Para especialistas, 2018 foi uma eleição atípica: o eleitor, desiludido e com raiva, resolveu dar um basta aos políticos de forma geral, tanto que pessoas com longa história de vida pública acabaram rejeitadas pelas urnas. Mas esse momento passou, dando ao pleito deste ano uma característica plebiscitária. Os brasileiros irão às urnas para dar o aval (ou não) à continuidade, porém, sem o fator “castigo” aos seus representantes.
Com isso, temas recorrentes como emprego, saúde e educação — além de corrupção, porém, com um peso menor — deverão ditar os ânimos. Mas há um novo fator que deve ser pesado: a Covid e suas consequências. Afinal, foram 682 mil mortes contabilizadas pelos órgãos oficiais, sem contar os grandes debates sobre vacinas, tratamentos, disponibilidade tanto de equipamentos de proteção como de medicamentos, além de leitos e prevenção da doença.
Carlos Montenegro, acionista do Ipec e ex-diretor do antigo Ibope, acredita que o cenário está estável no plano nacional, e debates, entrevistas ou mesmo a campanha terão pouca influência na decisão de outubro.
“Até agora não aconteceu um fato novo que possa mudar o que as pesquisas vêm apresentando nos últimos dois anos. Ao longo desse tempo, foram mais de 60 mil pessoas entrevistadas, o que dá muita robustez ao resultado”, destaca Montenegro.
Ele alerta, por outro lado, que as corridas estaduais têm características diferentes. “No Rio, como em outros estados, a interferência de Lula ou de Bolsonaro é limitada. O eleitor vai pensar nos problemas que enfrenta no seu dia a dia, e não no que acontece em Brasília, ao escolher o candidato ao governo”.
Seguindo a mesma linha, o professor da FGV CPDOC e especialista no tema Eleições, Sérgio Praça, acredita que o “antipetismo” visto em 2018 não deve aparecer nas eleições para o Governo do Rio.
“Primeiro porque o (Marcelo) Freixo não é o candidato do PT. Embora ele tenha o apoio do Lula, não está envolvido em nenhum escândalo nem nada assim, e o tema da corrupção é muito ruim para o Cláudio Castro”, avalia o professor.
Praça explica que, no caso específico das eleições presidenciais, o que acontece, principalmente quando o candidato busca a reeleição, como é o caso de Jair Bolsonaro (PL), é que o eleitor avalia como está a situação econômica do país. Índice de desemprego, inflação e auxílios financeiros são apontados pelo professor como fatores decisivos nas urnas.
“Acho que este ano a gente vai ter uma situação desse tipo, porque a economia nos últimos meses não andou bem para o cidadão comum. O desemprego não está tão alto assim, mas basta sair de casa para ver que a comida aumentou muito e isso tem um impacto”, destaca o professor.
Influência da religião
Além das tradicionais pautas que influenciam os eleitores na escolha de seus candidatos, como economia, segurança, educação e saúde, o representante do Instituto Mapear Claudio Gama acredita que a religião também exercerá um forte peso nas urnas nas eleições de outubro.
“Pautas como liberação das drogas e do aborto são alvo de distorções e fake news. A questão é que eleitores evangélicos se sentem mais identificados e militantes politicamente em relação a esses assuntos, e isso tem bastante influência, principalmente por conta desse engajamento que existe entre os evangélicos”, destaca Gama.
Já Sérgio Praça acredita que o peso da religião seja maior em campanhas para o legislativo, de deputados estadual e federal. Para o poder executivo, tanto de governadores como presidentes, o especialista em eleições se mostra mais cético.
“A questão religiosa não é uma coisa que faz tanta diferença na campanha para governador, mas posso estar errado, porque, no Rio de Janeiro, a influência da religião na política é mais forte do que nos outros estados. Para as eleições legislativas, a religião é determinante”, defende o professor da FGV.
Gama ainda aponta uma nova vertente para esse tema, que é a aversão à mistura de religião com política. Embora o problema não seja novo, o especialista observa um crescimento desse sentimento, especialmente entre os eleitores evangélicos. “A gente tem ouvido evangélicos dizerem que, quando estão num culto, se o pastor fala de política, eles se levantam e saem. Então está havendo uma aversão, uma não aceitação a esse comportamento”, explica.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.