Tainá Antônio dá aula no projeto 'Yoga Marginal' (acima) e levou a pática para o Degase (E) - fotos Reprodução / Instagram
Tainá Antônio dá aula no projeto 'Yoga Marginal' (acima) e levou a pática para o Degase (E)fotos Reprodução / Instagram
Por Lucas França

Rio - A proposta de democratizar a prática do yoga é o que movimenta a jovem Tainá Antonio, de 24 anos, moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Instrutora há três anos e meio, ela desenvolve o projeto "Yoga Marginal", que oferece aulas em favelas, periferias ou, como Tainá gosta de dizer: "Escolhendo o chão onde os meus pés pisam e onde eu carrego o yoga". Essa frase é utilizada pela professora em diversas publicações nas redes sociais, como forma de mostrar que ela escolher "determinados locais e esses determinados locais são porque existem determinadas gentes", explica.

É sobre essas "gentes" que o trabalho de Tainá se preocupa. Ela conta que tanto o nome "marginal" quanto o projeto como um todo surgiram a partir de uma percepção que teve dos espaços em que se pratica yoga, frequentados por Tainá ao longo de anos. Estar em aulas ou estúdios era, segundo a instrutora, algo "bom e ruim". Bom por ser algo legal de ser feito, mas ruim por achar que aquilo não era para ela ou que ela não deveria estar lá por ser a única mulher negra ou a única pessoa da Baixada Fluminense. Após estudos e amadurecimento pessoal, a percepção de Tainá mudou e o projeto tomou forma.

"Era minha função estar lá dentro, aproveitar um pouco desse privilégio e depois retornar, de uma outra maneira, com uma outra metodologia, para a Baixada Fluminense, para as periferias. A ideia do Yoga Marginal surge nisso, de ressignificar os espaços de yoga, os padrões de cor e o esteriótipo que a gente cria das pessoas que fazem yoga, que normalmente são pessoas brancas e ricas. Quando eu coloco o yoga ao lado da palavra 'marginal', é um yoga que parte das margens para as margens", afirma Tainá.

Metodologias Marginais

Tainá aplica nas aulas que coordena no projeto o que chama de "metodologia marginal". A ideia é que, dentro da prática do yoga, novas formas possam surgir para torná-lo cada vez mais democrático e acessível, em uma luta contra racismo e machismo neste universo. Em muitas das publicações que faz ou nos mantras que constrói nos encontros, Tainá usa trechos de música e até versos da Bíblia para se aproximar das pessoas. "Eu uso trechos de rap e funk, trechos da Bíblia, para mostrar que o nosso cotidiano, tudo que fazemos já tem preceitos do yoga", fala a instrutora. Um dos momentos no qual viu com mais êxito a realização das metodologias marginais foi quando deu uma aula no Degase (Departamento Geral de Ações Socioeducativas). O dia que teve com os meninos é uma experiência que a professora "ainda está processando". "Nós conversamos e nos conectamos muito no Degase, vimos que o yoga é uma ferramenta poderosa e acessível", diz Tainá.

Sarrayoga

Criada durante uma aula em um pré-vestibular comunitário em Caxias, o "Sarrayoga" é um momento de brincadeira desenvolvido por Tainá. A ousadia de misturar posições de yoga com movimentos de funk e do axé é feita para gerar, além de um momento de diversão, curiosidade para as pessoas que não conhecem o yoga. "É uma possibilidade para pessoas que não entrariam no universo do yoga pela prática em si, mas que entram pelo rebolar, pelo funk, pelo se divertir, e depois começam por curiosidade, conhecem a prática do yoga de uma outra perspectiva. Tem tido uma repercussão muito potente", conta a jovem.

 

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