Vini Jr se emocionou em coletiva antes de Brasil x EspanhaRafael Ribeiro/CBF

Espanha - Principal protagonista do amistoso entre Brasil e Espanha, nesta terça-feira (26), no Santiago Bernabéu, que contará com ações antirracistas, Vini Jr fez um forte desabafo sobre os ataques racistas que tem sido vítima. Em coletiva nesta segunda (25), o atacante chorou ao comentar tudo que vem sofrendo nos últimos meses e disse ter cada vez menos vontade de jogar futebol.
"É cada vez mais triste. Cada vez eu tenho menos vontade de jogar. Acredito que seja muito triste tudo que eu venho passando a cada jogo, a cada dia, a cada denúncia vai aumentando. É muito triste, mas não só eu, mas todos os negros que sofrem no dia a dia o racismo verbal é minoria perto de tudo que os negros passam no mundo", declarou Vini.
"Meu pai sempre teve dificuldade por ser negro. Entre ele e um branco, sempre vão escolher um branco. Tenho lutado bastante por tudo que tem acontecido comigo. É desgastante por estar meio sozinho. Já fiz tantas denúncias e ninguém é punido, nenhum clube é punido. A cada dia que passa, luto por todos que passam por isso. Se fosse só por mim e pela família, não sei se continuaria. Mas fui escolhido para defender uma causa bem importante e que eu estudo a cada dia para que no futuro próximo meu irmão de cinco anos não passe pelo que estou passando", completou.
O atacante também não escondeu sua frustração com a falta de punições aos racistas, mesmo diante de tantas denúncias.
"Se a gente começar a punir todas essas pessoas que cometem crime e aqui eles não consideram crime, vamos começar a evoluir, tudo vai ficar melhor para todo mundo. Faço tantas denúncias, muitas vezes chegam cartas para fazerem mais denúncias, mas no final acontece como aconteceu com meu amigo em Barcelona, eles arquivam o processo e ninguém sabe de nada. Se a gente começar a punir essas pessoas, não que eles vão mudar o pensamento, mas vão ficar com medo de falar, seja no estádio, onde tem câmeras... e assim vamos diminuir isso, colocar medo naquelas pessoas. E que eles possam também educar seus filhos. Muitas vezes aqui tem criança me xingando e eu não culpo a criança, porque eles não entendem, eu na idade deles não entendia o racismo. É complicado", lamentou o camisa 7.
"No futebol tem muitas pessoas, tantos jogadores melhores do que eu que já passaram por aqui, eu quero fazer com que as pessoas no mundo possam evoluir, melhorar, que possamos ter igualdade, que num futuro próximo haja menos casos de racismo, que as pessoas negras possam ter uma vida normal, como as outras. Quero seguir lutando por isso. Se fosse por mim, eu já teria desistido, fico em casa, ninguém vai me xingar, fazer nada comigo... Eu vou para os jogos com a cabeça centrada no jogo para fazer o melhor para minha equipe, mas nem sempre é possível. Tenho que me concentrar muito todos os dias...", finalizou.

Veja outros tópicos da forte entrevista:

Apoio na Espanha
"Quero agradecer desde já a todos os jogadores da Espanha que sempre que dão entrevista estão me apoiando, fazendo de tudo para que a Espanha mude seu pensamento. Não só a Espanha, em todo lugar tem muito racismo. Espero que a gente possa fazer de tudo para diminuir cada vez mais o racismo. Os jogadores da Espanha estão me ajudando muito, falado em entrevistas coisas que no início só eu falava, hoje eles estão junto a mim. Sempre peço que Fifa, Conmebol, Uefa possam fazer mais coisas, como a CBF está fazendo, vem me ajudando para que possamos evoluir como ser humano, para que todos possam estudar para ver o que os pretos passam e passaram. O que eu passo não é nem perto do que todas essas pessoas passaram. Eu quero lutar por aqueles que são preto…"
Ataques
"Acredito que eles têm que falar menos de tudo o que eu faço de errado dentro de campo, é claro que tenho que evoluir, mas tenho apenas 23 anos, é um processo natural, saí muito novo do Brasil, não pude aprender tantas coisas. Tenho 23 anos e sigo estudando. Por que os repórteres da Espanha, que são mais velhos do que eu não podem estudar e ver o que realmente está acontecendo, cada vez estou mais triste, cada vez tenho menos vontade de jogar, mas vou seguir lutando."
Motivação para seguir
"Acredito que por todas as pessoas que torcem por mim, me acompanham e me mandam cada vez mais mensagens, vou seguir lutando por eles, hoje tenho uma força grande dentro de mim, da minha casa, da minha família, eles me apoiam em tudo o que vou fazer. Nem todos têm esse apoio, podem vir aqui falar por tantas pessoas. Eu quero seguir por eles, por todas pessoas que sabem o que passo e passei e que sabem que é muito difícil."
Palco de Brasil x Espanha
"Vai ser um sonho realizado para mim, poder jogar na minha casa aqui na Espanha, o Bernabéu, com a camisa da seleção brasileira, onde sempre sonhei estar. E pela primeira vez com a torcida contra. Vai ser um duelo muito importante para as duas seleções, algumas das maiores do mundo, faz tempo que não se enfrentam. A gente gosta de jogar contra os melhores, como foi contra a Inglaterra, conseguimos fazer um grande jogo. Hoje tem a preparação para o jogo de amanhã contra alguns companheiros meus, estou muito feliz e ansioso para esse duelo, espero que o Brasil possa sair vencedor."
Apoio da CBF
"Obrigado. A CBF, o presidente, todo o pessoal que trabalha com ele, todos os atletas sempre me deram a maior força do mundo para a gente seguir lutando junto, não só em campo, mas também fora. O presidente conseguiu mudar as regras, as leis do Brasil, e a cada vez que tem um ato de crime no futebol ele consegue punir essas pessoas. Isso vem diminuindo no Brasil, espero que outras federações do mundo todo possam aprender com o presidente para que possamos nós, jogadores, seguir com a cabeça só no futebol, pois temos jogos a cada dois ou três dias, tenho que me concentrar, me recuperar, também aproveitar com minha família. Espero que eles possam fazer mudanças radicais para que todos os jogadores possam atuar com tranquilidade."