É verdade que museu colocou tarja preta em cima de nome de Lula, como afirma postagem nas redes sociaisArte/Comprova
Onde foi publicado: Twitter.
Conclusão do Comprova: É verdadeiro o conteúdo de um vídeo publicado no Twitter, no dia 15 de agosto, que mostra uma tarja cobrindo o nome do ex-presidente Lula em uma placa de modernização e restauração do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro, fixada em parede na entrada do prédio.
O conteúdo verificado exibe imagens do interior do museu e da placa, acompanhadas da seguinte narração: “Aqui, fica aqui na entrada do museu. Aí eu perguntei por que [o nome do ex-presidente Lula] estava tampado, e eles disseram que era ordem do Ibram [Instituto Brasileiro de Museus] e que não podia ter propaganda política. É mole? Estou assustada.”
O Comprova confirmou que o local que aparece no vídeo é mesmo o Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro. Em nota divulgada no dia 17 de agosto, o museu confirmou ter coberto, no dia 2 de julho, os nomes de dois candidatos à eleição presidencial, que constam em placas de obras já finalizadas, “para que não se caracterizasse nenhuma forma de promoção de um ou outro candidato”.
Embora não sejam citados nominalmente na nota, a instituição informou ao Comprova, por telefone, que o outro nome ocultado além do de Lula era o de Jair Bolsonaro (PL). O nome do presidente está presente em uma placa com a ficha técnica da nova exposição temporária do museu “Rio-1922”. O Comprova não encontrou, no entanto, conteúdos que tenham circulado com imagens de tal situação.
A decisão por ocultar os nomes, segundo o espaço cultural, foi tomada em atendimento à Lei nº 9.504, de setembro de 1997, que estabelece normas para as eleições, e à Instrução Normativa n° 01/2018, de abril de 2018, que disciplina a publicidade em ano eleitoral dos órgãos e entidades integrantes do Poder Executivo Federal. O Museu Histórico Nacional faz parte da rede do Ibram, ligado ao Ministério do Turismo.
A medida, porém, foi reavaliada pela instituição, que, na mesma nota, informou que as etiquetas seriam retiradas “visto que se trata de material informativo, de contexto histórico, e de acervo museológico a serviço da sociedade”.
Comprovado, para o Comprova, é todo fato verdadeiro; evento confirmado; localização comprovada; ou conteúdo original publicado sem edição.
Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 19 de agosto, o vídeo teve 61,6 mil visualizações, 3,7 mil curtidas e 1,2 mil compartilhamentos no Twitter.
O que diz o autor da publicação: A autora do post foi procurada, por meio do Twitter, mas não houve resposta até o fechamento desta verificação.
Como verificamos: Após assistir ao vídeo e identificar o Museu Histórico Nacional, a reportagem fez contato com a assessoria de imprensa do espaço para averiguar se o conteúdo descrito pela autora era verdadeiro.
O Comprova fez ainda pesquisas na internet usando palavras-chaves “museu” e “Lula”, e a consulta retornou reportagens da Folha, Brasil de Fato e Fórum tratando do assunto.
A equipe também procurou pelo Ibram, ao qual foi reportada a responsabilidade pela ocultação do nome do ex-presidente Lula da placa.
Para saber quando, onde e por quem o vídeo foi gravado, o Comprova entrou em contato pelo Twitter, no dia 17 de agosto, com a usuária @Sandroka13, que não retornou às mensagens até o fechamento desta verificação.
Tentando encontrar outras possíveis origens do vídeo, o Comprova analisou publicações de gravações que citassem o Museu Histórico Nacional no Twitter, no Facebook, no Instagram e no YouTube e encontrou algumas outras postagens originais, além de centenas de retuítes e compartilhamentos. A equipe fez contato com diversos perfis, mas não obteve retorno.
Para identificar o local do vídeo, também foram analisadas gravações de visitantes dentro do museu, como uma publicada em dezembro de 2021 pelo canal “Vamo nessa partiu”, do YouTube. Tanto essa gravação quanto o vídeo aqui verificado têm elementos em comum (como as estátuas e a escada rolante), indicando que a publicação que viralizou foi mesmo feita no Museu Histórico Nacional.
Nomes de outros integrantes do governo da época, como o do cantor, compositor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, aparecem listados, abaixo, normalmente.
A autora faz uma narração enquanto grava o vídeo, citando que a placa está situada na entrada do museu e que, ao questionar um funcionário sobre o fato de o nome do ex-presidente estar ocultado, foi informada que era ordem do Ibram porque no local não poderia ter propaganda política. Na sequência, ela comenta: “É mole? Estou assustada!”
Museu revisou decisão de encobrir nomes dos candidatos
Também informou que, em razão da legislação eleitoral, os nomes de dois candidatos à eleição presidencial, que constam em placas de obras já finalizadas, bem como em acervos de exposições de longa duração, também foram cobertos para que não se caracterize nenhuma forma de promoção de um ou outro candidato.
Em contato com o Comprova, por telefone, a assessoria da instituição afirmou que o outro nome ocultado foi o de Jair Bolsonaro (PL). O presidente está citado em uma ficha técnica da nova exposição temporária intitulada “Rio-1922“. Por ser uma instituição federal, é comum que em inaugurações de mostras o museu coloque placas contendo os cargos do governo em vigência, conforme informou a assessoria.
