Raquel Potí desfila com pernas de pau no Carnaval (à dir. e abaixo), e uma de suas oficinas 
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Raquel Potí desfila com pernas de pau no Carnaval (à dir. e abaixo), e uma de suas oficinas Divulgação
Por Lucas França*

Rio - É de cima de um par de pernas de pau que a produtora cultural Raquel Potí, de 35 anos, faz arte. Utilizada por antigos magos, tribos e até mesmo por agricultores na hora de atravessar locais alagados, as traves de madeira ganharam o toque de brincadeira e festa no Rio de Janeiro. É neste ritmo que Potí, que é conhecida pelo sobrenome, organiza mais uma edição da Oficina de Carnaval, que ensinará ao público a "desfilar" com pernas de pau.

Os itens circenses, no entanto, são pretexto para a professora. A partir do dia 5 de outubro, os encontros com Potí nos Jardins do MAM (Museu de Arte Moderna), na região central do Rio, serão sobre "autoconhecimento, cuidado, sensibilidade e comunicação não violenta", como ela detalha.

A artista conta que entrou em contato com as pernas de pau em 2013, quando um amigo palhaço lhe convidou para viajar por Goiás e Tocantis com oficinas. Em outubro do mesmo ano, ela voltou ao Rio e começou a desenvolver o formato das aulas, que nasceriam em 2014.

O planejamento das aulas, como explica, tem uma parte estrutural, que engloba orçamento, inscrições etc. Além disso, há um período de avaliação, em que ex-participantes oferecem novas propostas de programação.

O mais esperado do planejamento é o tema da oficina. Neste ano, o projeto se dedicará ao bloco da Terreirada Cearense nas aulas de 11h às 13h. Já de 14h às 16h, os encontros serão gerais, com exercícios que iniciam no chão e aos poucos sobem nas pernas de pau.

Com as oficinas dispostas a mudarem as aulas de acordo com a turma, existe uma regra principal para que tudo ocorra bem: incluir. A ideia da artista e dos colaboradores é que os encontros sejam abertos para um público "dos seis aos 200 anos". A brincadeira pode ser comprovada quando adultos dividem o espaço com Tiê, filho de Raquel Potí, que tem pouco mais de 2 anos.

A mãe relembra de episódios em que, ainda grávida, desfilou de perna de pau. Após o nascimento do menino, Potí amamentou Tiê durante apresentações. "Com um ano e pouco, ele já demonstrava como era cair com a perna de pau", diz ela.

Apesar de ser conhecida pelos blocos que lotam as ruas no Carnaval do Rio e ser personagem de várias capas de jornal durante a festa, Potí mantém os pés no chão. As viagens que já fez pelo Brasil, Europa e Ásia com as pernas de pau foram experiências nas quais "aprendeu mais do que levou informação". A vontade da artista com as oficinas, que vão até dia 21 de dezembro, é de que os alunos saiam sensibilizados.

"Quando comecei as aulas, não queria ser do Cirque du Soleil, queria mostrar minha verdade. A sociedade da perna de pau não é perfeita, mas a partir das oficinas vemos revoluções. Quero uma sociedade harmoniosa, isso faz meu coração cantar", diz.

O pacote das oficinas custa R$ 450, ou aula avulsa por R$ 60. As oficinas serão realizadas nos dias 5, 19 e 26 de outubro; 9, 16 e 30 de novembro, com uma aula especial na Praia Vermelha; e 7, na Quinta da Boa Vista, 14 e 21 de dezembro. As inscrições são limitadas e podem ser feitas através do formulário https://forms.gle/bXo3AS6jjf3nQjga6. Todo o material utilizado nas aulas será oferecido pela produção.

 

* Estagiário sob supervisão de Paulo Ricardo Moreira

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