Lula chora em discurso de transição Reprodução/Redes Sociais

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu parlamentares e fez um discurso emocionado na manhã desta quinta-feira (10), em sua primeira visita ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede do governo de transição, em Brasília.
Chorando, Lula declarou que pretende "restabelecer a dignidade do povo". "É a única razão de eu voltar. Se quando eu terminar esse mandato, cada brasileiro estiver tomando café, almoçando e jantando, terei cumprido minha meta", afirmou. Ele ainda disse que "jamais esperava que a fome voltasse nesse país. A única explicação é que falta compromisso dos governantes", disse.
O presidente eleito afirmou ainda que pretende conversar com o agronegócio para entender "qual é a bronca" do setor com sua eleição, já que este pagava juros menores durante a gestão petista em relação ao cenário atual. O agro foi um dos principais setores a apoiarem a reeleição de Jair Bolsonaro.
Durante o discurso, o presidente eleito citou os protestos contra sua vitória, que acontecem desde semana passada, e pediu para que os manifestantes "voltem para casa". "Democracia é isso. Um ganha, outro perde", afirmou. "Algumas pessoas inconformadas com resultado eleitoral estão na frente de quartéis", disse, completando que, "lamentavelmente são uma minoria que não sabe nem o que pede".

"Não sejam violentos com quem pensa diferente, vamos respeitar quem não pensa como nós. Não peço para ninguém gostar de mim, mas para respeitar o resultado eleitoral", pediu o petista.

Lula disse que o País tem "um vencedor e um perdedor", destacando que "uma derrota é apenas um incentivo para me preparar melhor para outra disputa eleitoral". Para ele, o presidente Jair Bolsonaro "tem dívida com povo". "Peça desculpas pelas mentiras", completou.
Ele também afirmou que visitou, na quarta-feira, 9, instituições para dizer que "a partir de agora terão paz". "Não terão mais presidente desaforado querendo intervir na Suprema Corte. Ministros do STF Supremo Tribunal Federal não podem ir a um restaurante, a um cinema. Este país vai voltar à civilidade", disse o petista em um encontro que ocorreu no período da manhã desta quinta com parlamentares no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede do governo de transição.

Lula fez na quarta um giro por Brasília e esteve com os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), respectivamente.

Também passou pelo STF, onde encontrou com 10 dos 11 ministros da Corte - apenas Luís Roberto Barroso não esteve presente porque participa da COP 27, no Egito.

Ainda teve mais um encontro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde conversou com o presidente da Corte, Alexandre de Moraes.

"Moraes teve comportamento exemplar, ele foi de muita coragem e dignidade", completou o presidente eleito.
Lula falou também sobre Arthur Lira
Ele afirmou ter consciência de que o presidente da Câmara é seu adversário político, mas ponderou a necessidade de manter as pontes com o líder do Centrão. "Muita gente achava que eu jamais conversaria com Lira. Eu sei que ele é meu adversário, mas ele é o presidente da Câmara dos deputados. E o presidente da República necessita conversar, dialogar", afirmou Lula em reunião com parlamentares no Centro Cultural Banco do Brasil, sede do governo de transição.

Ele voltou a dizer que o chefe do Executivo "não deve se intrometer" nas eleições internas da Câmara e no Senado.

Na tentativa de formar sua governabilidade, Lula também reforçou que não vai negociar com o Centrão, mas com parlamentares eleitos. "Governo terá diálogo com o Congresso e governadores, independentemente de partidos", disse o presidente eleito, para quem o governo não pode achar que projetos do Executivo estão perfeitos, a ponto de dispensarem colaborações. Vai conversar com todos, Parlamento, movimentos sociais e sindicais.

"É preciso conversar com movimentos sociais e sindicais", afirmou o petista. "Vou andar todos os Estados e não vai ter motociata, vai ter abraço e conversa".
Presidente eleito comentou sobre economia
Lula fez críticas à "estabilidade fiscal", ao defender que é preciso colocar a questão social na frente de temas que interessam, segundo ele, apenas ao mercado financeiro. O petista também questionou por que ter meta de inflação e não ter meta para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

"Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal desse País? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gastos? Por que as mesmas pessoas que discutem teto de gastos com seriedade não discutem a questão social neste País?", questionou, em discurso no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).

Como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo, ganhou força na equipe de transição a opção de retirar as despesas do Auxílio Brasil do teto de forma permanente, o que desagradou o mercado. Para o setor financeiro, a saída que vem sendo negociada pela equipe de transição, que também teria de ser feita via PEC, pode deteriorar a trajetória de sustentabilidade da dívida pública.

Os investidores reagiram automaticamente ao discurso desta quinta-feira, 10. Às 11h55, durante a fala de Lula, o Ibovespa, principal índice da B3, caía 2,63%, aos 110.596,89 pontos, após ceder 3,42%, na mínima aos 109.696,71 pontos.

Segundo o petista, é preciso mudar a forma de encarar determinados gastos que são feitos pelo poder público. "É preciso mudar alguns conceitos. Muitas coisas que são consideradas como gastos neste País, precisam passar a ser encaradas como investimento. Não é possível que se tenha cortado dinheiro da farmácia popular em nome de que é preciso cumprir a meta fiscal, cumprir a regra de ouro", disse Lula.

Críticos à expansão sem controle das despesas afirmam que a responsabilidade fiscal é o que permite mas gastos para o social ao se economizar com a conta de juros da dívida.

O presidente eleito lembrou que, durante seus dois mandatos, entre 2003 e 2010, o Brasil respeitou as metas fiscais, os índices de inflação e deixou o País com superávit, em vez de dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Lula reafirmou, como fez na campanha eleitoral, que o país tem que retomar a credibilidade, a estabilidade e a previsibilidade. "A sociedade não pode ser pega de surpresa", disse o petista.

Em sua primeira visita ao local onde se instalou a equipe de transição, Lula disse que os bancos públicos, como o BNDES, também precisam voltar a olhar para os temas sociais e que os financiamentos promovidos hoje por essas instituições devem ser readequados.

Lula disse que a Petrobras não será fatiada e que o Banco do Brasil e a Caixa não serão privatizados.
*Com informações do Estadão Conteúdo