmorona ao ser simultaneamente abandonado por sua esposa grávida, Pen (Jaqueline Roversi), e por sua paciente mais antiga, Dai (Jordana Korich). Ambas foram vítimas de manipulações e abusos psicológicos dele. Com isso, Dai abre um espaço terapêutico chamado "Caminho 22", e Pen busca apoio lá. Na tentativa de reconquistar a ex-mulher, Uli entra no local, onde revisita memórias da infância e enxerga a chance de mudar sua história.
Para Leona, abordar temas como transformação e preconceito no teatro é um movimento de extrema importância. "Nesse momento há uma busca geral por novos caminhos. São discussões urgentes, nesse tempo em que estamos sendo levados a rever os conceitos gerais da nossa sociedade, formada a partir de estruturas machistas. Vemos no público muitos homens, mulheres e trans que se identificam com as discussões da peça, que fala também de preconceito, da aceitação da mediunidade, de respeito às pessoas trans, e, sobretudo, da capacidade que todos nós temos de nos transformarmos".
A artista espera que as pessoas saiam reflexivas do espetáculo. "Espero que o público leve novas reflexões e a certeza de que sempre é possível se transformar. No teatro, entramos num espaço de comunhão viva, onde podemos rever nossos padrões com profundidade, amor e humor. É sempre bom nos questionarmos e rirmos de nós mesmos, não?".
Além da direção
Leona possui uma carreira vasta e diversificada, com destaques tanto no teatro quanto no cinema e televisão. No tablado, já recebeu prêmios importantes, como o Prêmio Shell por sua atuação em "Toda Nudez Será Castigada" e o Prêmio Qualidade Brasil por Blanche Dubois em "Um Bonde Chamado Desejo". Recentemente, esteve em cartaz com a peça "Ser Artista" e roda o Brasil com "Elogio da Loucura". 
No cinema, Leona participou de filmes aclamados como "Um Céu de Estrelas", "Amarelo Manga", "Carandiru", "Aparecida" e "Casa da Mãe Joana 2" . Na televisão, fez parte do elenco de várias novelas da TV Globo, como "Terra e Paixão", "Amor à Vida", "Gabriela", "Órfãos da Terra", "Totalmente Demais", "A Vida da Gente", "Negócio da China", "Duas Caras", "Amazônia" e "Belíssima".
Ela explica como equilibra as diferentes facetas da carreira. "Sinto que todas são complementares. A atriz é a que vem na frente, de onde vem toda a minha inspiração, ao me colocar no lugar do outro. A partir desse olhar, todas as formas de falar com o público me apaixonam", acredita.
Quando questionada sobre o que a guia na escolha dos trabalhos, a artista conta: "Primeiro escolho os projetos, histórias e personagens, pela minha emoção inicial ao conhecê-los. Se a história bate no meu coração, sigo. A partir daí, se tenho afinidade com a direção, se o tema tem relevância e se a equipe é boa." Ao falar sobre o papel mais marcante de sua carreira, a atriz demonstra sensibilidade: "Essa é uma resposta impossível. As personagens são como filhos; como escolher um?".
Projetos
Leona também segue em turnê com o monólogo "Elogio da Loucura", baseado na obra de Erasmo de Rotterdam. A peça, adaptada por ela, traz uma abordagem inovadora sobre a loucura e entrar em cartaz no Rio em 2025.
"Sou apaixonada por este livro há tempos, é um clássico da literatura, e, até a nossa montagem, ainda inédito nos palcos. A adaptação do texto é minha e do diretor Eduardo Figueiredo. O que me atraiu é o fato da loucura surgir como uma personagem completamente lúcida, mostrando como o mundo é louco, o que é inédito como abordagem também, pois a visão mais comum é a patológica, mas nessa obra a loucura é vista como uma deusa que clama por ser aceita, como uma força presente em todo ser humano, que, ao ser integrada, vira fonte de criatividade e alegria. Na montagem estou acompanhada por dois músicos, devemos trazer ao Rio no que vem", adianta.
A atriz também finalizou as filmagens do longa "Nunca Te Prometi um Mar de Rosas", com previsão de estreia para o ano que vem. No filme, ela interpreta Laila, uma mulher que enfrenta a depressão enquanto cria uma filha autista. "Adorei fazer esse filme. Importante falar desses temas, tão comuns e pouco abordados no cinema. O filme foi rodado no Mato Grosso, a direção é ótima e a fotografia belíssima", elogia.
Em novembro, ela começa a rodar o filme "Medley", no Rio, dirigido pela cineasta gaúcha Ana Luiza Azevedo, onde fará uma prefeita. A previsão de estreia também é para 2025.
Mulheres no audiovisual
Sobre o papel das mulheres no audiovisual brasileiro, Leona acredita que há um crescimento natural e inevitável, tanto na frente quanto atrás das câmeras. "A participação das mulheres em todos os aspectos da arte, da cultura, da política, da ciência, é natural, pois somos geradoras e agregadoras por natureza. Isso só vai aumentar, não como embate com o masculino, mas como integração. É a evolução humana inevitável e inexorável".
Conexão com a fé
Ela também revela um lado mais espiritual ao falar sobre sua participação no Círio de Nazaré, uma tradicional e grandiosa manifestação de fé e devoção à Nossa Senhora de Nazaré, realizado há mais de 200 anos em Belém do Pará. "Participar do Círio de Nazaré foi uma experiência arrebatadora. Uma união de espiritualidade e cultura popular, de todas as fés, crenças e ritmos. Uma imensa festa de amor e alegria em forma de procissão, única no mundo. Acho que todo brasileiro deve conhecer!".
Serviço
'Caminho 22'
Em cartaz até 27 de outubro de 2024
Sábado, às 19h; e domingo, às 18h
Local: Teatro Dulcina
Endereço: Rua Alcindo Guanabara, 17 - Centro
Ingressos: a partir de R$ 20. Vendas na bilheteria e pelo site