O vídeo verificado, entretanto, mostra apenas uma placa em que o nome do ex-presidente Lula foi encoberto. O Comprova não localizou registros de placas ou objetos dentro do museu que apresentassem o nome de Bolsonaro tarjado. Por telefone, a assessoria do Museu Histórico Nacional disse que enviaria um e-mail com uma foto da placa com o nome de Bolsonaro, mas não a enviou até o fechamento desta verificação.
Com a repercussão do caso, o Museu Histórico Nacional reconheceu, na mesma nota, que a ocultação dos nomes extrapola as vedações da legislação eleitoral, visto que se trata de material informativo, de contexto histórico, e de acervo museológico a serviço da sociedade. Assim, a partir do dia 17 de agosto, as etiquetas sobre os nomes dos dois candidatos seriam retiradas.
O Ibram também foi consultado, mas disse, em contato do Comprova por telefone, que o posicionamento é o mesmo do Museu Histórico Nacional.
Autoria da gravação é desconhecida
Parte delas era de apoiadores de Lula nas eleições de 2022 e criticava o que consideraram censura do Museu Histórico Nacional. Em uma delas, no Twitter, a usuária Mari Lula Jurema (@Mari_Jurema) diz que o vídeo seria de “uma ex-colega [que] foi visitar o Museu Histórico Nacional”. O Comprova entrou em contato com ela, que disse ter recebido o vídeo no WhatsApp, mas não lembrava quem o repassou.
A publicação mais antiga do vídeo encontrada pelo Comprova é do usuário do Twitter José do Nascimento Jr. (@jrmuseus), que publicou o conteúdo no dia 14 de agosto, às 22h26. No tuíte, Nascimento indica que se trata de um vídeo do Museu Histórico Nacional e cita os perfis do jornal O Globo, da editoria de Política da Folha de S.Paulo e do colunista Ancelmo Gois, também de O Globo. O Comprova entrou em contato com Nascimento para saber a origem do vídeo, mas não obteve retorno até o fechamento desta verificação.
Outra publicação do vídeo foi feita após a de Nascimento no canal no YouTube do site Diário do Centro do Mundo. O Comprova usou um site para baixar o vídeo publicado pelo canal e constatou, analisando os metadados (informações como data, hora e local) do arquivo no computador, que a publicação foi feita no dia 14 de agosto, às 22h34, poucos minutos depois de o autor do tuíte encontrado pelo Comprova ter feito seu post.
Em contato por e-mail com Kiko Nogueira, diretor do Diário do Centro do Mundo, ele informou ao Comprova que o site havia recebido o vídeo de uma leitora. O nome dela e o contato, porém, não foram divulgados. Nogueira também enviou uma notícia publicada no dia 17 de agosto no portal NSC Total que afirma que o Museu Histórico Nacional havia confirmado a ocultação do nome de Lula e que iria retirar a tarja.
Apesar de o Comprova não ter chegado à origem do vídeo, o fato de o Museu Nacional confirmar, em nota, que havia ocultado o nome de candidatos sustenta que o conteúdo investigado é verdadeiro. A data em que o vídeo foi feito é incerta, embora seja provável que a gravação tenha ocorrido a partir do dia 2 de julho — data a partir da qual o espaço cultural passou a ocultar de suas placas e acervos os nomes de candidatos, sob a justificativa de atender à legislação eleitoral.
Obras no Museu Histórico Nacional
De 2003 a 2006, durante a gestão do ex-presidente Lula, o Museu Histórico Nacional passou por um Projeto de Restauração e Modernização que tinha como objetivo recuperar e adequar o espaço da instituição para melhor receber o público e apresentar seu acervo.
O projeto foi dividido em três etapas e, segundo reportagem do Brasil de Fato, fez parte do Programa Nacional de Recuperação de Museus, quando o governo Lula investiu R$ 100 milhões em obras de diversas instituições, sendo R$ 40 milhões do Ministério da Cultura e R$ 60 milhões vindos de leis de incentivo.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre as eleições presidenciais de 2022, a pandemia e políticas públicas do governo federal. Neste caso, o vídeo faz referência a Lula, que disputa a eleição. É importante avaliar os conteúdos que circulam nas redes sociais para evitar a disseminação de desinformação e garantir que as pessoas possam fazer suas escolhas baseadas em informações verdadeiras.
Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o site Boatos.org checou um conteúdo semelhante ao investigado pelo Comprova, que acusava o Museu Imperial do Rio de Janeiro de ocultar a logo do governo federal e prejudicar Jair Bolsonaro. A justificativa da instituição foi a mesma utilizada pelo Museu Histórico Nacional.
Em outras verificações envolvendo o ex-presidente petista, o Comprova mostrou que vídeo engana ao afirmar que banqueiros o apoiam por supostos prejuízos ao setor provocados por Bolsonaro, que ele não disse que vai implantar ditadura no Brasil em entrevista a canal chinês e que não há registro público de declaração do político nem do MST sobre eliminar agronegócio da Terra.
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