Rio - Filhas no balé; filhos nos esportes. Ainda bem que esse tempo já era! A lutadora de jiu-jítsu Julia Boscher, 24 anos, 1,62 m e 68 quilos, teve o seu momento balé aos 6 anos. Com o tempo, percebeu que gostava mesmo era de handebol, futebol society e vôlei. E passou a competir no handebol do Fluminense. "Mas ainda há esportes em que existe preconceito com a mulher desde criança", observa ela, que, aos 13 anos, resolveu experimentar o muay thai. Foram apenas seis meses. Não era a dela.
Mas eis que surge uma nova paixão — e recíproca: o jiu-jítsu. "Fiz um mês de experiência, superinsegura. Em uma luta, a menina me 'amassou' e, quando acabou, ela disse para eu não desistir, me deu apoio", relembra a carioca da Tijuca, que está a caminho de cem medalhas, entre ouro, prata e bronze, recebidas em embates no Brasil, Califórnia, Abu Dhabi e Israel.
A faixa azul veio em três meses. Depois, a roxa, a marrom... Só que em 2018 ela rompeu o ligamento do joelho esquerdo. Operou e ficou seis meses parada. "Nesse tempo comecei a fortalecer meu espírito, abrir minha mente lendo sobre vários temas. Saber detalhes do budismo me ajudou muito na respiração, a meditar, a me concentrar. Li também sobre machismo e empoderamento feminino", conta. E foi pensando nisso que a atleta defende a importância da igualdade entre competidores: "Por exemplo, numa luta, na mesma categoria, o prêmio é um quimono para ela; e R$ 1 mil para ele".
E como toda garota que se cuida, Julia trata o cabelo comprido e as unhas curtinhas, no salão Emporium Hair. Detalhe: as unhas têm que ser pintadas de preto por causa da cor de sua faixa. Sempre animada, ela adora correr, andar de bicicleta, skate e jet ski. "Gosto de adrenalina", afirma. Praia e cachoeira sempre. Ouve hip hop antes das lutas. E ela vibra: "Impossível descrever o tamanho da minha felicidade ao ver a força dessas mulheres. Ver que acreditam em si e sabem que o lugar delas é onde quiserem. O jiu-jítsu nos proporciona um milhão de coisas boas, mas nada melhor do que o amor próprio. Acredita, mulher! Você pode!".