Flim 2024Foto: Bernardo Gomes

Maricá - Em sua nona edição, a Festa Literária Internacional de Maricá (FLIM) se tornou um dos maiores eventos anuais do setor no estado do Rio. Mas antes e depois da concentração num único espaço, a cidade oferece outros locais para pessoas interessadas em livros ao longo de todo ano. Dois desses pontos ficam perto de onde acontece a edição 2024, que começou na última sexta-feira (1º/11) e vai até domingo (10/11). No próprio Parque Nanci, bairro-sede deste ano, uma cafeteria dá a oportunidade ao cliente de degustar aromas e letras, enquanto no vizinho São José de Imbassaí a garagem de uma casa foi ocupada por mais de 2 mil obras com os mais diferentes assuntos.
O espaço foi criado há cerca de um ano por Isabella Nunes, de 22 anos, que já vendia os livros por meio de uma página no Instagram (onde há um catálogo disponível) e passou a disponibilizar os volumes no novo local, na Alameda Gravatá, que tem ainda um pequeno brechó de roupas e discos de vinil. Ela conta que a ideia surgiu depois de visitar outros sebos e entender o seu real propósito.
“Quando eu era só leitora tinha muito ciúmes dos meus livros, até que tive contato com os sebos e vi que era preciso fazê-los circular. Então foi nascendo em mim essa paixão por ver os livros passando de mão em mão, e não ficarem parados. Por isso, busco sempre oferecer um valor mais acessível para cada um”, explicou Isabella, ao lembrar que seu acervo dispõe de romance, poesia, sociologia, política, história e outros assuntos, com edições em português, inglês e espanhol.
No Sebo da Garagem, com o espaço vem sendo chamado, também está disponível a leitura gratuita no local, onde ainda acontecem periodicamente atividades culturais como pintura, yoga e rodas de conversa. Para quem não tem acesso às redes sociais, Isabella também leva seus livros ao público utilizando uma bicicleta que circula pelo bairro e expõe nas feiras agroecológicas da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento de Maricá. Para ela, a Flim virou um estímulo para a população da cidade passar a ler mais.
“Sou de um tempo em que só existia a feira de sebos na praça central da cidade. Eu era estudante ainda naquela época e adorava aquilo. Atualmente, observo que sempre na época da FLIM tem mais gente na rua com livros nas mãos. Acho que é essa a principal importância desse evento, a de estimular a leitura para todo mundo, a cidade passa a respirar leitura”, aponta a livreira, que tem em seu acervo o livro ‘O Paraíso São Os Outros’, obra de um dos convidados desta edição, o português Valter Hugo Mãe.
De mercadinho a café literário a duas esquinas da Flim
A poucos metros do local onde vai acontecer a Flim 2024, a cafeteria Empório Parque Nanci descobriu uma vocação natural para a literatura e se transmutou a partir de um mercadinho criado há quase três anos. A proprietária Carina Albuquerque Maia, de 41 anos, revela que o espaço – na esquina da Estrada Velha de Maricá com a Rua Canarinhos – vendia de tudo e ainda funcionava como padaria. Porém, a grande procura por café despertou a ideia de criar um espaço dedicado especialmente à bebida. Segundo ela, aos poucos o público que frequenta o estabelecimento também foi mudando e as prateleiras esvaziadas foram ocupadas por aproximadamente 200 livros que ela e o então marido tinham em casa, que passaram a ficar à disposição da clientela.
“Começou a vir gente que queria um tempo para estudar com tranquilidade e, mais tarde, também para trabalhar à distância. Tinha ainda muito espaço vazio, então trouxemos os livros para cá e, desde então, quem quiser pode pegar para ler aqui ou em casa, tendo 30 dias para devolver. Achamos que seria interessante aliar essa pausa que as pessoas se dão quando entram aqui ao prazer da leitura e ao café, que tem benefícios diretos na concentração das pessoas”, explica Carina, contando que criou uma campanha pelas redes sociais do estabelecimento para doação de livros.
Depois que assumiu o negócio – que funciona de terça à sexta das 8h às 19h, e aos domingos das 8h às 13h –, ela prepara um espaço voltado à literatura infantil, próximo à entrada. Carina conta também que já fidelizou um público que vai ao local tanto para estudo e leitura como para reuniões de trabalho.
“Conseguimos criar aqui um ambiente bem tranquilo, que abraça, propício para quem procura relaxar e ler ou mesmo conversar com tranquilidade, que vai além do propósito comercial, um refúgio mesmo. Se a pessoa quiser também trazer livros para troca, também é possível”, lembra a empresária, que também vê na Flim um momento de estímulo para que mais pessoas desenvolvam o prazer de ler.
“Acho que temos um lugar que combina muito com este evento, que está só a duas esquinas de nós. Queremos muito que quem vier à Flim também conheça nosso espaço, não somente para degustar o que oferecemos, mas também para ver que nós acreditamos que a leitura e o conhecimento podem libertar”, frisou Carina, ao revelar que mora em Maricá há cerca de nove anos, mas frequenta o Parque Nanci desde que nasceu.