João Diamante - Projeto Diamantes na Cozinha (PAG.3) - Eduardo Almeida
João Diamante - Projeto Diamantes na Cozinha (PAG.3)Eduardo Almeida
Por BRUNNA CONDINI | brunna.condini@odia.com.br

Rio - Com apenas 27 anos, criador do projeto social 'Diamantes na Cozinha', que ensina a gastronomia cidadã no Rio, e Embaixador do Circuito Gastronômico de Favelas, que estará no Andaraí neste domingo, o chef João Diamante vem traçando uma bela trajetória dentro da gastronomia brasileira. "Encontrando caminhos para retribuir o que ela fez por mim", diz João, que também esteve recentemente no Gastronomix com um prato seu.

Protagonista de uma história inspiradora, ele fala com empolgação do seu encontro com a comida e os significados criados a partir disso. Nascido na Bahia e criado na Divinéia, no Complexo do Andaraí, Zona Norte do Rio, aos 7 anos já assava pães (escondido da mãe) numa padaria próxima de casa.

"No complexo do Andaraí, moro lá até hoje. Já queria trabalhar com essa idade para ter meu dinheiro", lembra. "A padaria era ao lado da minha casa. Minha mãe trabalhava o dia todo. Um dia, ela me viu sujo de farinha, disse que estava só dando uma ajuda, estava de férias".

O chef conta que, a partir daí, o contato com projetos sociais transformou sua vida. "Trabalhei como marceneiro, piscineiro. Quando fiz 14, minha mãe queria me ocupar e fui fazer atividades dentro da comunidade. Isso me abriu para conhecer muitas pessoas, e consegui trabalho de carteira assinada, como estagiário numa empresa de engenharia. E já pensava em empreender".

A ESCOLHA

Depois ingressou na Marinha, e mais uma vez o encontro com a comida veio com tudo. Foi lá que conheceu uma cozinha industrial pela primeira vez, e teve seu talento reconhecido, o que o levou à faculdade de Gastronomia. Acabou selecionado entre estudantes de todo o país para um estágio no Le Junes Verne, o restaurante da Torre Eiffel, em Paris. Viajou com o talento e a coragem.

"Não falava nada do idioma. Foi mais uma decisão importante na minha vida. Fui crucificado, de largar o certo pelo duvidoso, mas fui para França. Foi duro nos primeiros meses, um choque de realidade. Saí do Andaraí e fui para um dos melhores lugares do mundo, em frente ao museu de Luxemburgo. A cozinha não é fácil, quase desisti, mas lembrar de onde vim me dava força. Transformei em meta", conta.

LAPIDANDO

Ele poderia ter feito carreira na Europa, mas preferiu voltar e continuar seu caminho por aqui. "Acabei o estágio e me convidaram para ficar, todo mundo aconselhando a topar. Mais uma vez, fui por mim, tinha que voltar porque tinha uma missão", recorda.

João voltou decidido a criar seu projeto social, localizado no Méier. "Queria contribuir para o país, por tudo que recebi. Sempre quis ter um projeto, porque foi muito importante na minha vida. Pensei: 'Por que não ter um projeto com a gastronomia como ferramenta de transformação social?'. E fundei o 'Diamantes na Cozinha' em 2016, com este propósito: a gastronomia como ferramenta de transformação para pessoas de vulnerabilidade", diz.

No período, o idealizador foi chef executivo do Fazenda Culinária, o restaurante do Museu do Amanhã (com a chef Flavia Quaresma) e premiado com o título de Chef Revelação pelo Prêmio Infood de Gastronomia em 2017. Ainda assim, decidiu se dedicar integralmente ao seu projeto. Tanto que hoje viaja pelo Brasil para aprofundar conhecimentos sobre a gastronomia brasileira.

"Em vez de fazer uma pós-graduação em sala de aula, estou metendo a mão na massa. Estudo a cozinha regional de cada lugar. É preciso fazer o Brasil entender que gastronomia é cultura. Então, temos que ter uma escola. Os franceses entenderam isso há tempos. E eu tento aliar isso ao social", frisa.

No projeto, as aulas duram seis meses e são gratuitas. Pessoas a partir de 18 anos com segundo grau completo podem se inscrever. Segundo João, as aulas permitem a compreensão sobre todos os processos da gastronomia.

"Hoje, temos turmas semestrais. Multiplicando, consigo ajudar muito mais do que só estando dentro de uma cozinha. Sonho com uma sociedade melhor e, se puder mudá-la através da gastronomia, seria incrível. Comida é cultura, arte, confraternização, vida e conhecimento", diz o chef, que busca patrocinadores para o projeto.

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