Herrera e Loco Abreu formaram dupla de ataque do Botafogo durante dois anos e meio - Divulgação
Herrera e Loco Abreu formaram dupla de ataque do Botafogo durante dois anos e meioDivulgação
Por Lance
Rio - O Ataque Mercosul é uma das duplas ofensivas mais marcantes da história recente do Botafogo. Lado a lado, Germán Herrera e Loco Abreu foram campeões cariocas em 2010 - título que completa dez anos neste sábado. Poucos meses antes da glória, em 2009, contudo, o Alvinegro lutou até a última rodada do Brasileirão contra o rebaixamento.

Em entrevista exclusiva ao LANCE!, André Silva, vice-presidente de futebol nos dois anos citados, comenta que a ordem após o final de 2009 foi montar uma equipe para se desprender dos três vice-campeonatos seguidos para o Flamengo e buscar uma nova mentalidade.

"No final do ano a gente tem certeza de que precisamos reforçar o time para não passar pela mesma coisa (lutar para não cair). Isso que é feito. Começamos a procurar peças que achamos que vão a se adequar e tirar um pouco daquela coisa dos três anos de derrota. A gente precisava de gente nova no grupo que estivesse fora daquela mentalidade. Era mais ou menos o mesmo time, então a gente tinha que enxertar algumas peças para tirar essa estigma. Acho que isso foi muito bem executado. Quem chegou veio pensando no presente e no futuro", analisou.

Desta forma, o Botafogo foi atrás de um alvo: Loco Abreu. Atacante que havia feito o gol que classificara o Uruguai para a Copa do Mundo da África do Sul meses antes, mas estava sem espaço no futebol grego. André Silva revelou que o nome do camisa 13 chegou aos seus ouvidos no dia 31 de dezembro.

"Estava deitado no sofá, na casa da minha mãe, esperando para passar o Réveillon e o Anderson Barros (diretor de futebol da época) me liga e fala: "Loco Abreu, o que você acha?". Eu pulei da cadeira. Imediatamente fui no computador e entrei no Soccer Association e vi que ele estava no Aris. Não tinha jogado muito, mas não tinha lesão. Respondi que era um nome excelente e podia começar a negociar", lembrou.

O que poucos sabem é que a diferença entre o ato de Loco Abreu ter vestido a camisa do Botafogo e a diretoria ter contratado Germán Herrera é de poucos minutos. Os dois fatos acontecerem praticamente simultaneamente. André Silva explica que o Grêmio aceitou diminuir a pedida financeira pelo argentino quando uruguaio estava sendo apresentado e Anderson Barros finalizou o trabalho do salão nobre de General Severiano.

"A gente foi apresentar o Loco com o Zagallo, camisa 13, no salão nobre. Estou caminhando para a mesa de coletiva e uma repórter me pergunta sobre o Herrera, falo que estava muito longe. O Grêmio tinha pedido um valor que a gente não tinha condição de pagar. Durante a apresentação, o Anderson me manda um SMS dizendo que o Grêmio havia reduzido a proposta para um valor que já tínhamos deixado pré-acordado. No final da entrevista, o Anderson toca no meu ombro e diz: "Herrera ok". Quando eu passo pela porta eu encontro aquela repórter e digo: "O futebol tem umas coisas que são tão rápidas e mudam de uma hora para outra". Ela não entendeu nada (risos). Contratamos o Herrera durante a apresentação do Loco Abreu", contou.
A busca por Loco Abreu
O nome de Loco Abreu chegava aos ouvidos da diretoria do Botafogo no dia 31 e a negociação seria concretizada em 3 de janeiro de 2010. A rápida negociação teve, de acordo com André, apenas um entrave: a questão do imposto. Com medo de perder a contratação do uruguaio para um rival, o dirigente teve a aprovação do Maurício Assumpção para assinar o contrato e fechar o acordo.

"O Loco tinha o empresário que era uma verdadeira ave de rapina. O Jorge (Chijane) era uma pessoa leal, honesta, mas briga pelo jogador dele até o último segundo. As negociações estavam se concretizando de acordo com o que havíamos combinado, só que chegou na questão do imposto. Eles queriam que nós pagássemos, mas na nossa cabeça quem paga é quem recebe. Isso gerou impasse. A negociação já tinha vazado, a torcida animada... O Jorge até disse que o Fluminense tinha acabado de ligar, não sei se foi uma forma de pressionar, mas na época eles eles atravessavam muitas negociações por conta da Unimed. Liguei para o Maurício (Assumpção, presidente) e a gente consegue resolver 2 horas da manhã", afirmou.

Ao ser procurado pelo Botafogo, Abreu procurou informações do clube com um uruguaio que havia passado pelo clube anos antes. Com respostas positivas, deu sinal verde para prosseguir a negociação, considerada feliz pelo dirigente.

"A negociação foi muito boa. O Loco ligou para o Castillo, os dois jogaram na Seleção Uruguaia, e ele falou da dimensão da torcida do Botafogo e que a nova diretoria tinha a ideia de pagar em dia. O Loco estudou a história do clube e ficou muito impressionado. É uma situação complexa porque eu saio de General Severiano para ir buscá-lo no aeroporto e, não sei de que forma vazou a notícia, mas quando a chego na sede já tem torcedor esperando. Estava com o Loco, o Jorge, empresário dele e mais duas pessoas que trabalhavam com o agente dele", lembrou.

Apesar de ter feito uma contratação deste tamanho, André Silva garante que o salário de Loco Abreu estava dentro da realidade financeira do Botafogo. O VP de Futebol afirmou que qualquer contratação passava pela área financeira antes de ser aprovada.

