Cenas do filme foram gravadas em dois dias, no Instituto Histórico de Duque de Caxias
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Cenas do filme foram gravadas em dois dias, no Instituto Histórico de Duque de Caxias Divulgação
Por O Dia
O filme “Joãosinho da Goméa – O Rei do Candomblé”, dos cineastas Janaina Oliveira ReFem e Rodrigo Dutra, ganhou a categoria "Prêmio do público" do FestCurtas Fundaj 2020. O documentário conta a história do polêmico babalorixá que viveu em Duque de Caxias.
O Filme mostra a trajetória do homem que por volta dos anos 1950 veio de Salvador e fundou na Rua da Gomeia o famoso terreiro de Caxias, onde atendia políticos importantes e celebridades. Com músicas cantadas por ele, o filme mostra performances provocadoras e arquivos diversos que ressaltam o quanto ele é importante para o município e para as religiões de matriz africana.
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"Entre curtas, documentários, animações, ficções, nosso Joãosinho da Goméa foi escolhido pelo público como melhor filme do festival. Entre tantos inscritos e selecionados por esse Brasilzão, fomos escolhidos pelo povão. Uma honra. É do Seu João, é do interior da Bahia, é de Salvador, é de Duque de Caxias, da nossa Baixada Fluminense, é nosso", comemorou o ator Átila Bee, que interpreta o personagem-título.
O I Festival Nacional de Curtas On-line do Cinema da Fundação exibiu 44 curtas de 14 estados, teve mais de 105 mil acessos. Os filmes concorreram aos prêmios de Melhor Ficção, Documentário e Animação, além do Prêmio Cinemateca Pernambucana e Prêmio do Público.
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O processo de criação
A ideia de fazer o filme surgiu em 2017 quando Rodrigo Dutra criava o Gomeia Galpão Criativo, local de coworking para coletivos da Baixada que recebeu o nome em homenagem à Joãosinho da Goméa. "Fazendo um resgate histórico da memória e da potência dele para a região, especialmente para Caxias, e para as religiões de matrizes africanas surgiu em mim a vontade de fazer o filme", conta Rodrigo. 
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Daí começaram as pesquisas e montagem do roteiro e depois de algumas modificações o projeto tomou forma e foi aprovado em um edital. As gravações duraram dois dias, que era o que a verba permitia. "O principal desafio foi trabalhar com acervo. Tínhamos acervo de indumentária do Seu João, roupas dos orixás, documentos e para isso tivemos que transformar o Instituto Histórico de Duque de Caxias em estúdio, porque não podíamos tirar o acervo de de lá", relembra o cineasta.
Para Rodrigo, o objetivo do documentário era mostrar a importância das religiões de matrizes africanas no Brasil, a história de Joãosinho e sua relevância para a sociedade. "Trouxemos as entidades e a espiritualidade retratando a figura espiritual, tanto como a figura histórica dele,  um amante das artes", finaliza.
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A personalidade polêmica de Joãosinho foi introduzida na figura de Arlete, a vedete que adorava o Carnaval criada por ele, atitude que era criticada na época pelas ialorixás e mães de santo.

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Patrimônio ameaçado
O prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis, anunciou a construção de uma creche em imóvel do Terreiro da Gomeia, que está em processo de tombamento por se tratar de um patrimônio histórico. O Ministério Público Federal (MPF) solicitou ao prefeito e às secretarias municipais de educação e cultura informações sobre a intenção de fazer esta obra no local. 

"Há a necessidade de proteção ao patrimônio histórico e cultural, a qual independe de efetivo registro ou tombamento em órgão competente. Além disso, é necessário a valorização e atuação proativa do Estado das religiões de matriz africana, sobretudo em razão da importância de Joãozinho da Gomeia não apenas para a região, como para todo o país", ressalta o procurador da República Julio José Araujo Junior, que assina o documento.

O ofício determina o prazo de cinco dias para que a prefeitura de Duque de Caxias, a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria Municipal de Cultura se manifestem. Até fevereiro de 2020, o processo de tombamento do Terreiro estava em fase de finalização da pesquisa histórica do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).
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"É preciso fazer algo nesta área, porque está abandonado e tem sido um problema sanitário para os moradores da região. Mas qualquer coisa que seja feito não pode se desconsiderar a memória de Joãosinho e a sacralidade do local", opina Rodrigo Dutra.