Maricá - É nas datas comemorativas em que os pacientes internados em um hospital se sentem mais sozinhos, principalmente em tempos de pandemia, quando não é permitido visitas. Laércio Silva Lima, de 43 anos, está há pouco mais de dois meses no Hospital Municipal Dr. Ernesto Che Guevara, no Centro de Terapia Intensiva e comemora 19 anos de casado. As equipes de saúde conseguiram preparar, junto de sua esposa, a jornalista Kissia, mesmo à distância, uma surpresa para lá de emocionante.
“Estamos juntos há 27 anos e temos três filhos: Yngrid (18 anos), Guilherme (17) e Íris (12)! Ele estar vivo é obra de Deus. Tenho muito a agradecer a todos os funcionários do Che Guevara que têm cuidado sem descanso do meu marido para que ele volte para nossa casa”, ressalta Kissia, que entregou para a equipe do Serviço Social balões, uma caixa de acrílico com flores, um cartaz e uma carta, que foi lida em voz alta ao som da canção “Trem Bala”. Todos os itens foram desinfectados antes de irem para o solário e os papéis não entraram em contato com o paciente.
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Laércio foi internado em 3 de maio, devido à gravidade da Covid-19. De acordo com a médica rotina do CTI 3, Jéssica Bicca, que acompanha o caso de perto, ele foi um paciente extremamente difícil, chegou dependente de oxigênio, conseguiram segurá-lo no respirador por cerca de duas semanas, mas as complicações só pioraram.
“Depois, ele foi entubado e não respondia bem às manobras que a gente fazia, não respondia à pronação, traqueostomizou e não ficou melhor... Enfrentou quadros infecciosos... Em vários momentos, sabíamos que estávamos sem possibilidade terapêutica, quando já tínhamos feito tudo o que podíamos. O Laércio é um paciente que temos que contar uma vitória por dia. Hoje ele está aqui saindo do CTI pela primeira vez, vendo a mulher dele pelo vídeo, entendendo o que ela está falando, conseguindo se comunicar com ela, então essa é a nossa vitória”, argumenta a médica.
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A médica continua: “Ele pediu desculpas para a esposa por não estar ao lado dela nesse momento. Esse casal têm uma relação muito bonita. Acho que eu nunca vi algo assim na vida; uma família tão próxima como a deles. E eu fico muito feliz de vê-lo feliz. Essa é a maior vitória”, fala, muito emocionada.
A secretária de Saúde, Simone Costa, reitera que nesses casos, sair do leito é ainda mais desafiador: “Ele é um paciente de internação prolongada, ganhou comorbidades em decorrência da Covid, como a hemodiálise, por isso, é um paciente de avaliação dia a dia. E estamos muito felizes de proporcionar momentos emocionantes como esse, que colaboram com a melhora do paciente, dão ânimo e esperança a ele”, avalia.
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Formado em Educação Física, o paciente é servidor público do Estado do Rio de Janeiro, e morador de Rio Bonito, deu entrada pela UPA de Inoã. Laércio entende que tudo o que vem acontecendo em sua vida foi para restabelecer sua intimidade com Deus.
“Eu morri mais de duas vezes aqui dentro. E voltei. Isso tem uma força espiritual muito grande. Isso tudo aconteceu por Deus. Eu tenho certeza que vou sair desse hospital curado. Minha esposa fez e faz tantas orações. Ela não aceitava que eu ‘fosse embora’ e eu sei que isso me trouxe de volta. Não tenho mais preocupação com o tempo. Quero sair daqui bem”, disse Laércio emocionado e com dificuldades por conta da traqueo, porém muito lúcido.
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As equipes médica, de enfermagem e psicologia também acompanharam a celebração no Solário do hospital, a céu aberto, dando suporte ao paciente. “Ações como essas mobilizam vários colaboradores e esse trabalho em conjunto fortalece o propósito desta unidade: humanizar a assistência ao paciente”, afirma a diretora geral do hospital, Michelle Silvares.
Para a psicóloga Priscilla Gavilão, os pacientes em longa hospitalização tendem a uma maior vulnerabilidade psíquica, tanto por fatores ambientais inerentes ao próprio espaço hospitalar, quanto pelo contexto potencialmente ansiogênico – alterações significativas na rotina, a privação do convívio familiar, a perda da autonomia, que desencadeia afetos negativos como medo, angústia, insegurança, desesperança.
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“Acho que a atualização desses vínculos afetivos mais fortes, com as ligações e o solário, figuram como fatores protetivos para minimizar os efeitos negativos dessa experiência. Acredito muito nas ressonâncias subjetivas que acontecem a partir dessa reconexão, dessa reapropriação do próprio corpo que o paciente experimenta, um resgate das habilidades motoras; e ainda podemos contar com a reabilitação de estar, mesmo que por minutos, fora do leito. Essa ação já fomenta a desospitalização. Não é apenas sobre imunidade, vitamina D, socialização, é uma melhora mais profunda”, comenta a psicóloga.
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