Cuca em sua última passagem pelo Atlético-MGDivulgação/Atlético-MG
Postagens de torcedores usavam as hashtags "cucanão" e "foraCuca". Outros chamavam de "vergonha" e "vexame". Torcedores de outros times também comentaram na postagem do Atlético-MG, repudiando a contratação.
Em janeiro deste ano, o Tribunal Regional de Berna-Mitteland, na Suíça, anulou a sentença de 1989 que condenou o treinador por manter relação sexual sem consentimento com uma menina de 13 anos. O caso aconteceu em 1987, quando ele era jogador do Grêmio, durante um excursão do time ao país europeu. Em março, ele acertou com o Athletico Paranaense, mas pediu demissão em maio após sequência ruim do time, que terminou o ano rebaixado. À época, o presidente Mario Celso Petraglia criticou bastante o treinador, afirmando que ele usou o clube para limpar sua imagem após a saída conturbada do Corinthians.
CUCA É INOCENTE?
A defesa de Cuca solicitou a revisão do caso argumentando que o treinador não contou com um representante legal na época e foi julgado à revelia. O pedido de um novo julgamento foi aceito, mas o Ministério Público alegou não ser possível realizá-lo pelo fato de o crime ter prescrito. O órgão, então, sugeriu a anulação da pena e o fim do processo, o que acabou sendo acatado pela Justiça. Foi determinado, ainda, uma indenização de 13 mil francos suíços (R$ 75 mil) - atualizado para 9,5 mil francos suíços (R$ 54,8 mil) após cumprimento de despesas.
Afinal, Cuca é inocente? Apesar da extinção da sentença, não se trata de uma mudança de veredicto. Isso porque o mérito do caso não foi reavaliado pela Justiça da Suíça. Assim, é errado afirmar que Cuca foi inocentado. Com a anulação de sentença e prescrição do processo, não poderá haver novo julgamento. A vítima morreu em 2002, aos 28 anos. Um dos herdeiros foi consultado, mas não quis ser parte do processo. A presidente do tribunal, então, decidiu então pela anulação do caso. Em tese, cabe recurso, mas nenhuma das partes está disposta a recorrer.
Com a extinção do caso, o clube que decidir contratar Cuca vai estar assegurado juridicamente de que não há histórico de condenação do ponto de vista jurídico, mas terá de lidar com a polêmica do ponto de vista moral.
ENTENDA O CASO 'ESCÂNDALO DE BERNA'
Alex Stival, o Cuca, Henrique Arlindo Etges, Eduardo Hamester e Fernando Castoldi, então atletas do Grêmio, foram detidos sob a alegação de terem tido relações sexuais com uma garota de 13 anos sem consentimento. O caso ocorreu no hotel Metrópole, em Berna, na Suíça, em 1987, ano em que o time gaúcho fez uma excursão pela Europa. De acordo com a investigação da polícia local, a garota pediu autógrafos e camisetas para os jogadores, que, então, a levaram para dentro do quarto e abusaram dela. Ela registrou queixa na polícia horas depois sob a alegação de ter sofrido violência sexual.
Segundo publicou o Estadão em 7 de agosto de 1987, a versão do Grêmio, naquela época, era de que a jovem invadiu o quarto em que estava os atletas para pedir flâmulas, camisetas e autógrafos e depois saiu. No mesmo dia, o Estadão reportou que Eduardo e Henrique haviam admitido ter tido relação sexual com a garota, mas de forma consensual. Fernando e Cuca negavam qualquer participação. O advogado da vítima, porém, contestava a versão e afirmava que a menina reconheceu, sim, o então jogador do Grêmio como um dos que participaram do ato.
Tanto Cuca quanto os outros três colegas do Grêmio permaneceram em cárcere por 30 dias. Depois desse período, retornaram para o Brasil após darem depoimento por mais de uma vez e ser encerrada a fase de instrução do processo. Cuca, Henrique e Eduardo foram condenados em 1989, portanto dois anos depois do episódio. A Justiça suíça condenou os brasileiros a 15 meses de prisão e a pagamento de US$ 8 mil. Mas eles nunca cumpriram a pena estipulada para o crime, que prescreveu em 2004. Fernando foi condenado a três meses de prisão e ao pagamento de US$ 4 mil por ser considerado cúmplice.
Cuca foi enquadrado no antigo artigo 187 do Código Penal da Suíça, que prevê prisão de até cinco anos por envolvimento em um ato sexual com uma criança menor de 16 anos. A Justiça entendeu que não houve violência por parte de Cuca e dos outros jogadores, mas sim "coerção" e "fornicação", segundo afirmou ao Estadão uma porta-voz do Tribunal Superior de Berna, responsável por dar a sentença há 34 anos.
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