"Na época era uma folha muito enxuta, a gente tinha pego o clube em uma situação muito ruim. Tínhamos a metodologia de ver a parte técnica e a financeira. Se a técnica agradasse e o jogador topasse a gente passava a proposta para o vice financeiro, o Cláudio Good, e o diretor financeiro, o Marcelo Murad, e eles faziam a projeção de ano para ver se estava dentro do orçamento", citou.
Publicidade
OUTRAS DECLARAÇÕES DE ANDRÉ SILVA

2009
"Foi um ano que teve dois momentos distintos. Teve a final do Carioca que a gente é derrotado pelo Flamengo nos pênaltis e te dá a falsa impressão que você terá um ano relativamente tranquilo e aí quando chega no Brasileiro aquilo não acontece. Lutamos muito para nos manter, brigamos até o último jogo, contra o Palmeiras. A gente se manteve muito graças ao fechamento do grupo, a chegada do Jefferson e o próprio Jobson."

Jobson punido em 2010
"A gente fica preocupado, mas o que mais preocupa era a situação do jogador. A gente sabia das dificuldades dele e, por mais que você tenha o lado profissional, também tem o lado ser humano. É um misto de preocupações que acabam acontecendo. Mas a gente achava que com as peças que estávamos trazendo e os meninos que estavam subindo, como o Caio, conseguiríamos suprir isso."

Time com estigma de perdedor
"O time, na verdade, não era assim, mas a torcida pensava desse jeito. Eu acho que essas contratações (Loco Abreu e Herrera) serviram também para impactar a torcida. A diferença de 2009 para 2010... Quando a gente chegou na final de 2009 só haviam torcedores do Flamengo no estádio. Em 2010 a torcida do Botafogo estava até em maior número. Aquilo deu uma motivação muito maior."

O que procuraram além de Loco e Herrera
"A gente subiu o Alex e o Caio, eram jogadores que tinham sido contratados junto a uma parceria junto ao CFZ, jogaram dois anos juntos na base do Botafogo. Eles ajudam muito, principalmente o Caio. Tem a contratação do Somália, que veio muito bem, Antônio Carlos para a zaga, uma contratação difícil, e a questão da contratação do Joel. Naquela goleada para o Vasco por 6 a 0, nós tivemos uma tarde muito ruim, o Estevam (Soares) saiu e o Joel veio com o jeito dele e deu uma liga no time, comissão técnica, diretoria e o negócio mudou. Saímos do 6 a 0 achando que teríamos o pior ano da nossa vida para o título carioca e o sexto lugar no Campeonato Brasileiro."

Renovação de Jefferson, um dos destaques do título
"Gosto muito dar a glória a quem merece. O Ney Franco me pediu o Jefferson em 2009. Eu entrei em contato com ele, já estava sem contrato na Turquia e treinando em São José do Rio Preto, a cidade da esposa. Ele tinha muito interesse em voltar para o Botafogo. Fizemos um contrato escalonado, que começava um salário mais baixo mas que dava opções de aumento por performance e eles alcançou todas. Teve o aumento e a gente fez o novo contrato no final do ano seguinte. Ele gostava de jogar no Botafogo e isso acabava sendo um facilitador para as renovações. Eu acho que Jefferson e Botafogo foi um casamento muito perfeito."

Interesses de outras equipes no Caio Talismã
"Recebemos sondagens do futebol brasileiro e da Rússia, mas ele era um garoto muito bom e não passou disso. Eu procuro sempre saber como estão os meus meninos (risos), que subiram comigo. Ele está muito bem no mundo árabe, graças a Deus. Assim como o Alex, William, em Portugal, Vitinho, Dória, Gabriel... Aquela geração que subiu ajudou muito a gente e que estão bem. O Caio acabou sendo o diferencial. O Joel criou uma jogada com ele em cima dos laterais adversários no segundo tempo, quando eles estavam mais cansados, e surtia um efeito danado. Era a jogadinha que matava os outros times."

Decepção por não ter ido à Libertadores de 2011
"Fica, evidente. A gente foi para o último jogo, contra o Grêmio, com chance real de conseguir a vaga, mas a gente teve um jogo muito complicado. Tivemos uma arbitragem desastrosa, o árbitro expulsa o Joel no começo do jogo de uma forma absurda, a primeira coisa que ele falou acabou sendo expulso. O Grêmio jogou melhor, não estou tirando o mérito. Mas também teve que os jogadores do Grêmio jogaram de uma forma agressiva demais, tanto que o Caio entrou e três minutos depois sofre uma falta e sai do jogo. Volto a dizer: o Grêmio foi merecedor do resultado, mas esses dois pontos atrapalharam demais o Botafogo. Eu tinha uma real expectativa de conseguir uma vaga na Libertadores, mas acabou não acontecendo."

De 0 a 10, como avalia as contratações feitas em 2010
"Não vou dar dez porque acho que seria absurdo falar isso de mim mesmo. Vou dar oito, foi uma montagem de time que só faltou a vaga para a Libertadores. Mas já foi começando a plantar a vaga. Batemos na trave em 2011 com o finado Caio Júnior e aí se conseguiu em 2013. O próprio Oswaldo de Oliveira, eu já nem era VP de futebol, em uma generosidade muito grande, é entrevistado e diz que o trabalho começou comigo e com o Anderson Barros. Foi muito generoso. A verdade é que a gente não percebe é que o trabalho, tanto para o bem quanto para o mal, é sempre iniciado em gestões anteriores. Traz uma espinha dorsal da montagem anterior, não dá para mudar 30 jogadores de uma vez."