Carla Espino e as filhas Giulia, 24 anos, e Valentina, 12: sem preferência.  
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Carla Espino e as filhas Giulia, 24 anos, e Valentina, 12: sem preferência. Divulgação
Por O Dia

Rio - Existe um tema tabu que mães com mais de um filho dificilmente conseguem debater publicamente: a predileção por um deles. Motivo de sofrimento para muitas, o fato de haver maior identificação com um ou outro não significa, na maioria das vezes, que haja mais amor. Quem diz isso é a psicóloga Néia Martins, que recebe em seu consultório muitos pais com dificuldades em lidar com esse sentimento. "Embora seja um conflito para os responsáveis, isso é natural e humano. Uma mãe falante e extrovertida, por exemplo, terá maior empatia com o filho que é parecido com ela do que com o que tem personalidade mais tímida, introvertida ou discreta, simplesmente porque há um interesse em comum, e não mais amor", explica ela, lembrando também o chamado favoritismo temporário, que seria a predileção que se manifesta em determinadas ocasiões por um filho e em outras pelo outro.

Carla Espino, mãe da Valentina, 12, e Giulia Marquezini, 24, diz que, apesar de não acreditar em preferência, entende que pode existir mais afinidade com um ou outro. "As pessoas confundem identificação com amor, mas isso não é verdade. Cada filho desafia de forma diferente, e talvez o que muitos vejam como predileção seja apenas uma maior ou menor facilidade em lidar com aquela criança". Já Adele Grandis, mãe de Serena, 7, e Pax, de apenas 11 meses, conta que a relação com a filha sempre fluiu muito bem, mas quando o mais novo nasceu, talvez em decorrência da depressão pós-parto, não conseguia sentir pelo menino o mesmo que pela mais velha. "Por ela, foi um amor incondicional à primeira vista, como se já a conhecesse. Já com ele não foi imediato. Acho que a relação com os filhos, assim como qualquer outra, se constrói com o tempo. Com quem houver mais empatia, será mais rápido para criar laços; com o oposto, pode demorar mais. Hoje, posso afirmar que amo os dois da mesma forma".

Na psiquiatria, o assunto também é recorrente — em aproximadamente 70% das famílias com mais de um filho, existe a preferência por um deles, embora frequentemente os pais não assumam. Marcelo Daudt von der Heyde, psiquiatra e professor da PUC do Paraná, esclarece que pode acontecer por vários motivos, mas, em linhas gerais, filhos caçulas e meninas têm uma maior tendência a serem os preferidos. Além disso, algumas características de temperamento, personalidade e valores semelhantes ou diferentes aos que os pais julguem como um bom modelo também são fatores que motivam maior ou menor afinidade.

O também psiquiatra Mario Louzã acredita ainda ser um mito achar que alguém com dois ou mais filhos terá o mesmo relacionamento e/ou a mesma empatia por todos, de forma absolutamente igual. "Cada um tem características, temperamento e personalidade diferentes. Isso não significa que os pais tenham mais amor por um determinado filho", diz.

 

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