Mércia Britto, diretora executiva do Cinema Nosso - Divulgação
Mércia Britto, diretora executiva do Cinema NossoDivulgação
Por RICARDO SCHOTT
Rio - Uma das batalhas diárias de Mércia Britto, 38 anos, é encontrar novas narrativas. Vinda de "uma família de contadores de histórias", a diretora executiva da organização social Cinema Nosso tem realizado trabalhos na área dos videogames. E de levar um pouco mais de diversidade para o gênero, incluindo mulheres no comando da criação de novos jogos. É uma bandeira importante para uma escola que partiu da inclusão de jovens periféricos no meio do audiovisual, e hoje abraça outras linguagens.
"Tenho um tio fotógrafo, uma mãe fotógrafa. E meu avô que faleceu há pouco tempo, aos 101 anos, era um contador de suas histórias e de histórias de outras pessoas. Sempre fui uma criança atenta à narrativa do outro para aprender sobre coisas e lugares", recorda ela, que é casada com Luis Lomenha, diretor da Jabuti Filmes, e tem uma filha de 11 anos, a Sara.
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Mércia iniciou seus trabalhos na escola de cinema (que funciona num sobrado na Lapa) após fazer parte da equipe do filme 'Cidade de Deus', de Fernando Meirelles e Katia Lund. "E hoje o Cinema Nosso ultrapassa esse conceito só de escola. Somos uma instituição de audiovisual com ações de impacto", diz ela, hoje também diretora do festival Super Hacka Kids (evento para crianças sobre games independentes) e do Rio Indie Games.
Representatividade
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Pesquisadora de temas como storytelling e narrativas, Mércia percebeu a importância dos games após trabalhar com vários jovens na escola. "Ter esses conhecimentos requer convivência, porque toda essa plataforma de entretenimento já vem dentro da mochila deles", conta ela, lutando diariamente para que os jogos sejam entendidos não só como tecnologia, mas como empoderamento cultural. "Precisamos ter representatividade de mulheres e negros nas suas construções de narrativas e na equipe de trabalho", conta.
Criadoras
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Entre os projetos criados pelo Cinema Nosso no sentido de empoderar mulheres gamers, está o 'Meu Jogo Minhas Regras', que disponibilizou vaga gratuita para mulheres que querem aprender a fazer games, criando design, programação ou roteiro. A organização já havia promovido em setembro o Women Game Jam, evento realizado em 12 cidades, que consistiu numa maratona de 48 horas de criação e desenvolvimento de jogos por mulheres cis, trans e não-binárias. E que revelou mulheres criadoras.
"Para 2020, pretendemos ampliar estas ações. Vamos realizar mais uma edição da Women Game Jam e gerar dados que contribuam para compreendermos este contexto social e as questões que dificultam a inserção no mercado", conta Mércia, que durante o Women Game Jam, prestou uma homenagem à menina Ágatha, de 8 anos, morta dentro de uma kombi durante operação policial no morro do Alemão.
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O cinema ainda é o grande combustível da escola, que está executando o projeto 'Empoderamento e Cinema - Jovens Negras no Audiovisual'. "Queremos produzir narrativas periféricas que revelem histórias não hegemônicas", conta. "Damos início a um programa de formação que vai capacitar 60 jovens negras para o mercado do audiovisual e dos jogos".