Por O Dia

Caldeirão e Malhação

Antes de ser convidada para se apresentar no Rock in Rio, Deia já tinha chegado perto do sonho de tocar no festival quando ainda fazia parte da banda Agnela. O grupo de rock, formado apenas por meninas do subúrbio do Rio, ganhou reconhecimento nacional em 2008 após participar do quadro 'Olha A Minha Banda', no 'Caldeirão do Huck'.

"Agora, imagina uma menina criada em Vila Valqueire, que pegava ônibus para ir trabalhar e que, no outro dia, tinha tudo de graça: restaurante, dentista, roupa. A gente estourou no Brasil inteiro. Nós fomos, por dois anos consecutivos, trilha sonora da 'Malhação' e estávamos indo muito bem", conta.

A etapa final da competição, no entanto, reuniu as meninas da Agnela e outros três grupos. O prêmio do vencedor? Um contrato com gravadora, R$ 30 mil, quatro carros zero quilômetro e a oportunidade de tocar no Palco Mundo do Rock in Rio. "A Agnela não ganhou, as meninas ficaram tristes e decidiram acabar com a banda. E foi aí que eu segui minha carreira solo, e as coisas começaram a acontecer de uma forma diferente", revela Deia, que faz questão de dizer que ela e as outras meninas não ficaram brigadas e que a ajuda de Luciano Huck foi muito importante para sua formação como artista.

"Eu tinha 19 anos e não sabia nada sobre a vida. O Luciano Huck conheceu a gente muito nova, e a primeira coisa que ele disse é que nós precisávamos dar um tapa no visual. Ele deu uma repaginada no nosso estilo e disse que queria que eu ficasse loura. Toda essa mudança foi muito boa para nós quatro, porque a gente teve uma outra perspectiva de como as coisas funcionam em um programa de televisão", admite a cantora.

Desafios

Depois de tanto tempo de aprendizado, Deia consegue fazer uma análise dos desafios da profissão e destaca que, em uma sociedade machista, o ambiente é menos favorável para as mulheres. "O cenário do rock nacional está muito difícil. E é claro que piora quando se é mulher. O principal exemplo disso é que a única representante que nós temos é a Pitty. Óbvio que a Rita Lee é uma referência incrível, mas nós só temos a Pitty como atuante no cenário musical do rock. Ela é muito importante para mim. Ela mantém o equilíbrio vivo, se é que podemos falar que existe equilíbrio", diz a roqueira, que também lembra de colegas que a apoiaram em momentos difíceis.

"A gente sofre muito com o machismo indiretamente. Mas, diretamente, eu já recebi convites bem indiscretos. Como mulher, acaba sendo o que toda mulher sofre: que é uma virada de olho ou uma atenção que não querem te dar. Só teve uma pessoa que acreditou em quem eu era, que foi o Chorão. Ele me inspirou muito e me inspira até hoje", revela Deia, emocionada, ao falar do amigo, ex-vocalista da banda Charlie Brown Jr., morto em 2013.

Apesar dos momentos difíceis, Deia quer aproveitar intensamente a nova fase. A roqueira acaba de lançar seu clipe 'Sete Vezes', no Youtube, e espera que o trabalho seja o maior sucesso. Afinal, foi a plataforma de vídeos que a ajudou a chegar ao Rock in Rio. "Na primeira reunião que nós tivemos com os organizadores do festival, eles disseram que o Roberto Medina (idealizador do Rock in Rio) viu um vídeo meu cantando um cover no YouTube, achou superlegal e pediu para a produção entrar em contato comigo. Eu fiquei muito feliz", conta a cantora, que aproveita para deixar um recado a quem ainda não se acostumou a ver mulheres no universo do rock: "O rock não tem gênero: é atitude e representatividade. E nós, mulheres, temos voz".

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