O presidente Joe Biden nomeou nesta sexta-feira, 25, a juíza Ketanji Brown Jackson para a Suprema Corte dos Estados Unidos, a primeira mulher negra da história nesta posição, mas ele ainda tem um obstáculo a superar: a confirmação do Senado.
A juíza de 51 anos, com "qualificações extraordinárias" segundo Biden, tomou a palavra, sob o olhar de outra mulher que encarna o sonho americano para as minorias: a vice-presidente Kamala Harris, de pai jamaicano e mãe indiana.
"Só espero que minha vida, minha carreira, meu amor pelo país e a Constituição, e meu compromisso com o estado de direito e os princípios sagrados sobre os quais esta nação foi construída sejam uma inspiração para as futuras gerações de americanos", declarou Jackson.
Dada a forte polarização política nos Estados Unidos, a audiência de confirmação de Jackson no Senado provavelmente será tempestuosa. De fato, alguns parlamentares já reagiram negativamente.
"A juíza Jackson foi a opção preferida dos interesses financeiros obscuros da extrema-esquerda", criticou o líder da bancada republicana no Senado, Mitch McConnell.
- Brilhante - "Ela é uma das mentes jurídicas mais brilhantes de nossa nação e será uma juíza excepcional", garantiu Biden na Casa Branca, ressaltando se tratar de um momento "histórico".
"Já é uma fonte de inspiração para mulheres negras, como minhas filhas, permitindo a elas que sonhem mais alto", aplaudiu o ex-presidente Barack Obama.
Ketanji Brown Jackson foi uma das três finalistas escolhidas de acordo com critérios rigorosos para evitar surpresas desagradáveis durante a fase de confirmação no Senado, que se anuncia tempestuosa e na qual é muito provável que os republicanos encham de perguntas a juíza escolhida pelos democratas.
O próprio Biden se envolveu na seleção, entrevistando as juízas.
A indicação à Suprema Corte, a primeira feita por Biden, não mudará o equilíbrio de poder no tribunal de nove magistrados de maioria conservadora que velam pela constitucionalidade das leis americanas e decidem sobre as questões sociais mais importantes nos Estados Unidos.
O antecessor de Biden, Donald Trump, teve a oportunidade de nomear três juízes para a Suprema Corte e ancorou a instituição no conservadorismo, possivelmente nas próximas décadas.
Jackson é juíza do Tribunal de Apelações da cidade de Washington, corte vista como um trampolim para os aspirantes a juízes da Suprema Corte. Ela conseguiu o cargo com o apoio de três senadores republicanos.
A juíza substituirá o juiz progressista Stephen Breyer, que se aposentará no final de junho.
O principal órgão judicial dos EUA será então composto por seis conservadores (incluindo uma mulher) e três progressistas, todos eles mulheres.
- 'Esquerda radical' - Ketanji Brown Jackson, mãe de duas filhas, cresceu na Flórida e é casada com um cirurgião. Ela se formou na prestigiosa Harvard University Law School. Paradoxalmente, isso a prejudica, já que os republicanos consideram que há muitos juízes no tribunal licenciados por universidades privadas como Harvard e Yale.
"A bancada Yale-Harvard da Suprema Corte continua cheia", denunciou o senador da Carolina do Sul Lindsey Graham nesta sexta-feira, sugerindo que isso cria elites desconectadas da realidade. O presidente Biden cedeu à "esquerda radical", lamentou.
Isso prenuncia debates acalorados no Senado, onde os democratas contam com uma maioria estreita. O governo Biden quer que a confirmação de Jackson ocorra antes das eleições de meio de mandato em novembro, nas quais pode sofrer um revés.
Em 232 anos de existência, a Suprema Corte dos Estados Unidos teve apenas dois juízes negros, um dos quais, Clarence Thomas, foi nomeado por George Bush pai e ainda atua.
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