Priscila Gonçalves e os filhos  - Arquivo pessoal
Priscila Gonçalves e os filhos Arquivo pessoal
Por O Dia
Rio - Na coluna de hoje, a consultora de gestão e planejamento estratégico para pequenos negócios Priscila Gonçalves conta como tem sido sua rotina de isolamento social com dois filhos, equilibrando trabalho, afazeres da casa e maternidade em tempo integral.
Rotina de cabeça pra baixo
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Texto de Priscila Gonçalves
Chamar de rotina o dia a dia sozinha com dois pequenos, um com 4 e outro com 2 anos, é um paradoxo. Apesar de eu tentar ao máximo ter o tempo organizado, eles têm seus humores, seus dias bons e ruins, suas vontades... como todos nós, aliás. E estarem fechados num apartamento pequeno não ajuda. Dia 13/04 completamos um mês de quarentena.
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Acordo em torno das 5h30 para adiantar o almoço e tento trabalhar ou estudar um pouco. Por volta das 6h30, eles começam a acordar: xixi, beijos, abraços, colo, desenho, suco, tapioca, ovo, biscoito, tudo junto. O mais novo está desfraldando e acordou cinco vezes para usar o penico na noite passada. CINCO VEZES. Penso de quem foi a ideia de jerico de desfraldar ele agora, no meio de uma pandemia. Claro, foi minha. Eu que lute.
Alimento as crias, dou banho, troco de roupa, escovo os dentes e coloco um desenho – este último sem culpa, pois estamos em modo sobrevivência. Sento cinco minutos para tomar meu café, e meu ovo é surrupiado por um par de mãozinhas. Sim, o mais novo acabou de tomar café, mas adora comer do meu prato. Eu deixo.
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Se na noite anterior eles estavam muito agitados e o dia seguinte amanhecer ensolarado, desço para a área externa do prédio, pra pegarmos um sol. E a volta é uma operação de guerra: tirar sapatos e roupas, botar os dois ao mesmo tempo pra tomar banho, enfiar as roupas - deles e minha - na máquina, jogar os brinquedos num balde com solução clorada, sanitizar a porta e o chão por onde passamos, correr de volta pro banheiro pra terminar o banho deles, tomar o meu, nos secar, e vestir todo mundo em roupa limpa e fresquinha. Desafio qualquer comandante de qualquer exército a executar essa operação sem errar. Duvide-o-dó.
Enquanto eles assistem aos desenhos, eu termino o almoço, arrumo a casa e alimento eles novamente. No total, devem fazer entre seis e sete refeições por dia. E são magros! Vai entender. O mais novo tem suspeita de APLV (alergia a proteína do leite de vaca), o que limita muito as coisas industrializadas que ele pode comer. Então, a imensa maioria dos lanches é feita do zero por mim.
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Isso tudo ainda na parte da manhã. Meio-dia, o desenho "vai descansar" sob fortes protestos de ambos, e é hora do almoço. Peço ao mais velho para botar a mesa (colocar a mesinha deles no meio da sala e colocar as cadeiras), trago os pratos e comemos juntos. Acabado o almoço, mais rotina: lavar a boca e as mãos - às vezes, um banho é necessário -, escovar os dentes, arrumar a mesa de volta no lugar, varrer a sala, passar pano.
A tarde depende muito do humor deles ou da minha necessidade para poder ser dividida entre atividades que gostamos - pintura, massinha, fazer bolo ou biscoitos, soprar bolinhas de sabão - ou mais desenho. De novo, zero culpa. Respondo clientes por aplicativo de mensagens, leio notícias, faço cursos, converso com meus amores via internet. Sou consultora de pequenos negócios, e essa pandemia virou tudo e todos de cabeça pra baixo.
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A rotina da noite começa às 18h. Juntar os brinquedos, jantar, escovar os dentes, banho, apagar as luzes. Deito com eles na sala, com a TV ligada, e dormem enquanto vejo o jornal. Dando tudo certo, 20h estão dormindo e, finalmente, tenho tempo para tomar um banho, ver uma série, preparar alguma coisa gostosa pra mim. Dando tudo errado, a madrugada é o limite. E, no dia seguinte, começa tudo de novo, no mesmo horário, ou não.
Não sou mulher de correr de briga, mas escolho minhas batalhas... E o resto pode pegar fogo.