Restos de um foguete em uma área residencial na capital ucraniana de Kiev AFP
"Se você tem experiência de combate na Europa e não quer ver a indecisão dos políticos, pode vir para o nosso país e se juntar a nós para defender a Europa, onde é mais necessário agora", convocou Zelensky, em um comunicado divulgado por sua assessoria de imprensa.
O exército ucraniano informou sobre o disparo de mísseis visando Kiev e anunciou que destruiu dois projéteis em voo. De acordo com o prefeito da cidade, Vitali Klitschko, esses disparos feriram três pessoas, uma delas com gravidade, em uma área residencial ao sudeste da capital.
As forças ucranianas também relataram combates contra unidades blindadas russas em duas localidades ao norte de Kiev, Dymer (45 km) e Ivankiv (80 km). Enquanto isso, as tropas russas se aproximavam da capital - deserta esta manhã, mas que normalmente tem quase três milhões de habitantes - pelo nordeste e leste, segundo o exército ucraniano.
"Esta noite, eles começaram a bombardear bairros civis. Isso nos lembra (a ofensiva nazista) de 1941", declarou o presidente ucraniano em um vídeo nas redes sociais, pronunciando esta frase em russo, para chamar a atenção dos cidadãos russos.
Ele elogiou o "heroísmo" dos ucranianos diante de uma invasão que, segundo ele, já deixou 137 mortos e 316 feridos do lado ucraniano, e garantiu que seus soldados estão fazendo "todo o possível" para defender o país.
"Eles dizem que os civis não são um alvo. Mas esta é outra mentira deles. Na realidade, eles não fazem distinção entre as áreas em que operam", disse o presidente da Ucrânia em um vídeo.
"Esta noite começaram a bombardear bairros civis. Isto nos recorda (a ofensiva nazista de) 1941", completou na mensagem, divulgada nas redes sociais.
'Decapitar o governo'
O objetivo é "decapitar o governo" da Ucrânia e substituí-lo por um favorável a Moscou, segundo essas fontes.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse que seu país quer "libertar" os ucranianos da "opressão", parecendo confirmar o objetivo de uma derrubada do poder.
Pouco depois, ele declarou que a Rússia está pronta para negociações com as autoridades ucranianas, se a Ucrânia "entregar as armas".
"Estamos prontos para negociações, a qualquer momento, assim que as Forças Armadas ucranianas ouvirem nosso chamado e entregarem suas armas", disse o chanceler.
"O presidente (Vladimir) Putin tomou a decisão por esta operação militar especial para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia para que, livres dessa opressão, os ucranianos possam escolher livremente seu futuro", afirmou.
Zelensky, por sua vez, lamentou que a Ucrânia foi "deixada sozinha" diante das forças russas. A Otan, cujos líderes se reúnem nesta sexta-feira por videoconferência, disse que não enviaria tropas.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também reiterou na quinta-feira que não enviaria soldados para a Ucrânia, mas que não cederia "uma polegada do território da Otan". O Pentágono enviará mais sete mil soldados para a Alemanha.
'Guerra total'
"A guerra é total", disse o ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian. "O presidente Putin escolheu (...) tirar a Ucrânia do mapa dos Estados (...) A segurança do presidente Zelensky é um elemento central" e Paris pode "ajudá-lo se necessário", comentou.
Ele disse estar "preocupado com o futuro", especialmente da Moldávia e da Geórgia. As duas ex-repúblicas soviéticas incluem territórios separatistas pró-russos.
Putin ameaçou os ocidentais com uma resposta "imediata" se tentarem "interferir".
Por enquanto, o campo ocidental está focado em endurecer as sanções contra a Rússia, dificultando o acesso de suas principais instituições financeiras aos mercados financeiros internacionais e restringindo drasticamente seu acesso à tecnologia.
Biden prometeu fazer de Putin "um pária no cenário internacional".
"Os líderes russos enfrentarão um isolamento sem precedentes", afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Os 27 Estados da União Europeia (UE), no entanto, não foram tão longe a ponto de excluir a Rússia do sistema bancário internacional Swift, como Kiev pediu.
"A pressão sobre a Rússia deve aumentar. Foi o que eu disse à presidente da Comissão Europeia", escreveu Zelensky no Twitter.
Depois da queda drástica na quinta-feira, as Bolsas mundiais se recuperavam nesta sexta-feira. O ambiente, porém, permanece muito incerto.
Os preços das commodities seguem altos, com o barril de Brent acima de US$ 100, embora o WTI tenha retornado para cerca de US$ 95.
A Rússia e a Ucrânia são países essenciais para o fornecimento de petróleo, gás, trigo e outras matérias-primas cruciais.
Mais de 100 mil deslocados
A UE disse estar "totalmente preparada" para recebê-los. Uma reunião dos ministros do Interior da UE está marcada para este fim de semana para discutir o "impacto humanitário e de segurança" da crise e "medidas de retaliação", segundo uma autoridade francesa.
Centenas de refugiados já chegaram à Polônia. Quase 200 pessoas passaram a noite na estação polonesa de Przemysl (sudeste), transformada em abrigo.
Entre eles, Konstantin, que não sabe quando ou se voltará à Ucrânia: "O problema na Ucrânia é enorme e provavelmente levará meses, talvez anos para resolvê-lo".
A ofensiva russa começou na madrugada de quinta-feira, depois que Vladimir Putin reconheceu na segunda-feira a independência dos territórios separatistas ucranianos no Donbas.
Para justificar a invasão, reiterou suas acusações de "genocídio" orquestrado por Kiev nas "repúblicas" separatistas pró-russas do Donbas, citou um pedido de ajuda dos separatistas e denunciou a política "agressiva" da Otan.
Mais de 150 mil soldados russos, no entanto, estavam concentrados nas fronteiras ucranianas há meses.
Protestos contra a guerra foram organizados na quinta-feira em Moscou, São Petersburgo e outras cidades russas. Mais de 1,7 mil pessoas foram presas em todo o país, segundo uma ONG, depois que as autoridades russas proibiram tais manifestações.
Outros protestos foram organizados em várias cidades ao redor do mundo.
Os Estados Unidos e a Albânia pediram uma votação no Conselho de Segurança da ONU nesta sexta às 20h (17h de Brasília) sobre um projeto de resolução que condena a invasão da Ucrânia e pede à Rússia que retire suas tropas imediatamente.
A ofensiva provocou clamor internacional, com reuniões de emergência previstas em vários países, e pronunciamentos de diversos líderes espalhados pelo mundo condenando o ataque russo à Ucrânia. Em razão da invasão, países como Estados Unidos, Reino Unido e o bloco da União Europeia anunciaram sanções econômicas contra a Rússia.
A invasão ocorreu dois dias após o governo russo reconhecer a independência de dois territórios separatistas no leste da Ucrânia - as províncias de Donetsk e Luhansk. Com os ataques, Putin pretende alcançar uma desmilitarização e a eliminação dos "nazistas", segundo o presidente russo.
Outros motivos de Putin pela invasão na Ucrânia se dão pela aproximação do país com o Ocidente, com a possibilidade do país do leste europeu fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar internacional, e da União Europeia, além da ambição de expandir o território russo para aumentar o poder de influência na região.
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